Agências explodidas, policiais mortos e cidades aterrorizadas pela invasão de bandos fortemente armados: batizada de novo cangaço, a ação de quadrilhas especializadas em estouro de caixas eletrônicos representou, em média, 13 ataques a agências por mês em Minas Gerais neste ano, ou um caso a cada 2,2 dias. De janeiro a setembro foram computadas 120 ações criminosas do tipo.
Horas depois de formalizado o protocolo, o alarme já soou pela primeira vez para acionar o pacto de ações integradas. Na madrugada de terça-feira, uma agência do Banco do Brasil e outra do Itaú foram atacadas por uma quadrilha em Bambuí, no Centro-Oeste mineiro.
Ainda na terça-feira, mas no Norte de Minas, outro grupo de criminosos com armamento pesado fechou com uma carreta a BR-251, nas imediações de Grão Mogol, para assaltar um carro-forte. Eles interceptaram o veículo de uma transportadora de valores e trocaram tiros com os vigilantes. Em seguida, explodiram uma das portas do blindado, levando quantidade não informada de dinheiro. Cerca de 15 pessoas atuaram nesse caso e há suspeitas de que o grupo esteja ligado a outro ataque, cometido da mesma forma em Unaí, no Noroeste de Minas, em maio. A Secretaria de Segurança Pública confirmou que o conjunto de ações integradas foi adotado nos dois casos, mas sustenta que informações sobre as investigações não podem ser divulgadas, para não prejudicar os trabalhos. Até o fechamento desta edição, ninguém havia sido preso nos dois casos.
As ações padronizadas de cada força de segurança contra a violência desse tipo de quadrilha buscam criar uma forma de reação padronizada para a modalidade de crime, evitando que em cada caso seja adotada uma forma de trabalho diferente, segundo o secretário de estado de Segurança Pública, Sérgio Barbosa Menezes. O objetivo é unificar reações como a preservação dos lugares explodidos, acionamento de planos de cerco e bloqueio e concentração de informações de inteligência levantadas por diferentes órgãos, para prender mais rapidamente os criminosos. Resumidamente, trata-se de definir, uma vez ocorrido o crime, que órgão reage, de qual forma e em que momento.
“O crime de explosão de caixa eletrônico traz consequências que extrapolam a questão da segurança. Há impactos sociais e econômicos para as cidades, muitas vezes pequenas, que dependem daquele terminal que foi alvo de ataque. Nosso foco é sempre reduzir os números, trabalhar cada vez mais para minimizar o impacto para o cidadão. Se temos uma ou 120 ocorrências, nosso esforço será o mesmo, exatamente pelas características dessa modalidade de crime”, diz o secretário.
ARTICULAÇÃO A Sesp coordena um grupo que tem se reunido de forma frequente e conta com a participação da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Ministério Público, além dos demais braços do estado ligados à questão: Secretaria de Administração Prisional (Seap), Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros. A criação do grupo de trabalho no governo de Minas, que vinha se articulando também com as forças federais, foi anunciada em setembro por Fernando Pimentel.
O esquema pelo qual deve operar esse esforço conjunto, segundo a Sesp, já está no papel, mas não pode ser detalhado, para não comprometer investigações e o próprio funcionamento da cadeia de ações que pode levar à captura dos criminosos. Mas, como resultado da concentração de esforços nesse tipo de crime, a secretaria informa que, de 12 de junho até 12 de setembro deste ano, 50 pessoas foram presas no estado por envolvimento com explosões de caixas eletrônicos e ataques a bancos. Dois acusados foram capturados mês passado, em Capitão Enéas, Norte de Minas, com um fuzil e duas submetralhadoras, uma pistola, uma espingarda e uma garrucha.
Os dois foram detidos após perseguição policial e bloqueios montados pela Polícia Militar. Com eles havia malotes com dinheiro manchado e também bananas de dinamite. Outras 28 prisões ocorreram em 9 de agosto, em Três Corações (Sul de Minas). Segundo a PM, todos os presos estavam envolvidos em crimes de explosão de caixas eletrônicos e roubos a bancos e a agências postais no Sul de Minas.
Enquanto as forças de segurança procuram padronizar suas ações para contra-atacar, o secretário de Segurança Pública defende uma punição mais pesada para o crime de explosão de caixas e bancos. “Tem que haver uma pena diferenciada, porque é uma ação que atenta contra o poder público. O policial que está na ponta é o representante do Estado. É necessário que haja um qualificador mais pesado para quem pratica explosões de caixas eletrônicos, porque há muitas variáveis que justificam isso: temos uso de explosivos, uso de armamentos pesados, organizações criminosas envolvidas. Não podemos tratar tudo isso como um roubo qualquer”, afirma. Neste ano, o caso de maior repercussão ocorreu em Santa Margarida, na Zona da Mata, onde um Policial Militar e um vigia foram mortos por assaltantes que atacaram as agências locais do Banco do Brasil e do Sicoob.
Três perguntas para...
Sérgio Barbosa Menezes - Secretário de estado de Segurança Pública
As explosões de caixas caíram 36,5% no período divulgado. A que se pode atribuir esse resultado?
Temos desenvolvido ações integradas que contam com o apoio e trabalho árduo de várias instituições. Desde que esse tipo de crime passou a preocupar mais, temos tentado aperfeiçoar o trabalho e agregar melhorias na repressão qualificada e no mapeamento das quadrilhas que promovem esse tipo de ação. Um exemplo desse avanço é exatamente a assinatura do termo de cooperação com oito instituições, na última segunda-feira.
Algum outro tipo de crime é alvo dessa cooperação?
Secretaria de Estado de Segurança Pública coordena uma força-tarefa voltada para a redução de eventos de segurança, em geral, em instituições bancárias. Esse grupo busca resultados não só para explosões de caixas, mas também para crimes com uso de maçarico, assaltos e o crime chamado de “sapatinho” (sequestro de bancários para forçar a abertura de cofres). A força-tarefa tem forte atuação na área de inteligência, com informações que se transformam em operações repressivas e preventivas. Esse grupo promove reuniões mensais de avaliação e planejamento.
Embora o detalhamento do acordo de cooperação técnica seja sigiloso, é possível dar um exemplo prático de como ele pode funcionar?
A inteligência busca, por exemplo, o mapeamento de quadrilhas para prevenir ocorrências, entender o modus operandi dos envolvidos ou, até mesmo, fornecer informações que levarão à prisão dos envolvidos.
Memória
Mobilização e desmobilização
Não é a primeira vez que se forma uma força-tarefa na tentativa de enfrentar o desafio da explosão de caixas eletrônicos em Minas. Em 2013, época em que casos do tipo estavam em franca ascensão, o governo do estado constituiu um grupo de trabalho com objetivo de dar uma resposta à ofensiva, de forma integrada e com ações compartilhadas. Porém, em 2015 a própria administração estadual avaliou que não havia mais a necessidade do esforço concentrado, sob a justificativa de se tratar de um conceito a ser adotado em situações de crise, o que, no entendimento do estado, não ocorria naquele momento. Porém, o avanço de casos com maior emprego de violência – que causaram mortes, deixaram policiais sitiados e cidades sem terminais bancários – levaram a uma mudança de postura. Apesar da redução dos casos, nova força-tarefa foi formada para unificar procedimentos na contraofensiva aos assaltantes.
DESCONFIE
Confira recomendações da Secretaria de Segurança Pública para ajudar no cerco a ladrões de caixas eletrônicos
1) Se você é dono de hotel ou pousada, fique atento a hóspedes com bagagem incompatível com a quantidade de dias que pretendem ficar
2) Caso você seja um morador ou comerciante e perceba movimentação de pessoas muito atípica em sua cidade, alerte as autoridades
3) Se você for dono de algum sítio, esteja alerta a aluguéis pagos com altas quantias, em dinheiro, sem contratos formais nem negociação
Denuncie
Denúncias anônimas podem ser feitas pelo telefone 181