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Nos 280 anos de Aleijadinho, Ouro Preto ganha igreja onde mestre foi sepultadoRestauração revela pinturas escondidas em igreja de Cachoeira do CampoMaioria de turistas visita Minas por lazer, diz pesquisa Iphan vai repassar R$ 1 mi para obras emergenciais na Matriz de Santo AntônioO restauro da Igreja de Nossa Senhora das Dores trouxe de volta pinturas escondidas por décadas sob várias camadas de tinta no forro e nas paredes – em alguns pontos, até 10, conforme mostrou o Estado de Minas em matéria publicada em 30 de maio. A maior descoberta está logo na entrada, no forro do átrio, onde a equipe encarregada do serviço encontrou guirlandas em policromia tampadas pelo branco, que deixava à mostra apenas a cena do calvário, correspondente a 10% do trabalho original. A obra foi reivindicada durante anos pela comunidade e custeada integralmente com recursos do Fundo Municipal do Patrimônio (Funpatri), segundo o secretário municipal de Cultura e Patrimônio, Zaqueu Astoni Moreira. “Nesta reinauguração, a igreja ganhou um grande presente especial, que será incorporado ao seu patrimônio e será a logomarca. O pintor Carlos Bracher, que já teve uma residência em frente do templo, fez uma bela aquarela da fachada”, disse Zaqueu.
Entre as vozes que se levantaram pedindo o restauro, está Rodrigo da Conceição Gomes, presidente da Associação dos Amigos de Cachoeira do Campo (Amic) e coordenador da comunidade de Nossa Senhora das Dores, o tecnólogo em conservação e restauração, que sempre alertou para o risco de perda do templo.
EM DOIS TEMPOS Tombada pelo município em novembro de 2010 e alvo de reparos no telhado no ano seguinte, o templo ganhou um projeto arquitetônico para recuperação e um pedido, dos moradores, ao Conselho Municipal do Patrimônio Cultural (Compatri) para colocá-lo em prática. Coordenadora do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Histórias pela Prefeitura de Ouro Preto, a arquiteta Débora Queiroz explicou que a intervenção do templo foi definida como prioritária e dividida em dois tempos. Na primeira fase, foram executados os serviços de recuperação do piso, paredes e esquadrias, implantação de manta de proteção sob a cobertura, troca de telhas, preenchimento de trincas e drenagem no entorno. Além desse pacote de obras civis, a equipe cuidou da parte elétrica, sonorização e Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA).
A segunda fase compreendeu os elementos artísticos e também com recursos do Funpatri. Outras surpresas encantaram os restauradores, como o verde forte presente no altar da capela-mor e achado sob oito camadas de tinta de cinco cores diferentes. Já nas paredes, mais descobertas: debaixo de tinta, foi localizado um barrado com pinturas marmorizadas, no tom salmão, e datadas de 1870-1880, creditadas a italianos que moraram na região no século 19. Também fiéis às cores que as prospecções mostraram, os especialistas decidiram por um tom bege para a parede sobre o barrado.
HISTÓRIA Construída em 1761 para as cerimônias da semana santa, a Igreja de Nossa Senhora das Dores tem no forro o maior destaque. O que chama logo a atenção de quem entra é a ornamentação com os 15 painéis da nave, de inspiração medieval, representando a Paixão de Cristo, do horto das oliveiras à ressurreição.
Muitas histórias e lendas rondam a história da igreja. A imagem da santa de roca, conforme a tradição oral, chegou a Cachoeira do Campo em meados do século 18 portando várias joias, que desapareceram. “Contam que, sob os auspícios de uma mulher chamada Maria Dolorosa, a imagem percorria as casas do distrito angariando fundos para a construção da igreja. Outra antiga lenda afirma que os inconfidentes se reuniam no interior do templo para, do alto de sua torre esquerda, espionar o Visconde de Barbacena em seu palácio..