Jornal Estado de Minas

Com maior crescimento populacional de Minas, Nova Serrana vira polo de trabalhadores

Lana comemora o sucesso, mas sentiu o peso de ter sido assaltada - Foto: Beto Novaes/EM/DA PressNova Serrana – Lana Sobrinho, de 33 anos, deixou o Vale do Jequitinhonha e se mandou para Nova Serrana em busca de uma vida melhor. Pelo mesmo motivo, Elias Alves Nunes, de 42, trocou o interior de São Paulo pela cidade do Centro-Oeste mineiro. Paulo Rocha, de 64, também foi para lá. Saiu do Vale do Rio Doce. Assim como o trio, uma multidão migrou para Nova Serrana. Ao ponto de a prefeitura estimar que cerca de 75% da população veio de fora.


A cidade registra, há anos, o maior crescimento populacional entre os 853 municípios mineiros. Resultado: Nova Serrana é a capital dos sotaques.

Há gente do Nordeste do país, do Sul brasileiro e até do exterior, como conta o taxista Elias: “Um amigo nosso, também chofer de praça, é português”.

O motivo da explosão demográfica não é segredo para ninguém: a pujança econômica garantida pelo polo calçadista não para de atrair gente de outras bandas. Em 2000, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população de lá era de 37.447 pessoas.

Este ano alcançou 94.681 – alta de 153%. De 2016 para 2017, o aumento foi de 2,54%, de 92.332 pessoas para 94.681 homens e mulheres. O percentual pode até ser pequeno, mas Nova Serrana foi a única cidade do estado a superar os 2% de aumento num acumulado de 12 meses. Mas vale um parêntese: a população flutuante de lá também é grande, pois muitos moradores de cidades vizinhas trabalham no município.

Eles reforçam o coro dos forasteiros: todos os caminhos levam a Nova Serrana – o nome da cidade é uma homenagem ao apelido de Pitangui, a Velha Serrana, do qual o município se emancipou, em 1954, quando deixou de ser o distrito de Cercado. Desde então, quem nasce lá é nova-serranense. Mas Nova Serrana é a cidade de todos os sotaques.

Elias trocou o interior de São Paulo pela cidade mineira e se queixa do trânsito - Foto: Beto Novaes/EM/DA PressLana, que deixou o Vale do Jequitinhonha, se mandou para lá no fim da década de 1990.
Deixou Novo Cruzeiro, no Jequitinhonha, terra castigada por longas estiagens e carência de mercado formal de trabalho. A região também não conta com ampla oferta de cursos superior. Lana, partiu da terra natal, queria trabalhar e estudar. Como ainda diz, “vencer na vida”.

Ela venceu: foi coladeira em chão de fábrica de calçado e, sempre atenta às novas oportunidades, cresceu no mercado e montou uma empresa em sociedade, a Nova Cal, que oferece coloridos pares. “Também apostamos nas vendas virtuais (www.nishoes.com.br)”, conta Lana.

Elias, o taxista, levou para a cidade o sotaque típico do interior de São Paulo. “Deixei São José dos Campos há 19 anos. Quando cheguei aqui, a população era de 23 mil pessoas. Atualmente são quase 95 mil.
Aqui só não trabalha quem não quer”. Paulo Rocha, também chofer de praça, concorda com o amigo. Ele saiu de Inhapim, no Vale do Rio Doce, e foi para BH.

- Foto: Arte EMFicou na capital mineira por alguns anos até decidir conhecer pessoalmente a fama de Nova Serrana. Lá se vão 19 anos quando pisou naquela terra pela primeira vez. Aos 64 anos, Paulo Rocha não pensa em deixar o município, onde quatro filhos estão empregados. “É uma cidade com boa economia”.

Seu Vítor Ricardo de Oliveira é outro que veio de fora. Chegou de Perdigão (MG), em 1969, quando a cidade era bem diferente da atual: “Como se toda Nova Serrana fosse o que hoje é apenas o Centro. Cresceu muito, sobretudo nos últimos anos. O motivo? Aqui não falta emprego”.

O PREÇO DO SUCESSO
Tudo na vida tem um preço. A explosão demográfica em Nova Serrana cobra um custo alto aos moradores de bem: o crescimento da violência e o trânsito caótico são apenas dois dos exemplos.
Dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) mostram que o total de crimes violentos saltou 47% no acumulado entre os sete primeiros meses de 2016 (901 ocorrências) e o mesmo período de 2017 (1.326 registros).

O assunto é tema de várias conversas nas ruas da cidade. Lana, a mulher que deixou o Vale do Jequitinhonha para ser coladeira em fábrica de sapato e hoje é sócia numa loja de calçados, lamenta o salto na violência.

 

“Minha casa foi assaltada. Fizeram minha mãe e meu tio reféns e levaram o aparelho de televisão, dois computadores, um celular e o carro. Este é o ponto negativo na cidade”, lamentou a empresária. Seu Vítor Ricardo, que deixou Perdigão, também foi vítima de bandidos: “Entraram em minha residência e levaram talões de cheque. Passaram no mercado e tive dor de cabeça para sustá-los”.

A explosão demográfica ainda trouxe problemas no trânsito, segundo taxistas forasteiros. Elias, por exemplo, conta que, dependendo do horário, leva mais de 30 minutos para percorrer uma distância que, normalmente, é feita em menos de 10 minutos. “A frota aqui disparou”, reforçou.

O chofer tem razão: aumentou 73,8%, conforme balanço do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) em uma década. Passou de 15.824 veículos, em junho de 2007, para 43.332 unidades, em igual mês de 2017. “E trouxe outro problema: o transporte clandestino.

É difícil concorrer com quem trabalha na ilegalidade, pois cobra um preço bem abaixo do nosso, porque não paga impostos”.



LIXÃO Uma população grande gera grande quantidade de lixo. No aterro da cidade, um grupo de homens e mulheres ganha a vida garimpando material reciclável, mas expondo a saúde ao risco de doenças. Eles frequentam o local, entretanto, porque não desejam ser empregados.

Tiago Henrique da Silva, que mora na cidade vizinha de São Gonçalo do Pará, vai ao lixão, diariamente, há cinco anos. “Nasci em Contagem e me casei. Minha esposa é do município vizinho e decidimos vir para cá. Quero trabalhar para mim mesmo. Consigo de R$ 1,5 mil a R$ 1,8 mil por mês. É uma quantia boa”.

Um amigo dele, que prefere o anonimato, está no lixão há duas décadas. “Morei com meus pais no lixão, mas era em outro local. Prefiro trabalhar aqui do que em fábrica de calçados, pois aqui eu faço o meu salário e o  

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