Mariana e Barra Longa – Faltando uma semana para que o rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, complete dois anos, resta para ser construída uma das estruturas previstas para a contenção dos 13 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração ainda contidos na represa, arrasada em 5 de novembro de 2015.
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Rompimento da Barragem do Fundão segue gerando transtornos até o oceano Indenização desigual gera tensão em Mariana e Barra LongaPGR cobra indenização rápida para atingidos de MarianaOAB vai ajudar a avaliar indenizações às vítimas da tragédia de MarianaJustiça paralisa implantação de barragem de rejeitos em ItabiritoPrefeitura de Mariana vê nova mineradora como saída para melhorar finançasBento Rodrigues é hoje um cemitério de casas abandonadasO chamado Eixo 1 será uma barragem de 80 metros de altura a ser construída com metodologia mais resistente que a técnica do antigo reservatório (uso de rejeitos e para alteamento da área de armazenagem), com início das obras previsto para março de 2018 e término em dezembro de 2019. Essa construção será conduzida pela Fundação Renova, que foi criada após acordo da União com a operadora da barragem, a Samarco, e suas proprietárias – as mineradoras Vale e BHP Biliton.
A etapa encerra as ações prioritárias desde o desastre, que eram voltadas para a garantia de estabilidade das estruturas de contenção de lama e minério de ferro. Nessa etapa, a Renova admite que não conseguiu avançar com o desassoreamento da Barragem de Candonga, da Usina Hidrelétrica Risoleta Neves, mas considera que ações como o auxílio emergencial às vítimas e o próprio arranjo da fundação para a reparação dos impactos foram executados.
O presidente da Renova, Roberto Waack, afirma que no caso de Candonga o plano usado para desassorear o reservatório e permitir o funcionamento da usina foi equivocado. “Não conseguimos avançar dentro das condições de Candonga. O problema foi na retirada dos rejeitos dos 400 metros antes da barragem. Acabamos enxugando gelo, pois removíamos o rejeito e mais desse material logo era carreado de volta”, conta.
Outras soluções precisaram então ser implementadas.
Apesar de várias críticas que têm ecos até os dias de hoje, o presidente da Renova afirma que o atendimento emergencial às vítimas, com habitações providenciadas, cartão de auxílio com um salário mínimo acrescido de 20% do valor por dependente, uma cesta básica para 8.323 famílias e outros tipos de ações foram concluídos.
“O processo de auxílio emergencial ocorreu ao mesmo tempo em que a estabilização das estruturas era feita e teve todas as imperfeições que um processo de auxílio emergencial poderia ter. Mas não é a indenização definitiva, ainda estamos melhorando cadastros e negociando”, disse o presidente da fundação.
Na época do rompimento da represa, o complexo minerário da Samarco não tinha sequer sirenes para dar o alarme em caso de desastre. Hoje, uma rede de radares monitora todos os barramentos com precisão tão grande que o vento movimentando a vegetação pode ser detectado.
De volta à mineração
A Barragem do Fundão se tornou uma cratera, com o rejeito ainda existente formando barrancos erodidos, com o córrego que deu nome à represa escoando ao fundo. Quatro barreiras de redução da velocidade de rejeitos foram construídas para impedir que haja um desprendimento com alta energia.
“Uma das soluções para conseguir fazer intervenções nessa área foi o bombeamento da água das chuvas que vinha da Barragem de Germano e que acabava entrando em Fundão. Essa água, agora, é desviada para o Rio Piracicaba e não mais contribui com a desestabilização da área”, conta o responsável pelas obras da Samarco, Eduardo Moreira.
As estruturas da Barragem de Germano que foram danificadas com o rompimento de 5 de novembro de 2015 – os diques Sela, Selinha e Tulipa – foram reformadas. A Barragem de Santarém, que continha água e foi saturada com rejeitos no dia do rompimento, foi reforçada pela Barragem de Nova Santarém.
Uma sequência de quatro diques foi formada entre a Samarco e Bento Rodrigues para evitar que rejeitos continuassem a chegar ao Rio Gualaxo do Norte e, por ele, ao Rio Doce. Duas delas já cumpriram suas vidas úteis.
O desastre socioambiental
Em 5 de novembro de 2015, 39,2 milhões de metros cúbicos dos 50 milhões de rejeitos contidos em Fundão foram despejados no meio ambiente com o rompimento da barragem.
Em Mariana, entre o complexo minerário onde ocorreu o rompimento e o subdistrito de Bento Rodrigues, a devastação foi a mais grave, matando 19 pessoas - um dos corpos nunca foi encontrado.
Foram atingidos e quase soterrados, ainda, o povoado de Paracatu de Baixo e a cidade de Barra LongaA represa de Candonga foi entupida pelos rejeitos de mineração e parou de funcionarPescadores de Minas Gerais não podem mais fisgar espécie nativas e a atividade foi suspensa no mar O rejeito percorreu e se sedimentou mais de 660 km, nas calhas do Córrego Santarém, rios Gualaxo do Norte, do Carmo e Doce até o mar.
1.469 hectares foram destruídos pela lama
11 toneladas de peixes grandes foram recolhidos mortos. Espécimes menores entraram em decomposição
A lama causou a fragmentação e destruição de hábitats, contaminação da água, assoreamento do leito dos rios, soterramento das lagoas e nascentes e destruição de áreas de reprodução de peixes.