Jornal Estado de Minas

Devastação causada por incêndios florestais em Minas é a maior desde 2011

- Foto: Arte EMNão é apenas nas áreas de proteção ambientais que o estado de Minas Gerais tem ardido nesta época de estiagem, mas em diversos pontos do território. E de forma tão intensa que o número de focos ativos de incêndio detectados pelos satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) deste ano (6.714), já supera em 0,5% todos os focos registrados no ano passado inteiro (6.682). Para se ter ideia, o ritmo de queimadas diárias neste ano chegou a uma razão de 26 por dia, superando em 44% a quantidade de 2016, que fechou em 18 a cada 24 horas. Só no auge da temporada de incêndios, que é justamente entre agosto e setembro, a devastação é a maior desde 2011, mais evidente nas áreas protegidas, como o Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, que neste ano registrou 65 focos de incêndio.

Ontem, três focos de incêndio obrigaram os bombeiros e brigadistas que atuam na região de Brumadinho a se desdobrar para impedir que as chamas consumissem os parques estaduais do Rola-Moça e da Serra da Calçada, chegando também a se aproximar perigosamente de residências nessa região, como ocorreu no sábado. As linhas de fogo cortaram partes habitadas dessa região da Grande BH e obrigaram o empenho de um contingente de 106 combatentes, dois aviões e um helicóptero, desde as 5h.

De acordo com o major Anderson Passos, do Corpo de Bombeiros, os focos se distribuíram na área próxima à Cachoeira da Ostra, no distrito de Casa Branca, outro nas imediações de condomínios nesse distrito e próximo ao mirante da rodovia que faz a ligação com o Parque do Rola-Moça. Jipeiros auxiliaram na logística, ajudando com alimentos, água, insumos e equipes a chegar até os pontos de difícil acesso. “A prioridade no combate em terra é para as proximidades com residências. Ainda que não tenham chamas, a fumaça pode trazer risco à saúde das pessoas”, afirma o oficial dos bombeiros.
Até a estrada de terra que faz acesso a Ibirité chegou a ficar completamente encoberta pela fumaça do incêndio, trazendo risco aos veículos que circulavam por lá.

Devido ao perigo que os ventos traziam, tornando imprevisível a direção das chamas, a recomendação dos bombeiros era para que as pessoas que precisavam ir ao parque não deixassem as estradas. “As pessoas que precisem acessar o parque é desaconselhável que o frequentem fora das estradas, pois a direção dos ventos pode mudar e tornar a situação perigosa”, diz o major Passos.

Só na Grande BH, neste ano já queimaram o Parque Estadual Serra Verde, o segundo maior de Belo Horizonte – atrás apenas do Mangabeiras – e que perdeu sete hectares (ha) para as chamas. Em Pedro Leopoldo, o fogo arrasou a Reserva de Vida Silvestre Serra das Aroeiras. Na Região Leste de BH, um incêndio ocorrido no dia 10, na Mata do Taquaril, parte da Mata da Baleia, levou perigo a linhas de transmissão de energia e aos pacientes do Hospital da Baleia.

Incêndios se alastram também no interior


O interior do estado também tem sofrido com os incêndios florestais que ardem como há seis anos não se vê no estado. No último dia 21, as chamas atingiram um extenso canavial às margens da MG-427, entre Uberaba e Água Cumprida, no Triângulo Mineiro, e foi considerado o maior na região deste ano. A estimativa realizada pelo Corpo de Bombeiros foi de que ao menos 3 mil hectares de vegetação foram consumidos. Uma grande operação de combate precisou ser armada, contando com helicóptero e 16 caminhões-pipa.

Motoristas de carros e caminhões precisaram de auxílio para escapar do fogo.

Em Ouro Preto, o Pico do Itacolomi, um dos marcos da região, teve 10 hectares de sua área mais próxima à rodovia que leva de Ouro Preto a Mariana reduzida a cinzas por um incêndio que durou de 28 a 30 de agosto. Trabalharam no combate 40 bombeiros e 20 brigadistas, com ajuda de dois helicópteros e dois aviões. Na Região Central de Minas Gerais, outros dois grandes incêndios mobilizaram bombeiros e brigadistas. No Parque Estadual do Rio Doce, duas linhas de fogo se alastraram em 29 de agosto. Na porção do parque próximo a cidade de Dionísio, 40 brigadistas atuaram no combate. O outro foco foi em Bom Jesus do Galho, combatido por 20 homens. No mesmo dia ardeu o Parque Estadual Serra do Cabral, em Joaquim Felício. As chamas foram extintas depois de trabalho intenso dos bombeiros e brigadistas.

COPASA Uma das grandes preocupações com as chamas que consumiram mais de 600 hectares do Parque Estadual da Serra do Rola-Moça foram a grande quantidade de nascentes atingidas e que podem perder parte de seu fluxo de água e até ser entupidas pelas cinzas ou ter problemas futuros de recargas devido à remoção da cobertura vegetal.
Boa parte desses cursos d’água abastecem o Manancial Catarina, uma barragem situada em Nova Lima, dentro do parque, e que fornece água para 25 mil pessoas de parte do Bairro Mineirão, na Região do Barreiro, Condomínio Retiro das Pedras (Brumadinho) e Bairro Jardim Canadá (Nova Lima). Contudo, a Copasa tranquiliza os consumidores, informando não haver perspectiva de falta de água, uma vez que o reservatório está com 95% de sua capacidade, acima dos 90% que apresentava na mesma ápoca do ano passado.

“Sobre os incêndios na região, a Copasa participa das ações com as brigadas de incêndio do Corpo de Bombeiros e órgãos ambientais de forma corretiva, com a construção de aceiros e monitoramento com a manutenção de vigilância da empresa durante 24 horas por dia em todas as áreas preservadas”, informa a empresa por meio de nota.

Efeitos devastadores


Veja os principais impactos que as queimadas trazem para áreas naturais

  • Fogo reduz a vazão e chega a secar nascentes
  • A remoção da cobertura vegetal expõe o solo a erosões
  • Solos sem matas não absorvem a chuva que recarrega nascentes para as épocas de seca
  • Microfauna é dizimada numa camada de seis a 15 centímetros do solo
  • Nitrogênio e outros nutrientes acabam vaporizados
  • Morte de insetos, répteis e anfíbios
  • Empecilho à polinização das plantas
  • Animais que conseguem fugir entram em competição por espaço para caçar, procriar e se abrigar


Fonte: IEF-MG

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