Após ser deixado para trás na escola durante um passeio dos colegas de classe ao cinema, o pequeno João Pedro, de 9 anos, que tem paralisia cerebral, ganhou de presente uma sessão do mesmo entretenimento na terça-feira, em um shopping da Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Mas o que devia ser um momento de alegria acabou revelando outros problemas a Adriane Cruz, mãe do menino.
Leia Mais
Menino com deficiência é deixado em escola de BH enquanto turma vai ao cinemaAgressão contra menino autista em escola de BH é tema de audiência na ALMGPolícia começa a ouvir testemunhas de caso de estudante autista agredido em escola de BHMãe denuncia maus-tratos ao filho autista em escola de Belo HorizonteEscola que teve muro derrubado em Montes Claros não terá aulas nesta semanaPolícia Federal desmancha quadrilha que aplicava golpes no INSSO caso de João Pedro ganhou as redes sociais no fim de agosto, mas a repercussão aumentou na semana passada. Adriane, que é presidente da Associação Mães que Informam (AMI) – que atende pessoas com deficiência e suas famílias – publicou um desabafo em sua conta no Facebook sobre a situação da criança.
“Hoje, vendo meu filho chegar da escola, não tive como não chorar. Toda a turminha da escola foi ao cinema, meu filho ficou da 7h às 11h20 circulando no corredor da escola com o auxiliar de apoio dele”, disse a mãe.
Ontem, ela contou à reportagem do Estado de Minas que uma rede de cinemas de Belo Horizonte e uma distribuidora de filmes do Rio de Janeiro souberam da história e ofereceram uma sessão de cinema a João Pedro e seus colegas de sala da Escola Municipal Monsenhor João Rodrigues de Oliveira, que fica no Bairro São Geraldo, Região Leste de Belo Horizonte. Assim, na terça-feira, o grupo foi de ônibus ao Shopping Boulevard assistir a Emoji: o filme. “Pra mim foi muito bom o João ter ido no cinema porque mostrei para a escola que ele pode”, diz Adriane, grata aos organizadores.
No entanto, durante o passeio a mãe percebeu que falta um trabalho da escola que facilite a criação de vínculos entre seu filho e os outros alunos. “Nenhum menino deu bom-dia para ele. Duas meninas chegaram perto da gente e agradeceram por terem ido ao cinema e uma delas disse que gosta de segurar a mão dele. Nesse comportamento, eu vi mais uma reação típica de mulher, um comportamento materno, aquele carinho que as meninas têm com uma bonequinha, de algo que veem e querem cuidar. Não vi vínculo de amigo”, comentou Adriane.
Vaivém e despreparo
Desde os 4 meses de vida João Pedro frequenta escolas públicas inclusivas e sempre houve problemas, resultando em trocas de unidade. A criança está na Escola Municipal Monsenhor João Rodrigues de Oliveira desde maio. Adriana Cruz precisou tirar o filho da escola anterior porque os colegas reclamavam que o menino gritava na sala de aula, o que prejudicava a aprendizagem deles. Mesmo com as dificuldades, ela diz que João Pedro era incluído na vida social das outras instituições, fazia amizade com outras crianças e tinha uma participação mais ativa. Ela cobra a intermediação dos monitores, auxiliares de apoio, professores e gestores das escolas que, segundo ela, não recebem capacitação adequada para atender alunos com deficiência. “Até técnicos que se sentem frustrados porque não sabem o que fazer”, afirma.
“Na vida social do João, eu sou o auxiliar de apoio dele e digo para as pessoas que podem tocá-lo, conversar com ele. João não responde com palavras, mas ele vai rir, fazer cara de que não gostou”, explica. Adriane conta que tenta evitar que as pessoas vejam o filho com dó.
No dia 19, representantes da Associação Mineira de Reabilitação (AMR) vão até a escola fazer o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) de João Pedro. O documento contém estratégias para o desenvolvimento do aluno com deficiência. Adriana diz que, desde o início da vida escolar do filho, já foram feitos nove documentos e nenhum foi aplicado.
A Secretaria Municipal de Educação (Smed) de Belo Horizonte informou, por meio de nota, que a Diretoria da Educação Inclusiva e Diversidades determinou, após o fato ocorrido na Escola Municipal Monsenhor João Rodrigues de Oliveira, um levantamento das ações de inclusão da escola. “Representantes da Secretaria estão fazendo uma avaliação criteriosa e um diagnóstico de todos os procedimentos adotados pela unidade escolar”, afirma o texto. Caso sejam verificadas inconsistências no trabalho da unidade, o órgão afirma que as correções serão feitas.
A direção da escola informou que “o aluno participa de atividades específicas, que buscam promover o seu desenvolvimento e a sua integração com o restante da turma e que todas as atividades propostas para o estudante são formatadas em conjunto com profissionais do Atendimento Escolar Especializado (AEE).” Além disso, segundo a Secretaria, o aluno tem o acompanhamento de um monitor de apoio à inclusão durante todo o tempo que permanece no local.
Atualmente, as escolas municipais atendem a cerca de 5 mil alunos com deficiência ..