Nova polêmica envolvendo a Lei do Silêncio em Belo Horizonte. A Câmara Municipal está prestes a votar em definitivo o Projeto de Lei 751/13, que amplia o volume de ruído permitido na chamada Capital dos Botecos. Antes mesmo da apreciação, a proposta já provoca barulho entre seus defensores e os que a rejeitam. De um lado, a flexibilização beneficia setores que geram emprego e renda na cidade, como bares e restaurantes. De outro, tem potencial para aumentar o tormento de vizinhos desses empreendimentos e de instituições que também seriam beneficiadas com a alteração da legislação (veja quadro), entre elas igrejas e clubes sociais.
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Moradores temem que norma que libera música ao vivo prejudique lei do silêncioProjeto que flexibiliza Lei do Silêncio provoca barulho na CâmaraChances de chuva diminuem e temperatura sobe até o fim da semana em BHAdolescente é morto a tiros em Nova LimaSargento reage a tentativa de assalto, mata suspeito e prende outro em Venda NovaO nível de som poderá atingir até 85 decibéis com o chamado ruído de fundo (barulho natural da cidade), em casos específicos.
As novas regras, se aprovadas, vão aliviar o bolso de muita gente que hoje desrespeita os limites e acaba autuada por isso. Para se ter, ideia, de 1º de julho a 21 de outubro deste ano, a Secretaria Municipal de Políticas Urbanas registrou 220 infrações e lavrou 192 multas relacionadas à Lei do Silêncio. Os valores oscilam de R$ 458 a R$ 8.846, dependendo de fatores como reincidência, percentual de ruído acima do permitido, entre outros.
O projeto esteve na pauta da sessão extraordinária da última segunda-feira, mas não foi analisado em plenário por causa da confusão envolvendo a votação de projeto que ampliou a alíquota do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) – que, na fila de propostas listadas para apreciação, estava à frente. Ontem, também não foi a votação em razão de a sessão ter sido cancelada.
O Projeto 751 deve voltar à pauta na próxima sessão da Câmara, prevista para 1º de novembro.
Pressão e apoio
Enquanto algumas comunidades e associações tampam os ouvidos para a possibilidade de flexibilização da Lei do Silêncio, o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) em Minas Gerais e coordenador da Frente Mineira de Gastronomia, Ricardo Rodrigues, torce para a aprovação do projeto. Em Belo Horizonte, o setor reúne aproximadamente 18,6 mil estabelecimentos e emprega em torno de 100 mil pessoas, sendo importante fonte de impostos municipais.
“Defendemos uma lei pelo menos exequível. E a nossa não é. Atualmente, o chamado ruído de fundo é maior do que o nível que o estabelecimento emite. Esse barulho, por si só, faz restaurantes e bares serem multados. Queremos trabalhar dentro da legalidade, com patamares de decibéis que sejam compatíveis com o setor”, defendeu o empresário.
Por sua vez, associações de moradores se movimentam para convencer os parlamentares a descartar o texto. A missão não é fácil, mas o grupo recorre a ferramentas como as redes sociais para pressionar os vereadores.
O presidente da Associação dos Moradores do Bairro Buritis (Região Oeste) e integrante do Movimento das Associações de Moradores dos Bairros de Belo Horizonte, Bráulio Lara, argumenta que, em último caso, recorrerá ao Ministério Público de Minas Gerais. “Esse projeto não é benéfico. Em última instância, iremos aos promotores”, avisou.
Bráulio esteve na Câmara Municipal na segunda-feira, quando o projeto estava na pauta de votações. O presidente da Associação dos Moradores do Coração Eucarístico, na Região Noroeste, Walter Freitas, endossa suas palavras. Ele reconhece a importância dos setores que seriam beneficiados pela mudança da lei, mas diz pensar no coletivo. “São os decibéis da discórdia. Esperamos que os vereadores não aprovem a proposta e, caso tenha o aval do plenário, que seja vetada pelo prefeito Alexandre Kalil. Precisamos de paz”, disse.
O líder do governo no Legislativo e um dos autores das emendas que podem alterar a atual lei, vereador Léo Burguês, foi procurado pelo Estado de Minas para comentar o assunto, mas não foi encontrado..