Jornal Estado de Minas

Na iminência de enchentes, só uma das 4 bacias de BH teve obra de grande porte

- Foto: Arte EM

Uma enxurrada de transtornos ameaça moradores de diferentes regiões de Belo Horizonte a partir dos próximos dias. Com a meteorologia prevendo pancadas de chuva para o fim deste mês e precipitações mais intensas a partir de novembro, fica anunciada também a temporada de problemas em corredores da cidade historicamente marcados pelas enchentes. A previsão pode ser entendida com base no mapa da capital. Das quatro bacias hidrográficas que cortam a cidade, só a do Ribeirão Arrudas terá obras de de grande porte concluídas este ano – ainda assim em parte –, o que significa apenas um alívio para conter os alagamentos na Avenida Tereza Cristina. Nas demais bacias – Onça, Isidoro e Velhas –, nenhuma grande obra estruturante foi finalizada este ano para minimizar o sofrimento de quem a cada estação chuvosa vê a água subir e invadir casas e pontos de comércio. Com a mesma estrutura urbana, o cenário de temporadas chuvosas anteriores tende a se repetir em pontos como as avenidas Cristiano Machado, Bernardo Vasconcelos, Vilarinho e Prudente de Morais, além da Avenida Francisco Sá, no Prado.

Do pacote previsto para ter início no segundo semestre deste ano (veja arte), as obras consideradas de maior impacto nem mesmo foram licitadas. Constam dessa lista as intervenções nos córregos Jatobá e Olaria, além do Reservatório Bairro das Indústrias (Ribeirão Arrudas), ambas com impacto direto na Tereza Cristina. Estão na mesma situação as obras de macrodrenagem nos córregos Pampulha e Onça, com reflexos na Cristiano Machado e no entorno da Estação São Gabriel.
Neste último caso, o edital da obra, no valor de R$ 230 milhões, foi lançado em 1º de agosto e, um mês depois foi suspenso, devido ao grande número de contestações: foram 120 pedidos de informação. Outro edital deve ser lançado em janeiro e as obras, ainda sem prazo para ter início, vão durar pelo menos três anos, o que ainda deixa muito distante uma solução para as enchentes na Cristiano Machado.

A própria Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura reconhece o problema que vem pela frente. “BH tem 82 pontos de inundação mapeados, mas nossos grandes problemas continuam sendo as avenidas Vilarinho e Cristiano Machado, na altura do Bairro 1º de Maio”, afirma o secretário Josué Valadão. Ele também cita as avenidas Prudente de Morais, no Bairro Cidade Jardim, e Francisco Sá, no Prado, localizadas em fundos de vale, em ponto de menor elevação, reconhecendo que o problema das enchentes permanecerá na temporada que se aproxima.

No caso da Tereza Cristina, ele explica que a conclusão de parte da obra dos Córrego Túnel/Camarões (Barreiro), com implantação de duas barragens de contenção, vai minimizar os transtornos ao longo da avenida. Essa obra, segundo o secretário, estava paralisada e foi retomada em março. “Em novembro, ela já mostrará sua funcionalidade. Apesar de não estar concluída 100% – o cronograma se encerra em outubro de 2018 –, as bacias de contenção estarão prontas, o que traz um alívio para a região.” O Arrudas, no entanto, continuará a receber o fluxo do Córrego Ferrugem, que vem de Contagem e cujas obras de drenagem devem ser feitas pela prefeitura do município que faz limite com a capital.

CACHOEIRINHA Outro ponto crítico de alagamentos, a Avenida Bernardo Vasconcelos também deve sofrer com novos transbordamentos do Córrego Cachoeirinha.

O custo da obra para melhoria da drenagem está estimado em R$ 120 milhões, mas os recursos para ela estão sendo pleiteados junto ao governo federal.

Sobre as queixas da população, o secretário reconhece que elas procedem, mas afirma que foi feito o que foi possível, dentro das adversidades do período. “As queixas são válidas, mas temos a consciência de que aquilo que a gente fez, as pessoas deixaram de reclamar. Priorizamos os casos mais graves, dentro do que foi possível”, afirmou, referindo-se às últimas intervenções. “No ano passado, houve paralisação total, inclusive da elaboração de projetos”, explica o secretário Josué Valadão, referindo-se à falta de recursos decorrentes da crise econômica.

A retomada, segundo ele, ocorreu neste ano. Valadão ressalta que projetos de infraestrutura exigem elaboração criteriosa e demorada, com base inclusive em dados meteorológicos. Para dificultar, editais publicados para licitação das obras foram contestados por empresas concorrentes e parte deles foi suspensa para reformulação. “Um processo normal de licitação dura entre três e quatro meses. Mas, neste ano, como BH está com um pacote de obras muito grande, há uma disputa feroz entre as empresas concorrentes, que têm feito um grande número de questionamentos sobre os editais”, afirma o secretário.

Ele destaca que os competidores têm o direito de discordar das regras da concorrência, mas ressalta que isso tem atrasado os processos.

Enquanto as obras não chegam, a recomendação da Secretaria de Obras é para que a população esteja atenta aos chamados da Defesa Civil, que mantém núcleos treinados de alerta de chuva para atuar em diferentes pontos de alagamento.

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