A polêmica envolvendo a exposição do artista mineiro Pedro Moraleida , Faça você mesmo sua Capela Sistina, em cartaz no Palácio das Artes, teve hoje mais um episódio. A secretaria Municipal de Educação, Ângela Imaculada Loureiro de Freitas Dalben, encaminhou nesta segunda-feira à Câmara Municipal de Belo Horizonte ofício exigindo providências contra o vereador Jair di Gregório (PP).
O motivo da manifestação é um vídeo divulgado pelo parlamentar em que é sugerido que uma professora e alunos de uma escola municipal da capital tenham visitado a galeria, que tem classificação indicativa para maiores de 18 anos.
No ofício, a secretaria afirma que Jair di Gregório “fere o decoro parlamentar” e pratica “ato irregular grave” contra suas funções. “Nesse sentido, vislumbra-se flagrante crime contra a honra da professora envolvida e da imagem dos alunos, acusados, erroneamente, de participarem do evento inadequado para a faixa etária dos mesmos. Consequentemente, houve prejuízo tanto para a escola municipal quanto para a Secretaria Municipal de Educação”, afirma Ângela no ofício.
No vídeo, o vereador se posiciona contra as obras em exposição na galeria do Palácio das Artes, afirmando que o conteúdo “não é arte”, mas “baixaria”.
Em determinado momento, o vídeo passa a exibir imagens das crianças, em companhia da professora, na calçada do Palácio, quando o parlamentar se identifica e questiona de onde a turma vinha. A professora responde dizendo que voltava do festival de curtas com os alunos.
Após a resposta o vídeo do vereador volta a exibir imagens dos quadros de Pedro Moraleida. Pela forma como o vídeo é editado dá a entender que as crianças visitaram a galeria, o que, de acordo com a secretaria de Educação, não ocorreu.
Outro Lado
Segundo o vereador, a filmagem inicial foi feita ao vivo e aparece todos os questionamentos feitos a professora. O parlamentar admitiu que também existe mesmo uma versão editada do conteúdo que circula nas redes sociais.
À reportagem, Gregório voltou a fazer críticas ao conteúdo da exposição e disse que seu comportamento não traz prejuízo ao seu mandato ou as funções de vereador. “Eu não firo decoro parlamentar, não. Se tiver alguma coisa a responder na Casa eu vou me defender”, afirmou.
Ele explicou ainda que abordou a professora e os alunos após ver intensa movimentação de ônibus escolares próximo ao Palácio das Artes e ter recebido denúncias de que crianças estavam tendo acesso a parte onde estão exibidas as obras. “Inclusive vou reunir nesta terça-feira com meus advogados e encaminhar ao Ministério Público a denúncia. Quero criminalizar quem está envolvido nessa questão. Eu não vou aceitar isso como vereador”, declarou.
Reações à exposição
Nesta segunda-feira, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PHS), visitou a exposição e afirmou que ter visto "nada de mais" no conteúdo dos quadros.
Nesse domingo, o músico Caetano Veloso, visitou a exposição a fez críticas ao aos que tentam censurar o conteúdo em exibição. Segundo ele, o que existe são políticos querendo “aparecer” sob o tipo de temática que sempre esteve presente.
“Tem alguns políticos querendo enganar o povo. Querendo chamar atenção. Em nenhuma dessas exposições que estão sendo discutidas não há nada que não seja tradição das artes, sobretudo das artes mais recentes”, afirmou Caetano durante visita à exposição no Palácio das Artes.
Na semana passada, um grupo de evangélicos protestou na porta do Palácio das Artes contra o conteúdo. Com faixas e cartazes o grupo fechou o trânsito e causou nó no trânsito na região. Temendo que as obras fossem danificadas, a direção da galeria passou a limitar a entrada no espaço a pequenos grupos com visita orientada.