As ruas e avenidas do Bairro Padre Eustáquio, na Região Noroeste de Belo Horizonte, foram as mais visadas por ladrões de carros que atuam na capital mineira no mês passado, de acordo com a Polícia Civil. Mais de um veículo, em média, foi levado de seus donos a cada dia do mês no bairro, conforme a estatística que apontou 22 furtos e 13 roubos na área em setembro. O levantamento que aponta as 35 ocorrências traz os cinco bairros com maior número de furtos (o próprio Padre Eustáquio, Santa Efigênia, Centro, Cruzeiro e União) e os cinco com mais roubos (Castelo, Cachoeirinha, novamente Padre Eustáquio, Caiçara e Santa Amélia). Os dados mostram ainda que a Região Noroeste pode ser considerada uma espécie de área de risco para motoristas, pois nela também se destaca o Caiçara, além dos vizinhos Castelo (Regional Pampulha) e Cachoeirinha (Nordeste).
No mês passado, único que teve o ranking divulgado pela Polícia Civil, o Padre Eustáquio foi o líder geral, também ocupando a primeira posição nos furtos do mês, e o Castelo lidera em roubos – situação em que o veículo é levado com violência, muitas vezes com uso de arma de fogo. Em meio à pressão que indica mais de 40 automóveis levados por dia em Belo Horizonte, ou um a cada 35 minutos, segundo dados da Polícia Militar, autoridades de segurança defendem a regulamentação urgente da lei nacional sobre desmontagem de veículos, principalmente diante da percepção de que os desmanches ilegais têm migrado para o interior, onde a fiscalização é mais frágil."É um roubo visto pelo criminoso como mais fácil e com maior lucratividade"
Rafael Azevedo, delegado
Os dados de furtos e roubos por bairros referentes ao mês passado foram divulgados pela Polícia Civil durante audiência pública convocada pela Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, presidida pelo deputado Sargento Rodrigues. O delegado Rafael Lopes Azevedo, que comanda a Delegacia Especializada de Investigação em Furtos e Roubos de Veículos Automotores, e o capitão Carlos Eduardo Lopes, da Diretoria de Apoio Operacional da PM, apresentaram dados divergentes sobre o problema (veja quadro). Porém, nas duas fontes é possível observar praticamente uma estagnação nos roubos no período entre janeiro e setembro e uma redução em torno de 7% nos furtos. Nesse último caso, a situação é mais preocupante, já que, enquanto os roubos de forma geral têm seguido tendência de queda na capital, o mesmo não ocorre quando o alvo são os veículos.
Segundo o delegado Rafael Azevedo, diretamente envolvido com o assunto nos últimos dois anos, apontar razões efetivas para o Padre Eustáquio e bairros vizinhos serem destaque nos furtos e roubos de veículos é difícil, pois tudo acaba no campo da suposição. A única questão que ele aponta é um conjunto de rotas de fuga, que no caso do bairro campeão de ocorrências incluem o Anel Rodoviário, a Via Expressa e o corredor formado pelas avenidas Pedro II e Tancredo Neves, que podem garantir saída rápida da área após os crimes, inclusive rumo a outras cidades da Grande BH, como Contagem. O policial destaca que, em geral, o roubo de carros é uma modalidade de crime que encontra grande “oferta” de alvos, diante de uma frota que cresce continuamente, além de servir como ponte para outros crimes. “É um roubo visto pelo criminoso como mais fácil e com maior lucratividade. O ladrão, antes de assaltar uma pessoa ou empresa, precisa de um carro, que geralmente estará clonado. É por isso que essa modalidade, quando não é o fim da ação criminosa, é o meio”, diz o delegado.
Já o capitão PM Carlos Eduardo Lopes diz que, após o furto ou roubo de um carro, normalmente os ladrões encontram várias possibilidades para fugir. “São muitas rotas. Às vezes, esse automóvel é escondido em uma garagem, às vezes levado para outro local, e, em muitos casos, é desmanchado bem rápido, dificultando a fiscalização”, afirma. Segundo o militar, está em testes na área do 34º Batalhão, unidade que faz o policiamento justamente da Região Noroeste de BH, um projeto para tentar reduzir esse tipo de crime. A iniciativa aposta em dois pilares: o posicionamento de viaturas por meio de GPS e a leitura de placas de veículos com câmeras que conseguem identificar se há algum impedimento relacionado à placa. O objetivo é que a viatura que esteja mais bem posicionada no momento faça a abordagem, seguida de um plano de cerco e bloqueio.
Rastrear peças é aposta da polícia
Grande aposta da Polícia Civil para frear o comércio de peças de desmanches ilegais de veículos, a regulamentação da Lei Federal 12.977/2014 está em andamento em Minas, segundo o delegado Rafael Azevedo, chefe da Delegacia Especializada de Investigação em Furtos e Roubos de Veículos Automotores. Segundo ele, foi publicada em junho uma portaria para credenciar empresas que estarão aptas a fazer o desmonte e a comercializar peças usadas. “A próxima portaria será para credenciar empresas que vão fornecer as etiquetas. A fiscalização só se efetivará quando as etiquetas estiverem disponíveis para compra. A lei prevê a etiquetação das peças mais relevantes. No caso de um veículo automotor, são 49”, diz o policial.
O delegado aponta que a quantidade de desmanches diminuiu na capital mineira, apesar de o comércio de produtos com origem duvidosa continuar a ocorrer. Ele destaca que toda a semana a delegacia desenvolve duas operações, com média de oito flagrantes e cumprimento de cinco mandados de busca. Porém, diante do cerco criminosos estão levando carros roubados ou furtados para desmanche no interior do estado, devolvendo para a Grande BH pacotes com peças prontas para venda, cuja procedência não é possível rastrear. “Esse deslocamento até o interior já dificulta nossa ação efetiva. Mas estamos reunindo informações e estudando esse novo fenômeno. Isso é uma saída que eles acharam para driblar a fiscalização, porque aqui é muito maior que no interior”, afirma o delegado.
Ao final da audiência pública na Assembleia Legislativa que discutiu a questão de furtos e roubos de veículos na capital, o deputado Sargento Rodrigues, presidente da Comissão de Segurança Pública, encaminhou requerimento para as polícias Civil e Militar pedindo mais ações integradas para resolver o problema. Para o parlamentar, há iniciativas das duas instituições, mas a impressão é de que elas não conversam entre si para trocar informações. “Não se pode ter duas polícias desencontradas, que não se acertam primeiro no número de dados. Um dos requerimentos é nessa linha, pois claramente falta por parte da Polícia Civil e da Polícia Militar reuniões de planejamento conjunto, com trocas de informações da área de inteligência e execução de operações conjuntas”, sustenta. O segundo requerimento foi encaminhado pela comissão ao Departamento Estadual de Trânsito de Minas Gerais (Detran/MG), para acelerar os procedimentos de regulamentação da lei dos desmanches, permitindo que a fiscalização se torne mais efetiva. O Estado de Minas procurou a Secretaria de Estado de Segurança Púbica para se pronunciar sobre as críticas à integração entre as polícias, mas a pasta não se manifestou.