A hipótese mais forte para o ataque a tiros contra dois agentes carcerários da Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na Grande BH, na terça-feira, é a consumação de ameaças feitas por detentos de uma facção criminosa paulista. De acordo com o delegado regional de Contagem, Christiano Xavier, três filhos de um preso que morreu após passar mal na unidade e também estavam confinados na Nelson Hungria foram impedidos de acompanhar o velório e o enterro do pai, no Sul de Minas. A situação teria gerado a ira dos detentos, que passaram a proferir ameaças diversas contra os trabalhadores da penitenciária. A Polícia Civil conseguiu imagens do principal suspeito de ser o atirador que baleou 11 vezes as duas vítimas e espera conseguir informações sobre o paradeiro da dupla. Os dois criminosos ocupavam uma caminhonete vermelha e foram flagrados por câmeras de segurança de um condomínio perto da penitenciária.
“Na verdade, a gente não pode descartar nada, mas a linha que é mais acertada é realmente em razão de uma série de acontecimentos que antecederam o dia 31, que foi a data do fato”, afirma o delegado Christiano Xavier. O policial explica que uma das situações que fizeram a polícia acreditar mais na questão das ameaças foi o fato de a vida pregressa da dupla de agentes baleados não trazer nenhum tipo de problema que poderia motivar as tentativas de homicídio. Ambos são agentes penitenciários há 12 anos e recentemente foram efetivados nos cargos, estando na Nelson Hungria há apenas cinco meses. Os dois também dividiam o mesmo imóvel, já que não são da Grande BH, e moravam a uma distância de 10 minutos de caminhada do presídio. Muito provavelmente, segundo a polícia, os dois foram alvo dos tiros porque um deles vestia uma calça e uma bota que são parte do uniforme do sistema prisional, o que pode ter atraído os bandidos.
A série de acontecimentos que podem ter motivado o início das ameaças contra os agentes da Nelson Hungria começou em 25 de outubro. Nesse dia, um presidiário de 66 anos, apontado com ladrão de caixas eletrônicos no Sul de Minas, passou mal e foi atendido na cadeia. Em seguida, ele foi levado para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), mas teve parada cardíaca e morreu. Três filhos e um genro do criminoso, que também estavam envolvidos na explosão de caixas eletrônicos em Campos Gerais, no Sul de Minas, e foram presos faziam companhia ao pai na Nelson Hungria. Eles pediram para ir ao velório e ao enterro, mas a possibilidade foi negada. A partir daí, começam as intimidações. “Em razão dessas ameaças eles foram transferidos. Cada um foi para um presídio e gerou mais uma vez uma série de insatisfação”, acrescenta o delegado. Em seguida, a mãe dos três foi à cadeia visitá-los, mas ao descobrir que tinham sido transferidos também ameaçou de morte alguns agentes penitenciários.
IMAGEM DE SUSPEITO Na terça-feira, dois homens se aproximaram da cadeia por volta das 6h30 em uma caminhonete Strada vermelha. Ao visualizarem os agentes chegando para o trabalho, um deles com a calça do sistema prisional, pediram informações antes que um deles abriu fogo. Foram nove tiros em Elber Vasconcelos Xavier, de 40, e dois tiros em Natan Gomes da Silva, de 41. Elber estava desarmado e por isso foi o mais alvejado. Apesar da quantidade de tiros, ele já respira sem aparelhos e conversa normalmente. A vítima ainda tem uma bala alojada no maxilar e segue internada. Já Natan portava uma arma e conseguiu se abrigar em um poste, trocando tiros com o criminoso antes que a dupla fugisse. Ele já teve alta hospitalar. Foi no momento da fuga que os dois bandidos acabaram flagrados por uma câmera de um condomínio próximo. Um deles aparece de forma bem nítida, enquanto o outro usa um boné e tem o rosto encoberto. “Eles ainda pararam e pediram informações sobre como chegar na BR-040”, completa o delegado. Os próximos passos da investigação vão focar na identificação dos dois, além de buscar os depoimentos dos presos que teriam incentivado o ataque.