Jornal Estado de Minas

Réplica de abadia italiana da Idade Média será inaugurada hoje em Barbacena

Doze colunas, onde há o capitel, uma peça decorativa, são uma das particularidades da estrutura da abadia reproduzida - Foto: Paulo Henrique Lobato/EM/D.A PressBarbacena – A comunidade católica em Barbacena, na Região Central de Minas, está em festa. Uma réplica da Abadia de São Egídio, erguida na Itália no ano de 1060, será inaugurada hoje na fazenda São Miguel, sede da Sociedade São Miguel Arcanjo, projeto social fundado pelo italiano Marco Roberto Bertoli e que acolhe 450 crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. A missa de bênção será conduzida pelo arcebispo de Mariana, dom Geraldo Lyrio Rocha, em cerimônia restrita. No domingo, o templo será aberto ao público.


A réplica no estado surgiu da fé do europeu e de uma promessa ao pai: “Há 17 anos, adoentado, ele me disse suas últimas palavras: ‘Meu filho, construa uma igreja’”. Bertoli, então, decidiu levantar em Barbacena uma igreja idêntica à Abadia de São Egídio, que fica na comunidade de Fontanella, na cidade de Sotto il Monte, Norte da Itália. “Há um misticismo naquela igreja. Vivi uma espiritualidade muito forte no templo quando morei em minha terra”.

Cumprir a promessa não foi tarefa fácil. A obra, que recebeu ontem os últimos retoques, começou há 10 anos.
A primeira dificuldade foi localizar, no Vaticano, a planta da basílica, erguida com pedras. Depois, conseguir a mesma técnica de lapidação usada há 1 mil anos. Também quantidade de pedras suficiente para tirar o projeto do papel: 200 caminhões. “Deus me deu o dom da ignorância, pois se eu soubesse o quanto seria difícil construí-la, dificilmente teria começado”.

A réplica tem estilo romano. “Toda igreja neste estilo tem uma característica que é a seguinte: a pouca luz que entra no ambiente ilumina (a imagem) de Jesus Cristo. Por isso, a porta é voltada para a nascente do sol”, explicou Bertoli, acrescentando que outra particularidade são as 12 colunas como parte da estrutura.

Em cada uma há o capitel, uma peça decorativa. No alto delas, desenhos de papiro para expressar a sabedoria.
Na inferior, folhas de acanto, que traduzem os espinhos da vida. “A mensagem é a seguinte: somente tem sabedoria quem vive os espinhos da vida”, contou, emocionado, o italiano.

Bertoli nasceu numa família bastante religiosa. Os pais ajudavam financeiramente padres da Europa em missões pelo Brasil. Aos 21 anos, o fundador do projeto social enfrentou um conflito consigo mesmo: permanecer na confortável vida que tinha na terra natal ou se dedicar a ajudar ao próximo. Ele optou por fomentar a caridade e embarcou para o Brasil.

Não dominava o idioma português quando cruzou o Atlântico. Foi parar em Fortaleza (CE). Numa viagem de ônibus a São Paulo, contudo, seu destino aportou em Minas Gerais. O coletivo teve problema mecânico perto de Juiz de Fora, na Zona da Mata, e o religioso se apaixonou pela região.
Peregrinou em busca de apoio para fundar o projeto social.

Não foi fácil. Bateu de porta em porta até conseguir uma ajuda do estado, que cedeu um imóvel em Barbacena. Devoto do arcanjo São Miguel, ele teve certeza de que estava no lugar certo ao decidir comprar um pedaço de terra para ampliar o projeto social. “Sabe em qual data o contrato (de compra do imóvel) foi assinado? Em 29 de setembro, dia de São Miguel. Sabe como a fazenda se chamava? São Miguel. Você acha que é coincidência?”.

A sociedade foi fundada em 2000. Dezessete anos depois, a réplica da basílica será inaugurada, hoje, com apresentação do coral formado por crianças e adolescentes da Sociedade. No repertório, oito canções em latim. O templo, embora na sede da fazenda, será aberto ao público. Fica no meio de uma floresta de eucaliptos.

No interior da igreja, cópias assinadas pelos artistas Sérgio Prata e Franciscano Marcelo Dos Santos de quatro importantes pinturas do velho continente: Imaculada Conceição, assinada em 1767 por Gianbattista Tiepolo; A divina pastora, de Illiam Adolphe Bouguereau (1893); São Miguel Arcanjo, de Loverini (1891) e Jesus Misericordioso, de Eugênio Kazimirowski (1934).
As obras originais não estão expostas na basílica italiana. Foram reproduzidas na área rural de Barbacena, segundo o religioso, como forma de oferecer cultura e fé à comunidade local.


* O repórter viajou a convite da Sociedade São Miguel Arcanjo

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