Vencida a batalha imposta pelo fogo nos parques estaduais do Itacolomi, em Ouro Preto, na Região Central de Minas Gerais, e da Serra do Rola-Moça, na Grande BH, que consumiram 2,4 mil hectares de vegetação (equivalente a 2.470 campos de futebol), o desafio das autoridades do estado agora se volta para o risco que pode ser ainda maior trazido pelo mês de setembro.
Considerada uma temporada crítica, esse período de 30 dias marcado pela seca traz preocupação, pois nos últimos anos concentrou o maior percentual de área queimada em um único mês no estado.
Em setembro de 2016, as labaredas consumiram 39% de toda a vegetação destruída tanto dentro quanto no entorno das 92 áreas de conservação de Minas, e por isso a situação é de alerta.
Segundo o major Anderson Passos, comandante do Batalhão de Emergências Ambientais e Resposta a Desastres (Bemad) do Corpo de Bombeiros, o mês de setembro chega a concentrar até 50% da área queimada em um único período de seca.
Em todo o estado, já foram contratados quase todos os 288 brigadistas previstos pelo Previncêndio, força-tarefa do governo de Minas para combater os focos no período seco, e a estrutura conta ainda com a possibilidade de até 10 aviões e mais 10 helicópteros, entre aeronaves que são da Polícia Militar, bombeiros e Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad).
Já os bombeiros vão intensificar a estratégia que vem sendo usada nos parques estaduais do Rola-Moça e Serra Verde, duas áreas de conservação onde as queimadas são recorrentes ano após ano, pelo fato de estarem em áreas urbanas. No Rola-Moça, a presença de alunos da Academia dos Bombeiros está sendo ampliada, e no Serra Verde os treinamentos serão constantes com militares do setor administrativo.
Na temporada seca do ano passado, mais de 23 mil hectares de vegetação foram destruídos pelas chamas, que se alastraram pelas unidades de conservação mineiras, segundo a Semad.
Mais de 9 mil hectares foram consumidos apenas em setembro, o que equivale a 39% da área queimada dentro e no entorno das unidades de conservação. Em nenhum mês o fogo destruiu tanta área verde quanto em setembro. A situação se repetiu em 2015, quando setembro liderou com o mesmo percentual (39%), e por isso a preocupação é grande.
A boa notícia é que a área queimada até agosto em 2017 está 77% menor do que a média para o mesmo período dos últimos cinco anos, segundo a Semad. De janeiro a agosto, o fogo consumiu, em média, 9,1 mil hectares dentro e no entorno das unidades de conservação mineiras por ano entre 2012 e 2016. De janeiro até 30 de agosto deste ano foram 2,9 mil hectares destruídos.
Nas últimas duas ocorrências de maior destaque nas áreas verdes de Minas, o Instituto Estadual de Florestas (IEF) já contabilizou a área queimada, tanto no Itacolomi quanto no Rola-Moça. A avaliação feita após o incêndio no Itacolomi apontou 1.026 hectares destruídos pelo fogo, sendo 700 na parte interna e 326 no entorno, área que também é chamada de zona de amortecimento. Já no Rola-Moça, a análise do IEF apontou 1.451,8 hectares queimados, sendo 846,9 no entorno e 604,9 na parte interna do parque.
Militares do setor administrativo do Corpo de Bombeiros estão de prontidão, segundo o major Anderson Passos. O objetivo é deixar equipes desse setor previamente mobilizadas para fazer deslocamento mais pontual e mais ágil em caso de incêndios.
Na Cidade Administrativa, sede do governo estadual, 212 militares que atuam em funções fora do setor operacional foram divididos em equipes de 18 pessoas e estão participando de treinamentos no Parque Estadual Serra Verde, unidade na Região de Venda Nova, em BH, que pega fogo com frequência.
Já o Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, que fica na Grande BH, tem sido visitado frequentemente pelos 775 alunos da Academia de Bombeiros, que estão recebendo aulas no local. “A presença dos militares nesses locais inibe a atuação de incendiários e permite ação mais ágil em caso de ocorrências”, diz o major.
A ocupação das áreas de conservação é a estratégia que também é chancelada pelo Previncêndio por meio da contratação temporária prevista de 288 brigadistas. Para Rodrigo Belo, que é diretor do Previncêndio, essa é uma medida muito importante, mas, pelo fato de haver 2 milhões de hectares de áreas de conservação em Minas, fica inviável o estado fazer a contratação de pessoas que ocupem todo esse espaço.
“É importante que a gente não tenha as ocorrências e isso está na mão da sociedade. Esse hábito de colocar fogo em qualquer lugar tem que mudar”, diz Rodrigo Belo.
Além da contratação de 288 brigadistas, o Previncêndio mantém um contrato com a possibilidade de uso de até 10 aviões simultâneos do modelo air-tractor, com capacidade para derramar até 3 mil litros de água sobre uma área que está se incendiando.
Quatro aeronaves desse tipo foram usadas durante o último incêndio no Rola-Moça. Outros 10 helicópteros, sendo seis da PM, dois dos bombeiros e dois da Semad, também podem ser usados. As aeronaves da PM e dos bombeiros têm outras atribuições e dependem da disponibilidade naquele momento. Dois helicópteros da Polícia Civil não têm condições de transportar água, mas podem levar equipes em atendimento a incêndios.
Rodrigo Belo ainda destaca que o mês de setembro é considerado de preocupação, assim como outubro, já que normalmente as chuvas aparecem mais para o fim do mês e por isso também é um período considerado crítico.
Ele explica que essa temporada é mais complicada devido às condições climáticas, que facilitam o aumento de proporção dos focos.
“Toda vez que tivermos temperatura alta e umidade baixa a gente vai ter condições muito propícias para que as ocorrências se desenvolvam com maior destaque. A grande dificuldade é quando a gente tem múltiplas ocorrências, que demandam muitos recursos”, afirma Rodrigo Belo.