São Francisco – Ainda é possível aumentar a vazão do Rio São Francisco, diante do assoreamento avançado e das estiagens severas? Embora estudo elaborado pelo Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos e pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) proponha como medidas a transposição de águas de outros manaciais para o Velho Chico e a construção de mais represas, a solução passa também por iniciativas pequenas e que precisam ser disseminadas por toda a bacia, como a recuperação de nascentes, veredas e de pequenos córregos. É uma espécie de “trabalho de formiguinha”, que precisa ser multiplicado, já que são exatamente as milhares de pequenas nascentes e cursos d’água que ajudam a garantir o volume do canal principal.
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Assoreamento sufoca berçário de peixes no Rio São FranciscoEstudo revela que leito do Rio São Francisco recebe 23 milhões de toneladas de sedimentos por anoRetirada de água para abastecimento e irrigação ajuda a secar o Rio São FranciscoQuadrilha que explodia caixas eletrônicos é presa em Nova SerranaO técnico Márcio Passos Ribeiro, da Secretaria de Meio Ambiente de São Francisco, destaca que, com a implantação das ações, após um período de quatro anos nascentes ou córregos antes considerados mortos podem voltar a ter água. O exemplo dessa recuperação está na Vereda da Prata, na região de Bom Jardim, no município de São Francisco.
Márcio conta que há alguns anos, a vereda, que alimenta um afluente do São Francisco, secou completamente como consequência de uma série de ações humanas, incluindo o desmatamento do cerrado em suas proximidades, o pisoteio do gado e a abertura de estradas vicinais. A partir de uma ação conjunta, que envolveu também a comunidade, a vereda foi cercada e houve até a suspensão de atividade produtiva perto dela.
A equipe do Estado de Minas foi até o local, onde é possível conferir o renascimento da nascente da Vereda da Prata. “Realmente, estava tudo seco.
PROJETOS OFICIAIS A Codevasf, cujos técnicos participaram do diagnóstico que quantificou o soterramento do Rio São Francisco, informou que vem adotando uma “série de intervenções para conter os processos erosivos, promover a revitalização e proteger o meio ambiente na Bacia do Rio São Francisco”. “São ações de recuperação hidroambiental que buscam intensificar a infiltração da água no solo e reduzir o carreamento de sedimentos por meio de enxurradas”, informa, acrescentando que os investimentos oficiais em ações na bacia somam R$ 68 milhões.
De acordo com a Codevasf, as ações incluem ainda a implantação de terraços, bacias de captação de águas pluviais (conhecidas como barraginhas) e estradas ecológicas, além da contenção e da estabilização de voçorocas, o reflorestamento e a proteção de matas ciliares e topos de morros. “Associado a isso, há o esforço continuado de promover educação ambiental. Esses trabalhos são realizados diretamente pela Codevasf e também em parcerias com estados, prefeituras, comitês de bacias e sociedade civil”.
Ainda segundo o órgão, o trabalho de recuperação ambiental e controle erosivo é feito com o uso de diferentes métodos. Entre eles estão revegetação, cercamento e proteção de nascentes, matas ciliares e topos de morro, readequação de estradas vicinais e estabilização de margens, entre outros. “Uma das principais finalidades dessas iniciativas é captar e acumular águas pluviais, aumentando sua infiltração no solo e promovendo o abastecimento dos lençóis freáticos”, enfatiza.
O enterro de um santo
O Estado de Minas publica desde ontem a série “São Francisco soterrado”, que mostra o processo de assoreamento que vem matando, lenta e continuamente, o chamado Rio da Integração Nacional. A primeira reportagem revelou resultados de estudo inédito feito em conjunto pelo Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos e pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), que mapeou as causas do processo. Segundo o trabalho, a cada ano o leito principal vem sendo entupido com nada menos que 23 milhões de toneladas de sedimentos, a maior parte reflexo de ações humanas na bacia, como a remoção da vegetação nativa, a urbanização e a retirada de água para consumo e irrigação..