Vias alagadas, quedas de árvore – com pelo menos uma pessoa ferida com gravidade em uma delas – e trânsito caótico no fim da tarde de segunda-feira. Se as duas horas de chuva acompanhada de rajadas de vento de ontem foram suficientes para espalhar transtornos por Belo Horizonte, significaram muito pouco para uma cidade cujo abastecimento público de água vem de uma crise que se agravou em 2014 e ainda deve persistir pelos próximos anos. A previsão é da própria Copasa, que responde pelo saneamento na capital e em outros 629 municípios do estado, ao admitir que a estação das águas deve dar um refresco aos reservatórios, mas não afastará de vez o cenário de escassez hídrica em Minas, especialmente no interior.
Na capital, a precipitação de ontem trouxe um alívio apenas para as altas temperaturas. Segundo o diretor de Operação da Copasa, Gilson Queiroz, a região metropolitana acumula apenas 55% da média histórica de precipitação neste ano. A situação é ainda mais crítica em outras cidades do estado, principalmente no Norte de Minas, que sofrem com a falta de abastecimento. O gestor informa que cerca de 15% dos municípios enfrentam escassez hídrica – o que corresponde a 95 cidades. Alvo de críticas nos lugares que passam pelas maiores dificuldades, a estatal entende que setores como agricultura e mineração também devem ser responsabilizados pela crise.
A cobrança à concessionária veio também da Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, que exigiu explicações sobre os investimentos em infraestrutura, a falta de água e seu impacto na vida de cidadãos de vários municípios. “A empresa tinha que ter se planejado, feito obras, investimentos. Não admitimos o sucateamento de mais uma empresa mineira”, disse o autor do requerimento, deputado Antônio Carlos Arantes (PSDB). Para ele, é inadmissível que a Copasa não tenha se preparado para a crise hídrica. O encontro reuniu ainda prefeitos de municípios como São Sebastião do Paraíso, Carmo do Rio Claro e Alpinópolis, no Sul de Minas, além de Bom Despacho e Arcos (Centro-Oeste).
No encontro, representantes das cidades ameaçaram acionar a Justiça e romper o contrato com a companhia de abastecimento, diante do descontentamento com os serviços prestados. O prefeito de Bom Despacho, Fernando José Castro Cabral, foi um deles. Ele contou que a conclusão de obra para tratamento de esgoto na cidade está atrasada há sete anos. “Vinte e cinco por cento do esgoto do município é lançado no rio. Estamos causando um problema ambiental sério para a cidade vizinha de Martinho Campos, que precisa tratar a água a um custo alto”, relatou. José Castro Cabral pede o desligamento da concessionária, caso “não se torne uma empresa séria e responsável”. Em setembro, a prefeitura decretou intervenção na Copasa diante do desabastecimento de água que afeta a cidade de cerca de 50 mil habitantes há semanas.
OUTROS CULPADOS O diretor de Operação disse que a concessionária trabalha para resolver os diversos problemas identificados pelos prefeitos, enquanto lida com situações como aquela que é considerada a pior crise no setor da história de Belo Horizonte. “Neste momento, sofremos com um período de seis anos de redução de chuva. E isso está causando o problema de escassez. A empresa não fabrica água, ela coleta da natureza, trata e abastece. Agora, nós estamos sem água na natureza. Estamos disputando água com setores como agricultura, mineração e produção industrial – os grandes consumidores”, disse o diretor. Ele propõe a divisão da responsabilidade pela situação atual no estado: “Nós investimos parte dos nossos recursos em preservação. Mas não pode ser só a Copasa. Se a empresa capta 6% da água do estado, ela deve investir proporcionalmente. A agricultura, que capta 70%, deveria fazer o mesmo”, comenta.
Para ele, é necessário fazer um grande pacto social para recuperação dos mananciais e preservação da água – desde o uso consciente dos moradores das cidades até o uso inteligente dos grandes consumidores. Ele também ressalta que a Copasa reduziu diretorias e cargos para minimizar custos e possibilitar investimentos.
Pedestre ferida na calçada
Enquanto a Copasa lamenta a “falta de água na natureza”, os belo-horizontinos sofrem com a concentração das primeiras chuvas da estação em poucas horas, e com transtornos que já se tornaram rotina na cidade. Com a precipitação acompanhada de ventania do fim da tarde de ontem, uma das diversas árvores que tombaram na cidade atingiu uma senhora de 65 anos que passava pela calçada, no cruzamento da Avenida Paraná com a Rua Tupinambás, no Centro da capital. No dia 2 deste mês, em situação semelhante, o taxista Fábio Teixeira Mageste, de 35, morreu ao ter seu veículo esmagado por uma palmeira de tronco triplo, na Rua Timbiras, também na área central. A vítima de ontem, não identificada, teve que ser retirada por militares do Corpo de Bombeiros de debaixo do tronco e dos galhos, e foi levada, com traumatismo craniano e fratura em uma das pernas, ao Hospital de Pronto-Socorro João XXIII.
A chegada de uma massa fria resultou em precipitações em toda a capital. Outras árvores que caíram chegaram a fechar vias, o que, somado a alagamentos pontuais, complicou o trânsito na volta para casa, com vários semáforos em flash em alguns dos principais corredores da cidade. Na estação do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) no Cercadinho, na saída para o Rio de Janeiro, foram registradas rajadas de vento de 65km/hora, com 28 milímetros (mm) de chuva. Na Pampulha, as rajadas ficaram em 37km/hora, com 29,6mm.
Desde o começo da tarde, a Coordenadoria Municipal de Defesa Civil de Belo Horizonte (Comdec/BH) já chamava a atenção para a previsão de chuva entre 20mm e 40mm, com rajadas de vento acima de 50km/h. De acordo com medições nas estações da Comdec, as regiões com maiores índices de precipitação foram a Oeste, com 56,6mm, e Centro-Sul, com 56,4 mm.
Além da queda da árvore que deixou vítima no Centro, houve ocorrência semelhante na Rua Guajajaras, no Barro Preto, atrás do Fórum Lafayette. Galhos e tronco fecharam totalmente a via, e o tráfego teve quer ser desviado na Rua Araguari. Na Avenida Afonso Pena quase esquina de Avenida Brasil, uma árvore de pequeno porte fechou uma das pistas.
Situações de alagamento foram registradas em várias vias, mas o Corpo de Bombeiros não chegou a atuar, já que foram ocorrências de pequeno porte. Agentes da BHTrans, empresa que gerencia o trânsito em BH, tiveram bastante trabalho, com o desligamento de alguns semáforos e acidente leves. A situação mais complicada foi na Avenida Cristiano Machado, com trânsito bastante lento na altura do Túnel da Lagoinha.
PREVISÃO De acordo com o meteorologista Ruibran dos Reis, do ClimaTempo, a chuva de ontem, moderada, é resultado da chegada de uma frente fria vinda do Sul brasileiro na noite do domingo. Além da capital, moradores de cidades da Região Metropolitana de BH, Zona da Mata, Sul, Oeste e Triângulo Mineiro tiveram um refresco, depois do forte calor dos últimos dias.
Para hoje, a previsão de Ruibran dos Reis é de precipitações isoladas nas mesmas regiões, com enfraquecimento da frente fria. “Somente a partir da sexta-feira, com a chegada de outra massa fria vinda do Sul do Brasil, de maior intensidade, teremos precipitações contínuas em todo o estado. Mas nada que venha a elevar os níveis dos reservatórios, o que só deve começar ocorrer a partir das chuvas da segunda quinzena de novembro”, explicou o meteorologista.
Na capital, a precipitação de ontem trouxe um alívio apenas para as altas temperaturas. Segundo o diretor de Operação da Copasa, Gilson Queiroz, a região metropolitana acumula apenas 55% da média histórica de precipitação neste ano. A situação é ainda mais crítica em outras cidades do estado, principalmente no Norte de Minas, que sofrem com a falta de abastecimento. O gestor informa que cerca de 15% dos municípios enfrentam escassez hídrica – o que corresponde a 95 cidades. Alvo de críticas nos lugares que passam pelas maiores dificuldades, a estatal entende que setores como agricultura e mineração também devem ser responsabilizados pela crise.
A cobrança à concessionária veio também da Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, que exigiu explicações sobre os investimentos em infraestrutura, a falta de água e seu impacto na vida de cidadãos de vários municípios. “A empresa tinha que ter se planejado, feito obras, investimentos. Não admitimos o sucateamento de mais uma empresa mineira”, disse o autor do requerimento, deputado Antônio Carlos Arantes (PSDB). Para ele, é inadmissível que a Copasa não tenha se preparado para a crise hídrica. O encontro reuniu ainda prefeitos de municípios como São Sebastião do Paraíso, Carmo do Rio Claro e Alpinópolis, no Sul de Minas, além de Bom Despacho e Arcos (Centro-Oeste).
No encontro, representantes das cidades ameaçaram acionar a Justiça e romper o contrato com a companhia de abastecimento, diante do descontentamento com os serviços prestados. O prefeito de Bom Despacho, Fernando José Castro Cabral, foi um deles. Ele contou que a conclusão de obra para tratamento de esgoto na cidade está atrasada há sete anos. “Vinte e cinco por cento do esgoto do município é lançado no rio. Estamos causando um problema ambiental sério para a cidade vizinha de Martinho Campos, que precisa tratar a água a um custo alto”, relatou. José Castro Cabral pede o desligamento da concessionária, caso “não se torne uma empresa séria e responsável”. Em setembro, a prefeitura decretou intervenção na Copasa diante do desabastecimento de água que afeta a cidade de cerca de 50 mil habitantes há semanas.
OUTROS CULPADOS O diretor de Operação disse que a concessionária trabalha para resolver os diversos problemas identificados pelos prefeitos, enquanto lida com situações como aquela que é considerada a pior crise no setor da história de Belo Horizonte. “Neste momento, sofremos com um período de seis anos de redução de chuva. E isso está causando o problema de escassez. A empresa não fabrica água, ela coleta da natureza, trata e abastece. Agora, nós estamos sem água na natureza. Estamos disputando água com setores como agricultura, mineração e produção industrial – os grandes consumidores”, disse o diretor. Ele propõe a divisão da responsabilidade pela situação atual no estado: “Nós investimos parte dos nossos recursos em preservação. Mas não pode ser só a Copasa. Se a empresa capta 6% da água do estado, ela deve investir proporcionalmente. A agricultura, que capta 70%, deveria fazer o mesmo”, comenta.
Para ele, é necessário fazer um grande pacto social para recuperação dos mananciais e preservação da água – desde o uso consciente dos moradores das cidades até o uso inteligente dos grandes consumidores. Ele também ressalta que a Copasa reduziu diretorias e cargos para minimizar custos e possibilitar investimentos.
Pedestre ferida na calçada
Enquanto a Copasa lamenta a “falta de água na natureza”, os belo-horizontinos sofrem com a concentração das primeiras chuvas da estação em poucas horas, e com transtornos que já se tornaram rotina na cidade. Com a precipitação acompanhada de ventania do fim da tarde de ontem, uma das diversas árvores que tombaram na cidade atingiu uma senhora de 65 anos que passava pela calçada, no cruzamento da Avenida Paraná com a Rua Tupinambás, no Centro da capital. No dia 2 deste mês, em situação semelhante, o taxista Fábio Teixeira Mageste, de 35, morreu ao ter seu veículo esmagado por uma palmeira de tronco triplo, na Rua Timbiras, também na área central. A vítima de ontem, não identificada, teve que ser retirada por militares do Corpo de Bombeiros de debaixo do tronco e dos galhos, e foi levada, com traumatismo craniano e fratura em uma das pernas, ao Hospital de Pronto-Socorro João XXIII.
A chegada de uma massa fria resultou em precipitações em toda a capital. Outras árvores que caíram chegaram a fechar vias, o que, somado a alagamentos pontuais, complicou o trânsito na volta para casa, com vários semáforos em flash em alguns dos principais corredores da cidade. Na estação do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) no Cercadinho, na saída para o Rio de Janeiro, foram registradas rajadas de vento de 65km/hora, com 28 milímetros (mm) de chuva. Na Pampulha, as rajadas ficaram em 37km/hora, com 29,6mm.
Desde o começo da tarde, a Coordenadoria Municipal de Defesa Civil de Belo Horizonte (Comdec/BH) já chamava a atenção para a previsão de chuva entre 20mm e 40mm, com rajadas de vento acima de 50km/h. De acordo com medições nas estações da Comdec, as regiões com maiores índices de precipitação foram a Oeste, com 56,6mm, e Centro-Sul, com 56,4 mm.
Além da queda da árvore que deixou vítima no Centro, houve ocorrência semelhante na Rua Guajajaras, no Barro Preto, atrás do Fórum Lafayette. Galhos e tronco fecharam totalmente a via, e o tráfego teve quer ser desviado na Rua Araguari. Na Avenida Afonso Pena quase esquina de Avenida Brasil, uma árvore de pequeno porte fechou uma das pistas.
Situações de alagamento foram registradas em várias vias, mas o Corpo de Bombeiros não chegou a atuar, já que foram ocorrências de pequeno porte. Agentes da BHTrans, empresa que gerencia o trânsito em BH, tiveram bastante trabalho, com o desligamento de alguns semáforos e acidente leves. A situação mais complicada foi na Avenida Cristiano Machado, com trânsito bastante lento na altura do Túnel da Lagoinha.
PREVISÃO De acordo com o meteorologista Ruibran dos Reis, do ClimaTempo, a chuva de ontem, moderada, é resultado da chegada de uma frente fria vinda do Sul brasileiro na noite do domingo. Além da capital, moradores de cidades da Região Metropolitana de BH, Zona da Mata, Sul, Oeste e Triângulo Mineiro tiveram um refresco, depois do forte calor dos últimos dias.
Para hoje, a previsão de Ruibran dos Reis é de precipitações isoladas nas mesmas regiões, com enfraquecimento da frente fria. “Somente a partir da sexta-feira, com a chegada de outra massa fria vinda do Sul do Brasil, de maior intensidade, teremos precipitações contínuas em todo o estado. Mas nada que venha a elevar os níveis dos reservatórios, o que só deve começar ocorrer a partir das chuvas da segunda quinzena de novembro”, explicou o meteorologista.