Jornal Estado de Minas

Equipe que atendeu vítimas de incêndio na Boate Kiss visita médicos em Janaúba

No dia em que as crianças matriculadas do Centro Municipal de Educação Infantil (Cemei) Gente Inocente de Janaúba, Norte de Minas, voltaram às aulas, um ensinamento de quem passou por situação semelhante ajuda a amenizar a dor e o sofrimento das vítimas e familiares da tragédia, ocorrida no último dia 5. A fim de facilitar a recuperação dos feridos no ataque da creche, médicos da cidade receberam nesta semana uma equipe de especialistas que atuaram no atendimento às vítimas do incêndio da boate Kiss, ocorrido em 27 de janeiro de 2013 em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. A equipe da Prefeitura de Janaúba também recebe o apoio da associação de parentes das vítimas da tragédia da queda do avião do time da Chapecoense, que aconteceu no final de novembro do ano passado.

Estiveram em Janaúba nesta semana seis profissionais, incluindo enfermeiros, médicos e um fisioterapeuta, do Centro Integrado de Atendimento às Vitimas de Acidentes (Ciava), criado em Santa Maria para a assistência às vítimas do incêndio na boate Kiss, que provocou 242 mortes e deixou 680 feridos, a segunda maior tragédia em um incêndio no Brasil – superado apenas pela tragédia do Gran Circus Norte-Americano, ocorrido em 1961, em Niterói, que resultou em 503 mortes. Entre segunda-feira e a manhã de quarta-feira, eles passaram informações sobre como devem ser os procedimentos para a recuperação das lesões de queimaduras e também o atendimento psicológico e psiquiátrico às mães e pais das crianças mortas nas tragédias e outras vítimas do triste acontecimento.

“A experiência trazida pela equipe de Santa Maria foi norteadora para nosso trabalho no atendimento às vítimas, pois estávamos um pouco sem noção do que realmente fazer diante de uma situação”, afirma a secretária municipal de Saúde de Janaúba, Cecilia Moreira Freitas.

A equipe multidisciplinar da cidade gaúcha foi acompanhada pela gerente de Atenção à Saúde de Santa Maria, Soeli Terezinha Guerra, e pelo subsecretário de Política de Ações em Saúde do Rio Grande do Sul, Homero Sousa Filho. Uma equipe da Gerência Regional de Saúde (GRS) de Montes Claros também contribui nas ações.


Como o tratamento dos sobreviventes é demorado e doloroso, a qualificação dos profissionais de Janaúba é de suma importância. “No ato da tragédia – e até então – todo mundo esteve envolvido no atendimento emergencial (às vítimas). A partir de agora, vamos partir para o planejamento do atendimento a longo prazo”, afirmou Cecilia Freitas. Ela lembrou que a recuperação das vítimas do incêndio podem durar meses ou até anos.

A secretária municipal de Saúde salientou também que, além das crianças e funcionários da creche que tiveram lesões provocadas pelo fogo, existem ainda as chamadas “vítimas indiretas”. Entre elas estão vizinhos da creche e um grupo de pedreiros que ajudaram no socorro das vítimas durante o incêndio e que inalaram fumaça tóxica. Essas pessoas terão que passar por avaliação médica e, alguns casos, também por acompanhamento psicológico.


Cecilia Freitas disse que a equipe de Santa Maria repassou informações sobre protocolos de condutas médicas e todos os cuidados que devem ser adotados com crianças que tiveram lesões provocadas pelas queimaduras. “Uma preocupação no tratamento é ter cuidados para se evitar infecções. Fomos alertados, por exemplo, que uma professora que teve os braços queimados já estava tendo problema de limitação física. Por isso, ela terá fazer fisioterapia”, revelou.

Trabalho de auxílio às vítimas


De Santa Catarina um apoio vem da Associação Brasileira de Vítimas do Acidente com a Chapecoense (Abravic), criada com o objetivo de defender os interesses e garantir o auxílio às vítimas da tragédia com o avião do time catarinense, ocorrido em 28 de novembro de 2016. A aeronave fretada da empresa boliviana LaMia caiu a 30 quilômetros do Aeroporto Internacional José María Córdova, nas proximidades de Medellín (Colômbia), deixando 71 mortos e seis sobreviventes.

Foi o próprio presidente da entidade, Gabriel Santos Cordeiro de Andrade, que logo após o ataque da creche procurou o prefeito de Janaúba, Carlos Isaildon Mendes (PSDB), e visitou parentes das vítimas internadas em Montes Claros. Andrade revela que orientou o prefeito qual a maneira deveria agir, principalmente, nos primeiros momentos após o ataque. “É muito importante a ação nos primeiros dias após o acontecimento, quando as pessoas ficam comovidas e prestam solidariedade, cobrar ações que tenham efeito a médio e longo prazo – e não apenas emergenciais”, afirmou.



Ele lembrou que, depois desse “momento de comoção”, a tendência é que a maioria das pessoas não atingidas ou que vivem longe da região venham “esquecer” a tragédia. “Mas as famílias vão precisar de muito apoio após as vítimas deixarem o hospital e retornarem para suas casas. Da mesma forma, aqueles pais que perderam os filhos também precisam de amparo e da assistência psicológica”, disse Gabriel de Andrade.

O presidente da Abravic disse que também orientou o prefeito de Janaúba a criar um comitê gestor de crise, mas esclareceu que a entidade não entrará na discussão sobre o pagamento de indenização. “Nosso objetivo é apenas garantir o apoio e assistência social às famílias”, assinalou. A Prefeitura de Janaúba anunciou que, junto com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), vai propor um acordo extrajudicial com as famílias e evitar as demandas judiciais para o pagamento das indenizações.

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