Belo Horizonte se transformou em uma cidade com congestionamentos marcados no calendário. Basta um feriadão para que os arredores do Terminal Rodoviário Israel Pinheiro, no Centro da capital, se tornem intransitáveis, criando um nó que se irradia para os viadutos e túneis do Complexo da Lagoinha e deles para algumas das principais artérias de tráfego da capital. Seguindo a fórmula, o retorno do recesso de Nossa Senhora Aparecida teve ritmo de procissão ontem, desafiando a paciência de motoristas diante de uma estrutura insuficiente e de um esquema de trânsito incapaz de dar vazão ao fluxo de ônibus – urbanos e rodoviários –, carros de passeio, táxis e veículos a serviço de aplicativos de transporte. O próximo cenário caótico do tipo não é difícil de prever: tem tudo para ocorrer em 6 de novembro, segunda-feira após o feriado prolongado de Finados.
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Trânsito lento no entorno da rodoviária de BHPara especialista, criação de novos pontos pode desafogar vias em BHVolta do feriado prolongado deixa trânsito lento no Centro de BHFeriado termina com seis mortes e 178 feridos nas estradas que cortam MinasTrânsito é bom no entorno da rodoviária na volta do feriado prolongado Novo viaduto do Complexo da Lagoinha deve ser liberado em janeiroTombamento de carreta fecha a BR-381 parcialmente em Nova EraShow de Paul McCartney em BH altera trânsito no entorno do Mineirão; aplicativos fazem promoçõesJovem sai da própria cova após levar dois tiros e pauladas na cabeçaEnquanto isso, para o próximo feriadão está previsto o mesmo esquema de trânsito que visivelmente não dá conta do desafio. Tanto que a cada recesso se repetem as cenas vistas ontem: logo cedo, o grande número de ônibus de viagem buscando acesso à rodoviária provocou paralisia e lentidão em corredores importantes, como os viadutos e túneis do Complexo da Lagoinha, o Elevado Dona Helena Greco, a Praça Rio Branco, as avenidas Pedro II, Antônio Carlos, Cristiano Machado, Olegário Maciel, Afonso Pena, do Contorno e Santos Dumont, além de ruas como Tupinambás, Caetés, Curitiba, Saturnino de Brito, Paulo de Frontin, Rio Grande do Sul, São Paulo e Guaicurus. Na Afonso Pena, o trânsito estava tão intenso que as vias da esquerda, usadas preferencialmente por ambulâncias, ficaram travadas, retendo muitos desses veículos de emergência, mesmo com as sirenes acionadas, em um dos principais corredores de acesso à região dos hospitais.
No Centro, vários cruzamentos importantes da Afonso Pena, da Amazonas e da Contorno ficaram fechados pela quantidade de veículos que não conseguia atravessar a tempo, muitos deles parados sobre as faixas de pedestres.
O motorista Evanildo Santos, de 43 anos, conduzia um ônibus de passageiros vindo de Campo Grande para a capital mineira e, segundo ele, esperou o dobro do tempo normal na chegada a BH. “Peguei a direção de Uberaba para cá e só na entrada da cidade levei meia hora para atravessar, por causa de filas de ônibus. Isso é culpa da BHTrans, e vai acontecer sempre. Tinha de haver vias exclusivas para os ônibus de viagem saírem logo do Centro”, disse.
A desativação do 1º de abril
Parece ironia, mas no dia 1º de abril deste ano, as alegações da Codemig para encerrar as atividades da Estação José Cândido da Silveira, um apoio à rodoviária do Centro de BH, no Bairro Santa Inês, Região Nordeste, foram justamente a “insatisfação dos usuários” e a “impossibilidade de fazer melhorias no local, por se tratar de um imóvel pertencente à União”. Essa estação de suporte estava em funcionamento desde 2012 e chegou a receber 63 embarques e desembarques diários.
PALAVRA DE ESPECIALISTA
Osias Batista Neto, consultor em transporte e trânsito
Falta estrutura
O principal problema dos congestionamentos relacionados à volta de feriados no Hipercentro de Belo Horizonte é o fato de a nova rodoviária, prevista para ser construída no Bairro São Gabriel, ainda não ter saído do papel. Atualmente, em nenhuma cidade do país se constrói terminal rodoviário no Centro. Mas o projeto da obra, prevista para ficar próxima ao Anel Rodoviário de BH, está parado por questões judiciais ligadas a desapropriações na região. Paralelo a isso, o entorno da atual rodoviária não comporta o grande volume de ônibus que saem e chegam dos mais variados destinos durante feriados prologados. Apesar de a BHTrans ter planos operacionais, sistemas de câmeras e agentes trabalhando especificamente para essas ocasiões, vejo que é preciso aprimoramento, além de maior divulgação para que os motoristas de carros particulares conheçam bem as rotas de chegada e saída do terminal. Outro fator é que neste ano os passageiros podem ter feito um uso maior do transporte por aplicativo, cujos motoristas são particulares e não têm o mesmo conhecimento dos esquemas operacionais de tráfego para feriados..