Jornal Estado de Minas

Kalil diz que para o século 21 exposição de Moraleida 'não tem nada de mais'

O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PHS), visitou ontem a exposição do artista Pedro Moraleida, em cartaz no Palácio das Artes, desde setembro, e que vem sendo criticada por vereadores e deputados da bancada evangélica, e disse não ver motivo para tanta “celeuma” em torno das obras. “Sinceramente o que eu vi em pleno século 21 não tem nada de mais”, afirmou Kalil.

Na quinta-feira, incentivados pelos parlamentares, a exposição foi alvo de protesto de evangélicos que tentaram invadir a galeria onde as obras de Moraleida estão expostas. O grupo considerou as pinturas como “incentivos à pedofilia, zoofilia e cristofobia”. De acordo com o Palácio das Artes, a exposição batizada de “Faça Você Mesmo Sua Capela Sistina”, é destinada a maiores de 18 anos e crianças só têm acesso ao local acompanhadas dos pais.

- Foto: Juarez Moreira/EM/D.A Press Kalil defendeu a exposição e disse que a “cidade é para todos”e que a arte não pode ser censurada. “O que eu vim colocar como prefeito de Belo Horizonte é que aqui é lugar de se colocar arte, aqui é lugar de se colocar gênero, aqui é lugar de se colocar religião, não em escolas. Aqui é o lugar adequado. Isso aqui é uma galeria de arte. Você pode não gostar ou não vir.
Cada um vai ver o que gosta, do jeito que quer, agora sobre a obra ela é absolutamente normal e não acredito que nenhum homem do século 21 se choque de verdade com o que viu”, afirmou o prefeito.

Visitação A galeria que recebe as obras de Moraleida abriu, excepcionalmente, ontem por causa da enorme procura. A assessoria do Palácio das Artes disse que somente neste fim de semana cerca de 700 pessoas visitaram a exposição, público três vezes maior do que a média de visitantes que passam pelo local no sábado e domingo.

No domingo, o músico Caetano Veloso, aproveitou sua passagem pela capital mineira, onde se apresentou no fim de semana, para visitar a exposição do artista que se suicidou em 1999, aos 22 anos. No mesmo dia, Caetano (junto de outros artistas) lançou uma campanha contra o cancelamento da exposição “Queermuseu”, em Porto Alegre, e a polêmica envolvendo a performance “La bête”, em São Paulo. O músico criticou a censura em exposições artísticas.

“Tem alguns políticos querendo enganar o povo. Querendo chamar atenção. Em nenhuma dessas exposições que estão sendo discutidas não há nada que não seja tradição das artes, sobretudo das artes mais recentes”, afirmou Caetano durante visita. A polêmica em torno da exposição começou depois que um grupo de políticos protestou contra as telas.
Antes disso, a prefeitura chegou a cogitar a vinda para Belo Horizonte da exposição “Queermuseu”, o que acabou não se confirmando.

A favor Artistas, produtores culturais mineiros e outras figuras públicas contrárias à censura e a favor da cultura participaram ontem de um ato simbólico no Palácio das Artes, onde a exposição de Moraleida tem sido alvo de contestação de grupos religiosos. “Na minha opinião, esses grupos se embasaram no fundamento religioso para questionar exposição. Agora, curiosamente isso é o que a arte contemporânea propõe: a provocação de reflexões”, disse o presidente da Fundação Clóvis Salgado e curador da exposição Augusto Nunes Filho.

Já o pai do artista, e responsável pelo acervo, o jornalista Luiz Bernardes, disse que desde 2002 a arte de seu filho Pedro, seja pela pintura, música ou literatura, tem sido levada a vários espaços culturais de BH. “O que temos visto agora de diferente é um oportunismo eleitoral em detrimento da arte, da cultura”, sintetizou. Artistas, muitos deles fantasiados, e vereadores contrários à bancada evangélica marcaram presença no ato a favor da liberdade de expressão.

ENQUANTO ISSO...
...Secretária contesta vereador

A polêmica envolvendo a exposição do artista mineiro Pedro Moraleida teve ontem mais um episódio. A secretaria Municipal de Educação, Ângela Imaculada Loureiro de Freitas Dalben, encaminhou à Câmara Municipal de Belo Horizonte ofício exigindo providências contra o vereador Jair di Gregório (PP). O motivo da manifestação é um vídeo divulgado pelo parlamentar em que é sugerido que uma professora e alunos de uma escola municipal da capital tenham visitado a galeria, que tem classificação indicativa para maiores de 18 anos. No ofício, a secretaria afirma que Jair di Gregório “fere o decoro parlamentar” e pratica “ato irregular grave” contra suas funções..