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Estado de Minas

Recuperação de queimaduras graves em crianças é procedimento complexo

Grupo de risco para queimaduras, crianças feridas na tragédia da creche de Janaúba terão de enfrentar tratamento intensivo e longa recuperação


postado em 06/10/2017 06:00 / atualizado em 06/10/2017 09:50

Garotos e adultos atendidos pelos socorristas tiveram até 90% do corpo queimado, quanto taxas acima de 15% já motivam preocupação de médicos(foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press)
Garotos e adultos atendidos pelos socorristas tiveram até 90% do corpo queimado, quanto taxas acima de 15% já motivam preocupação de médicos (foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press)
O quadro clínico das vítimas da tragédia ocorrida no Centro Infantil Gente Inocente, em Janaúba, no Norte de Minas, mostra o tamanho do desafio que elas têm pela frente. Meninos e meninas com idade entre 3 e 6 anos, e também adultos, tiveram até 90% do corpo queimado pelo vigia Damião Soares dos Santos, de 50 anos, que trabalhava na unidade, onde cometeu o crime. Agora, 23 feridos travam uma luta pela vida. Em crianças, queimaduras de segundo e terceiro graus (aquelas que afetam a derme, camada espessa de tecido que fica abaixo da pele) já são consideradas gravíssimas quando atingem mais de 15% do corpo e exigem tratamento intenso e longa recuperação.


Em adultos, os quadros mais graves são aqueles com índices acima de 25%. A professora Helley de Abreu Silva Batista, que salvou a maioria dos alunos, teve 90% do corpo queimado e não resistiu aos ferimentos. Outras duas funcionárias também foram atingidas pelo fogo. Uma delas, identificada como Geni Oliveira, teve lesões em 60% do corpo, enquanto a professora Marley Simone está com uma extensão de 40% do corpoa fetada. Além dos cuidados clínicos, todas as vítimas vão precisar ainda de acompanhamento psicológico para vencer o drama da tragédia.

Chefe do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital da Faculdade de Ciências Médicas, o médico José Cesário Almad aLima explica que a situação é ainda mais complicada para crianças.“Assim como os idosos, elas são consideradas grupo de risco para queimaduras, por serem mais frágeis fisicamente.“Uma área queimada, ainda que bem menor, nesses pacientes, se mostra muito mais grave e exige muito mais cuidados do que em um adulto jovem. Isso porque a criança ainda tem o organismo imaturo e o idoso tem maturidade avançada e pode ter doenças crônicas, como diabetes, que deixam o organismo debilitado”, afirma.


Segundo o médico, queimaduras provocam diversos distúrbios no organismo, que variam de acordo com a extensão da área queimada e a profundidade da lesão. As mais extensas e de segundo ou terceiro grau, provocam quadros de desequilíbrio hidroeletrolítico, provocado pela perda de água e de eletrólitos no corpo humano (sódio, potássio, cálcio, magnésio, cloro, fosfato, entre outros). “Isso gera um impacto enorme no organismo porque leva o paciente a uma desidratação aguda que se não corrigida imediatamente resulta em morte do paciente”, afirma José Cesário. Ele ressalta que esse processo não ocorre em queimaduras de primeiro grau, aquelas que atingem apenas a pele e podem ser observadas depois da exposição ao sol.

Ver galeria . 17 Fotos Vigia ateou fogo e matou crianças na Cemei Gente Inocente, uma creche de Janaúba, Norte de Minas Gerais. Ocorrência mobiliza forças de segurança e desespera moradoresPolícia Militar/Divulgação
Vigia ateou fogo e matou crianças na Cemei Gente Inocente, uma creche de Janaúba, Norte de Minas Gerais. Ocorrência mobiliza forças de segurança e desespera moradores (foto: Polícia Militar/Divulgação )
Além dos cuidados clínicos imediatos de ressuscitação, com uso de oxigênio, e de medidas para reequilíbrio hidroeletrolítico, os pacientes com queimaduras extensas e profundas precisam de internação imediata. “Eles devem ser internados em centros de terapia intensiva. Após as primeiras 24 ou 48 horas, uma vez estabilizados, devem passar por cuidados cirúrgicos para limpeza das feridas com uso de curativos que contêm drogas específicas. Na fase tardia do tratamento, pacientes com lesões de terceiro grau, que têm a derme destruída, passam por enxertos para reconstrução de áreas afetadas”, detalha o cirurgião.

SEQUELAS O médico ressalta ainda que é difícil prever as sequelas,uma vez que elas dependem da extensão e profundida de da área queimada. Ele adianta, no entanto, que pode ocorrer retração de membros e outras partes do corpo, como pescoço, pernas, braços, joelhos, dedos e mãos. Internamente, queimaduras podem provocar disfunção renal aguda, processo tratável por meio de diálise. As sequelas psicológicas também exigem tratamento, como alerta José Cesário. “Uma situação como essa gera um trauma enorme. Crianças, de modo geral, superam bem. Mas, o tipo de agressão que sofreram deixa marcas que exigem atendimento psicológico”, afirmou.

A recuperação pode ser mais complicada nos casos em que há grandes áreas queimadas, alerta o especialista. Segundo ele,quando 90% do corpo é queimado, por exemplo, as chances de sobrevivência são pequenas.


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