A 45 dias de a maior tragédia socioambiental do Brasil completar dois anos, o ritmo de reparação dos estragos produzidos pelo rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, é considerado aquém das necessidades pela comissão dos moradores de comunidades atingidas. Ontem, um grupo de representantes das comunidades de Bento Rodrigues, Paracatu de Cima e Paracatu de Baixo cobrou uma série de ações da mineradora Samarco, proprietária da barragem que vazou em 5 de novembro de 2015. Entre as reivindicações estão a inclusão de pessoas na lista dos atingidos, um novo cadastro para indenizações, início das obras das novas comunidades para reassentamento das pessoas dentro do prazo acertado, que foi o primeiro semestre de 2017. Em sua batalha por afirmação e dignidade, os atingidos cobram inclusive não serem referidos por termos como “impactados” por entenderem que isso tira a importância da tragédia. Contudo, em Nova York, o ministro das Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, referiu-se ontem ao rompimento como se fosse um “acidente” e uma “fatalidade” sem mencionar a responsabilidade da empresa Samarco. “Aquilo (o desastre) tem que ser encarado como foi, de fato foi um acidente. Nós temos que trabalhar para que outros não ocorram, mas como uma fatalidade, você não tem controle sobre isso”, disse, despertando a indignação dos atingidos.
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Os atingidos pedem, ainda, a revisão do cadastro de atingidos, pois o que foi criado pelo Termo de Transação de Ajustamento de Conduta (TTAC) não é reconhecido – como o próprio TTAC.
SEM ATRASOS Por meio de nota, a Fundação Renova, entidade criada pelo Comitê Interfederativo (CIF) para implementar e gerir os programas de reparação, restauração e reconstrução das regiões impactadas pelo rompimento da barragem, informou que está em diálogo com os proprietários das 40 moradias rurais que receberam notificação preventiva da defesa civil em razão do acidente, visando ampliar o conhecimento da situação e avaliar a inclusão nos programas. A fundação disse que incluiu 27 imóveis rurais em seus programas.
Já em relação às 100 famílias em zona de impacto em caso de rompimento da Barragem de Germano, que querem se mudar, a fundação disse que a área de abrangência é de responsabilidade da Samarco. A Renova descartou que haja atraso nas obras de reassentamento e afirmou que o cronograma está mantido.
“Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta (TTAC) prevê a entrega da obra dos reassentamentos no primeiro semestre de 2019. O projeto está em fase de adequação com acompanhamento de representantes da Comissão de Moradores com sua assessoria (Cáritas), integrantes da Câmara Técnica de Infraestrutura (dentre os quais se encontram Semad e Secir) e a Prefeitura de Mariana.
CADASTRO A entidade informou ainda que, em Mariana, o Cadastro Integrado está sendo revisto pela Comissão dos Atingidos de Mariana, em conjunto com a assessoria técnica desse grupo, e mediação do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). “Até setembro, 75% das solicitações foram acatadas para a modificação do cadastro. Discussões finais estão em curso para reduzir a incompatibilidade verificada em 25% das questões e se chegar ao consenso”, pontuou.
De acordo com a fundação, na região há 514 famílias, ou 1.611 pessoas, para as quais a referência para as ações de reparação e indenização da Renova é o cadastro emergencial, feito pela Defesa Civil logo após o rompimento da barragem de Fundão, em novembro de 2015. “O Cadastro Integrado foi desenvolvido com a participação de instituições públicas, como do Ministério do Desenvolvimento Social, do Ministério da Pesca, da Casa Civil e do CAD Único”, justificou.
Já a Samarco, por meio de nota, minimizou o risco de um novo rompimento da barragem. “As estruturas do Complexo de Germano estão estáveis, são monitoradas 24 horas e fiscalizadas pelos órgãos públicos e por auditoria independente. O Centro de Monitoramento e Inspeção da Samarco conta com cerca de 480 equipamentos de última geração, tais como estação robótica e meteorológica, radares de precisão milimétrica, laser scanner, câmeras, drones, piezômetros e acelerômetros”, diz o texto..