Jornal Estado de Minas

BH é a cidade com maior relação veículo/habitante entre 17 capitais do país

- Foto: Belo Horizonte, sexta-feira, seis horas da tarde. Não importa muito onde você esteja, em qualquer direção que olhar provavelmente verá uma fila de carros, motos costurando entre eles e, por trás dos para-brisas, um exército de motoristas irados. O que qualquer condutor que ande pelas ruas da capital mineira nos horários de pico enfrenta no dia a dia é traduzido em números por um indicador divulgado pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT), que ajuda a entender o porquê dos constantes congestionamentos e retenções na cidade. A taxa de motorização apurada no estudo, que na prática é a relação entre a frota e a população, foi a maior entre 17 capitais ou regiões com elevada densidade demográfica pesquisadas no Brasil.

O indicador oscila de zero a 1, e quanto mais perto do máximo, maior é o número de veículos no território analisado. No ranking, a taxa da capital mineira, de 0,65, superou inclusive a maior metrópole do país, São Paulo, que figura em segundo lugar, com índice de 0,61 veículo por habitante. Salvador e Maceió, ambas com 0,27, estão no fim da fila. Para calcular a taxa, a CNT usou dados do IBGE referentes à população e do Denatran relativos à frota, todos considerando o ano-base de 2015.

“Pode-se dizer que existe maior relação de veículos/habitantes em BH, o que, por teoria, pode levar a piores índices de trânsito do que em São Paulo, pois há mais automóveis em circulação em relação à população”, afirma Frederico Rodrigues, sócio da Im Traff, empresa especialista em engenharia de tráfego e transportes, com sede na capital mineira.

Uma das saídas para pelo menos amenizar as retenções em qualquer capital brasileira é a expansão do transporte público de qualidade.

No caso de Belo Horizonte, não precisa ser especialista para defender a ampliação do metrô. Mas a linha 1 (Eldorado/Vilarinho), a única em operação na cidade, continua com os mesmos 28,1 quilômetros há anos.

A linha 2 do metrô de BH, cujo projeto inicial previa ligar o Barreiro ao Bairro Nova Suíça, na Região Oeste, e depois foi reformulado, tendo outros destinos, como a Região Hospitalar, começou a ser cogitada na década de 1980. A linha 3 (Pampulha/Savassi), cujo projeto inicial foi traçado em 12,5 quilômetros, também é promessa antiga. Nenhuma das duas nunca saiu do papel.

A situação é diferente em outras capitais analisadas pela CNT. Em São Paulo, por exemplo, a Companhia do Metropolitano de SP aumentou a extensão do sistema metrô e monotrilho, embora de forma tímida, de 65,3 quilômetros, em 2011, para 68,5 quilômetros em 2015. Vale lembrar que lá, parte do transporte sobre trilhos é operado pela empresa privada ViaQuatro, que detém outros 8,9 quilômetros de linha férrea. Portanto, a malha metroferroviária operada por ambas soma 77,4 quilômetros.

No Rio de Janeiro, onde a taxa de motorização é de 0,39, também houve ampliação do sistema de transporte sobre trilhos, que passou de 40,9 quilômetros, em 2011, para 42,1 quilômetros em 2015.

Contudo, depois do estudo analisado pela CNT, a malha foi ampliada com a linha 4, aumentando em 16 quilômetros. Também é importante frisar que o sistema lá é composto por metrô, VLT, trem metropolitano e bonde.

A malha de trilhos de Porto Alegre (RS) também é maior que a da capital mineira. Na capital do Rio Grande do Sul, a extensão é de 43,9 quilômetros de linha, sendo 42,9 quilômetros para o trem metropolitano e 1 quilômetro para o aeromóvel.

Procurada para comentar a situação apontada pela pesquisa da CNT, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) não respondeu ao contato. Enquanto o sistema gerenciado pela companhia não acompanha o crescimento da demanda por transporte em Belo Horizonte, apenas nos últimos 10 anos, a frota na capital avançou 74%. O total de carros, motos, caminhões, ônibus e outros passou de 1.020.465 unidades, em 2007, para 1.778.298, em 2017. Considerando os indicadores, não é surpresa que a capital tenha se tornado refém dos congestionamentos e retenções no trânsito.

A situação causa constantes dores de cabeça aos moradores da cidade, que completará 120 anos em dezembro próximo. A título de curiosidade, o trânsito foi uma das questões levantadas pelo engenheiro e urbanista Aarão Reis (1853-1936), chefe da equipe construtora da capital mineira, quando finalizou a planta da então nova capital.

“Às ruas, fiz dar a largura de 20 metros, necessária para a conveniente arborização, a livre circulação dos veículos, o tráfego dos carros e trabalhos de colocação e reparações das canalizações subterrâneas. Às avenidas, fixei a largura de 35 metros, suficiente para dar-lhes a beleza e o conforto que deverão, de futuro, proporcionar à população”, justificou Aarão Reis ao apresentar a planta de BH à população.


Frota avança 6 vezes mais que a população


Enquanto o metrô de Belo Horizonte continua empacado em seus pouco mais de 28 quilômetros e a frota de carros na cidade cresce à razão de quase seis vezes o aumento da população, a prefeitura recorre à BHTrans, responsável pelo gerenciamento do trânsito, e à Sudecap, executadora de obras, para tentar aliviar o tormento de motoristas, passageiros e ciclistas.

Uma das medidas é o chamado Planmob, o Plano de Mobilidade, cujas “ações englobam projetos de priorização do transporte coletivo e do não motorizado e prioridade para o pedestre no sistema viário até 2030”.

Na prática, a aposta é em abertura de ciclovias e reestruturação das vias do Centro (boa parte com intervenções já implantadas). “Ainda assim, a Prefeitura de BH realizou obras importantes de infraestrutura viária, como a implantação da Via 210, em 2014, e está concluindo a Via 710, que são rotas para facilitar os acessos locais em algumas regiões da cidade”, informou a BHTrans.

A prefeitura investe também no estímulo ao transporte não motorizado. Atualmente, contudo, a capital conta com 83 quilômetros de pistas para bicicletas. Um número baixo se comparado ao território da cidade (330 quilômetros quadrados).

“O plano prevê a expansão das ciclovias, atingindo 411 quilômetros até 2020. Além da implantação de novas ciclovias e de bicicletários no metrô e nas estações de integração dos ônibus do sistema Move, o plano propõe a manutenção da rede cicloviária existente, implantação de paraciclos nas escolas municipais e campanhas educativas”, informa a BHTrans.

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