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Criança dada como morta em tragédia de Janaúba é reanimada pelos médicosSaiba como vigia agiu em creche matando crianças e professora queimadas em Janaúba'Ela foi uma verdadeira heroína', diz prefeito sobre professora morta em tragédia de JanaúbaReportagem do EM entra na sala de creche em Janaúba e mostra cenário de destruiçãoVelórios das vítimas da tragédia começam em JanaúbaVigia mata crianças dentro de creche em JanaúbaVídeo mostra voluntários tentando resgatar crianças em creche de JanaúbaDor e comoção marcam primeiros enterros de crianças que morreram queimadas em creche de JanaúbaMulher bate em poste e morre carbonizada na Via Expressa, em BHDistúrbio psiquiátrico e obsessão: saiba quem era o vigia que matou crianças em JanaúbaRecuperação de queimaduras graves em crianças é procedimento complexoA tragédia parou Janaúba, cidade de 71 mil habitantes, distante 560 quilômetros de Belo Horizonte). As vítimas inicialmente foram levadas para o hospital regional do município e para o Hospital Fundajan. Para prestar socorro, foram convocadas equipes do Samu e médicos de municípios vizinhos. A cidade também teve um grande movimento com a chegada e partida de helicópteros e aviões das polícias Militar e Civil e do Corpo de Bombeiros, que transferiam feridos com quadros mais graves para hospitais de Montes Claros e da capital.
Na porta do Hospital Regional de Janaúba houve grande concentração de pessoas, entre parentes das crianças da creche, pais em busca de informação sobre o estado de saúde dos filhos, curiosos, policiais, equipes médicas e de imprensa.
A solidariedade também prevaleceu. Atendendo ao apelo das equipes de saúde, dezenas de pessoas se concentram em frente ao laboratório do Hospital Regional para doar sangue. As polícias Militar e Civil de Montes Claros também fizeram pedidos pela imprensa e em redes sociais, solicitando doação de sangue para as vítimas da tragédia.
SEM DEFESA As vítimas da tragédia estavam em uma sala de cerca de 40 metros quadrados na Creche Criança Inocente, adaptada em uma casa no Bairro Rio Novo. Segundo testemunhas, às 9h30min Damião chegou à creche e, como era conhecido, passou facilmente pelo portão de entrada, com uma mochila nas costas, sem gerar desconfiança. Ele se dirigiu até a diretora da unidade, que estava em sua mesa de trabalho, adaptada na mesma sala onde se encontravam as crianças em atividade de recreação.
Damião fez algumas perguntas à diretora sobre o seu afastamento temporário do serviço. De repente, abriu a mochila e retirou de dentro dela um pote usado para a venda de sorte, que estava cheio de gasolina. Imediatamente, começou a espalhar o combustível em direção às crianças e pela sala.
"Encontrei meu filho morto"
“Eu acordei cedo e fui trabalhar. Meu filho foi para a creche e achei que à tarde estaria com ele de novo. Mas acabei encontrando ele morto, com o corpo todo queimado, no hospital.” O relato dramático é do trabalhador rural Paulo Pereira dos Santos, de 28 anos, pai do menino Juan Pablo Cruz Santos, de 4 anos, uma das seis crianças mortas no incêndio da Creche Gente Inocente, em Janaúba. “Dá muita revolta na gente saber que uma criança inocente pagou com a vida pelos problemas de outra pessoa”, disse o lavrador, referindo-se ao vigilante Damião Soares dos Santos, que ateou fogo à unidade de ensino infantil usando gasolina e também morreu.
Juan Pablo era o único filho de Paulo Santos e da doméstica Ana Paula Cruz Santos, casados há cinco anos. Eles vivem no Bairro Santa Terezinha, afastado três quilômetros do Centro de Janaúba e próximo a plantações de banana, onde trabalha Paulo. Ontem a casa simples foi tomada por uma profunda tristeza, que deve aumentar ainda mais hoje, quando o corpo de Juan Pablo será velado na moradia.
SEM EXPLICAÇÃO Ao acordar, Fernanda da Conceição Rodrigues também não podia imaginar o sofrimento que o dia lhe reservava. Mantendo a rotina, ela se levantou por volta das 6h, preparou o café e arrumou a roupa do caçula, Luiz David Carlos Rodrigues, de 4 anos, antes de levá-lo para a creche no vizinho Bairro Rio Novo. “Ele estava muito alegre. Disse que na creche ia ter ‘brincadeira de pula-pula’, por causa da comemoração do Dia das Crianças“, conta Fernanda, também mãe de Alisson, de 12.
Fernanda foi para o trabalho em uma casa de família enquanto o marido dela, Warlei Carlos Barbosa, batalhava no ofício de trabalhador rural.
Entre os moradores de Janaúba, permanece no ar uma pergunta que continua sem resposta: por que o vigilante Damião Soares dos Santos provocou a tragédia? A polícia também continua atrás dessa
Mortos
Juan Pablo Cruz dos Santos, de 4 anos (aluno)
Luiz David Carlos Rodrigues, de 4 (aluno)
Ruan Miguel Soares Silva, de 4 (aluno)
Ana Clara Ferreira Silva, de 4 (aluna)
Renan Nicolas dos Santos Silva, de 6 (aluno)
Helley Abreu Batista, de 43 (professora)
Damião Soares dos Santos, de 50 (vigia)
A morte de uma heroína
Na noite de ontem, o Corpo de Bombeiros e a Prefeitura de Janaúba informaram que a professora Helley Abreu Batista, de 43 anos, não resistiu às queimaduras que atingiram quase 100% de seu corpo. Ela trabalhava no Centro Infantil Gente Inocente e, segundo o prefeito da cidade, Carlos Isaildon Mendes (PSDB), foi “uma verdadeira heroína”. “Ela entrou e saiu três vezes da sala de aula para tentar salvar as crianças”, disse.
Helley era funcionária efetiva do centro infantil e morava no município de Nova Porteirinha, separado de Janaúba por um rio. O corpo da professora ficou tão queimado que precisou ser reconhecido pelo marido por meio da arcada dentária. Outra tragédia recente marcou a vida da família: no ano passado, o casal perdeu uma filha, vítima de afogamento.
Enquanto a professora ainda lutava pela vida em Janaúba, em Belo Horizonte a tragédia levou a direção do Hospital de Pronto Socorro João XXIII a adotar o “protocolo de catástrofe”, com remanejamento de pacientes, para liberar leitos na ala pediátrica. De acordo com o gerente assistencial da unidade hospitalar, o médico Marcelo Lopes Ribeiro, foi montada uma estrutura para receber 16 feridos, sendo 14 crianças. Quatro deram entrada em estado grave a partir da 19h30 de ontem, e eram esperadas mais quatro na madrugada.
“Recebemos quatro crianças.
As outras duas crianças, que chegaram ao hospital em ambulâncias da Unidade de Suporte Avançado do Samu, apresentavam quadro de queimadura das vias aéreas e, segundo o médico, foram levadas para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).
Como parte do protocolo, foi aberta uma “sala de catástrofes” para atender a demanda. Marcelo Ribeiro informou que psicólogos e assistentes sociais foram mobilizados para receber os familiares dos pacientes. “Tem muita gente ligando e perguntando o que pode ser feito. Temos um setor de apoio ao paciente e as pessoas então são orientadas, já que essas famílias vão precisar ser acolhidas”..