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Estado de Minas

Um mês após tragédia em Janaúba, famílias tentam lidar com a saudade

Famílias das vítimas do ataque em creche no Norte de Minas, que completa um mês amanhã, convivem com a incerteza sobre indenizações


postado em 04/11/2017 07:00 / atualizado em 04/11/2017 08:19

(foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press )
(foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press )

Janaúba – Uma angústia que parece não ter fim. Quase um mês depois de o vigilante Damião Soares dos Santos incendiar a creche Gente Inocente, em Janaúba, as famílias das vítimas ainda tentam entender os motivos do ato bárbaro que matou nove crianças e uma professora. O ataque ocorrido na manhã de 5 de outubro deixou em luto a cidade de pouco mais de 71 mil habitantes no Norte de Minas e marcou a vida de parentes, a maioria moradores de áreas de baixa renda da periferia da cidade, que ainda convivem com a incerteza sobre as indenizações do poder público sobre a tragédia.

Nove pessoas ainda continuam internadas, sendo quatro adultos e cinco crianças, na Santa Casa de Montes Claros e em Belo Horizonte. A reportagem do Estado de Minas retornou a Janaúba para acompanhar o drama das famílias que, no feriado de Finados, se reencontraram no cemitério do município para homenagear as crianças e a professora Heley de Abreu Batista, de 43 anos, que morreu queimada enquanto salvava seus alunos do incêndio. Na quarta-feira, o prédio onde funcionava a creche começou a ser demolido. No local será construída uma moderna unidade, com recurso tirado de doação feita por empresários. A previsão é de que a creche seja reaberta em 25 de fevereiro de 2018, no início do ano letivo.

A tragédia transformou completamente a vida da doméstica Luana Ferreira da Silva, de 34 anos. Quatro filhos dela estavam matriculados na unidade de ensino infantil. Um deles, a menina Ana Clara  Ferreira  Silva, de 4 anos, morreu queimada. Duas outras filhas ficaram feridas. Um quarto filho, Victor Hugo, de 4, gêmeo de Ana Clara, escapou ileso porque não foi à creche por estar com conjuntivite. “Ainda não digeri tudo que aconteceu”, afirmou. Ela diz que ainda aguarda reforma no quintal de sua casa prometida pela Prefeitura de Janaúba. Isso porque as duas filhas que se recuperam da inalação de fumaça tóxica não podem inalar poeira. A doméstica ainda não levou os outros três filhos para as atividades na creche, que está funcionando de maneira improvisada. “Não voltei e nem quero que eles voltem”, desabafou.

Desde de 18 de outubro, as atividades para os alunos da creche Gente Inocente foram reiniciadas em um prédio improvisado, cedido pela Secretaria Municipal de Saúde de Janaúba, onde de 66 crianças matriculadas, 44 retornaram às aulas. Em uma das salas da instituição está escrito em letras coloridas: “Criança. Festejamos a alegria da sua existência”.

DESABAFO Mas, para muitos pais, a dor da perda é uma sensação que jamais será superada. “Nem sei explicar. É uma dor que permanece, mas a vida tem de continuar. Não tem para onde correr”, declara a dona de casa Daniele de Oliveira Barros, de 34, ao falar da saudade da filha Thallyta Vitoria Bispo de Oliveira Barros, de 4, morta na tragédia da Gente Inocente. Thallyta teve queimaduras de segundo e terceiro graus por quase todo o corpo e foi encaminhada para o Hospital João XXIII, em BH, mas não resistiu e morreu dois dias depois da tragédia. “Não queria que minha filha continuasse sofrendo, com mais de 70% do corpo queimado. Entreguei-a para Deus. Acho que Deus fez o melhor para minha filha”, desabafa.

Mãe de Mateus Felipe Rocha Santos, de 5, que também perdeu a vida na tragédia da creche Gente Inocente, a balconista Valdirene Santos, de 39, afirmou que, aos poucos, vem tentando retomar a vida. Ela recebeu três salários mínimos, oriundos das doações para as vítimas, que vieram de todas as partes do Brasil. “Sei que a doação foi feita por pessoas de bom coração. Vamos gastar uma parte no túmulo do meu filho”, comentou. Assim como muitos outros parentes das vítimas, diz ainda aguardar indenização da prefeitura.

Fernanda Conceição Rodrigues, de 34, diz que os últimos dias foram os mais difíceis desde a morte do filho único, Luiz Davi Carlos Rodrigues, de 4. “Os outros dias do mês que passou parecem que foram piores do que o próprio acontecimento”, afirma. Desde o dia do incêndio, a única mudança que a tem ajudado, segundo Fernanda, foi ter conseguido arrumar um emprego.


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