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Estado de Minas

Mulher que mentiu sobre racismo e tentativa de sequestro responderá por delito

Em junho deste ano, Jamille, que é negra, publicou nas redes sociais uma suposta tentativa de sequestro de sua filha, branca, em um posto na BR-381


postado em 20/10/2017 18:26 / atualizado em 20/10/2017 18:43

Post em que Jamille contava a suposta tentativa de sequestro da filha e denunciava racismo viralizou nas redes sociais. Mais tarde, ela afirmou que o perfil era falso(foto: Reprodução da internet/Facebook)
Post em que Jamille contava a suposta tentativa de sequestro da filha e denunciava racismo viralizou nas redes sociais. Mais tarde, ela afirmou que o perfil era falso (foto: Reprodução da internet/Facebook)
Jamille Azevedo, de 22 anos, autora do desabafo nas redes sociais sobre suposta tentativa de sequestro de sua filha em um posto às margens da BR-381, em Perdões, foi indiciada pela Polícia Civil pelo crime de denunciação caluniosa. Após investigações, a polícia concluiu que a versão apresentada pela, até então vítima, era fictícia.

De acordo com o delegado Ailton Pereira, responsável pelas investigações, a ocorrência apresentada por Jamille "era muito séria e, como nas demais investigações, merecia extremo zelo". "Fomos muito criteriosos em todos os quesitos durante a investigação, não restando dúvidas de que a suposta vítima, na verdade, foi quem cometeu o crime", completou Pereira, que explicou como funcionaram as investigações.

Segundo a Polícia Civil, 13 pessoas foram ouvidas, entre elas dois policiais que estariam no posto Graal – por quem Jamille passou durante o tempo em que permaneceu no estabelecimento –, o motorista do ônibus – que a mulher acusou de dificultar a formalização da denúncia –, funcionários do posto e a própria Jamille. A Polícia Civil realizou também perícias de reconhecimento facial humano e de conteúdo de registros audiovisuais, que comprovaram que o depoimento dela era falso.

Os policiais atestaram que Jamille não esteve no banheiro do posto, contrariando a própria publicação, que diz que a suposta tentativa de sequestro aconteceu dentro de um sanitário. "Entrei no banheiro com minha filha que tem apenas 1 ano e 5 meses, e na saída uma moça bonita com aparentemente uns 30 anos deu a mão a ela", diz o texto publicado no dia 26 de junho deste ano, quando foi amplamente compartilhado e teve repercussão nacional.

Marcelo Vilela Guerra, delegado regional de Lavras, no Sul de Minas, disse que as ações foram apuradas imediatamente após a denúncia de Jamille. "Foi determinado empenho imediato para apuração dos fatos, por não ser possível admitir esse tipo de motivação ainda nos dias de hoje. Mas, infelizmente, ao final das diligências o que se verificou foi o uso dessa motivação de maneira falsa", comentou.

O inquérito de acusação foi encaminhado à Justiça pelo delegado responsável, e Jamille poderá responder por denunciação caluniosa. A pena é prevista de dois a oito anos de prisão de acordo com o artigo 339, do Código Penal.

Relembre o caso

Jamille ao lado do marido, que é branco e mora em São Paulo, e a filha no colo
Jamille ao lado do marido, que é branco e mora em São Paulo, e a filha no colo
Em entrevista ao em.com.br, Jamille, que é negra, contou que voltava de São Paulo quando parou em uma lanchonete do Posto Graal. Ela disse que dentro de um dos banheiros uma outra mulher pegou a filha dela, que é branca, e tentou sequestrar a criança, dizendo que a menor não era filha de Jamile devido a diferença na cor da pele. 

Jamillie teria relatado à funcionárias sobre o ocorrido, mas empregados da lanchonete disseram que a criança não era filha dela, pois era branca.  “Essa preta aí pegou sua filha?” “Foi quando todos questionaram se eu era mesmo mãe da criança”, contou Jamille na época.

A susposta sequestradora, de acordo com Jamille, estava com uma certidão de nascimento e funcionárias do posto tiraram a criança de seu colo, entregando para a mulher, que era branca. Ela contou que teve que mostrar todos os documentos, autenticando que era mãe da menina. “Quando todos acreditaram em mim, o motorista disse que não poderia me esperar. Estava tão apavorada e com medo que fui embora”, contou. 

Ao tentar registrar a ocorrência na rodoviária, mais um problema. “Eles (policiais) zombaram de mim e disseram que era impossível sem os dados da mulher. Eu não tinha nem o nome dela”. A ocorrência só foi finalmente registrada na Delegacia da Mulher de Betim, no dia 28 de junho. 

*Sob supervisão da subeditora Ellen Cristie


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