A boa-fé em participar de um grupo de carona no WhatsApp resultou em uma viagem fatal para uma jovem de 22 anos no Triângulo Mineiro, onde a Polícia Civil apresentou ontem à imprensa o homem que usou a rede social com o objetivo de cometer crimes. A vítima, Kelly Cristina Cadamuro, foi enforcada e morta por Jonathan Pereira do Prado, de 33, a 25 quilômetros do destino da viagem combinada pelo aplicativo na quarta-feira. A jovem iria de São José do Rio Preto (SP), onde estudava e trabalhava, para Itapagipe, em Minas, onde passaria o feriado prolongado com o namorado. Depois de viajar cerca de 125 quilômetros com o algoz – e a 25 quilômetros da chegada –, veio o desfecho trágico. Jonathan pediu para a moça parar o carro e anunciou o assalto. Enforcou a vítima, amarrou seus braços para trás com uma corda premeditadamente levada na mochila e mergulhou a cabeça dela no Ribeirão Marimbondo, que passa às margens da MG-255, em Frutal, também no Triângulo. Há suspeita ainda de que ele tenha estuprado a jovem. O caso, que deixou familiares e amigos em choque, chama a atenção para o perigo de se oferecer e pegar carona com desconhecidos, prática que nunca deve ser adotada, segundo autoridades policiais.
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Conversa com namorado em rede social mostra últimos momentos de jovem assassinadaGrupo de carona foi desculpa de assassino para praticar assaltos no TriânguloMais dois homens são presos no caso da jovem morta após carona no Triângulo Passageiros denunciam golpe em App de transportePolícia indicia por estupro homem que matou jovem após carona em FrutalPolícia fará reconstituição da morte de Kelly CristinaHomem que matou jovem em Frutal é agredido por outros detentosJustiça decreta prisão preventiva de homem que confessou morte de jovem em Frutal após pedir caronaJovem morta ao dar carona economizava dinheiro para casamentoO delegado Fernando Vetorazo, responsável pelo plantão da Delegacia de Frutal, afirmou que Jonathan será indiciado pelo crime de latrocínio (roubo seguido de morte) e também investigado por violência sexual. Já os dois comparsas vão responder por receptação. Ao detalhar a dinâmica do crime, o delegado disse que quando o suspeito se ofereceu no grupo de WhatsApp para dividir as despesas da viagem, Jonathan chegou a informar à vítima que a mulher dele também iria de carona. A informação era falsa e foi usada para enganar a vítima.
Em entrevista ao repórter Samir Alouan, da Rádio 97 FM, de Frutal, Jonathan confessou que matou Kelly com uma “gravata”, referindo-se ao ato de estrangular a vítima, e que sua intenção “era só pegar o carro”. “Nem eu sei falar, senhor. Na hora ali... sei lá, eu tava passando dificuldade. Ao mesmo tempo eu não queria fazer, ao mesmo tempo queria. Mas era só o carro.
VIOLÊNCIA A suspeita de crime sexual foi levantada pela Polícia Civil após o corpo de Kelly ter sido encontrado seminu. Ela estava sem a calça e as roupas íntimas. Após buscas nas imediações, a calça jeans dela foi encontrada pelos policiais. O corpo da vítima passou por necrópsia e o exame poderá confirmar se houve ou não violência sexual. O delegado disse que a jovem apresentava lesões que caracterizam uma situação de luta corporal, bem como o suspeito, que também tinha arranhões pelo corpo. Jonathan nega que tenha cometido estupro. O corpo da jovem foi velado e sepultado em Guapiaçu, São Paulo, cidade vizinha a Rio Preto, onde Kelly morava com a família.
Para chegar até o suspeito do crime, as polícias Civil e Militar analisaram imagens de câmeras de segurança da praça de pedágio de Fronteira, na divisa de Minas com São Paulo, e do posto de gasolina onde Kelly abasteceu seu veículo, em Rio Preto, antes de viajar. As duas corporações também receberam denúncias anônimas que levaram ao autor confesso do crime.
Polícia condena a prática
A prática de combinar caronas por meio de aplicativos é comum em cidades do interior, especialmente entre universitários que viajam de um município a outro para estudar, e também é frequentemente usada por estudantes de grandes polos, a exemplo de Belo Horizonte. Mas, segundo autoridades policiais, a carona nunca deve ser oferecida ou aceita quando a situação envolve desconhecidos, sob o risco da exposição a algum tipo de crime. “Essa prática só pode ocorrer quando se sabe a procedência da pessoa, quem ela é, onde mora, os antecedentes dela, se tem conhecidos em comum”, afirma o delegado Fernando Vetorazo.
Segundo ele, Kelly agiu de “boa-fé”, mas, infelizmente, o resultado foi trágico. “Não se pode simplesmente jogar uma informação de carona em um aplicativo, sem conhecer com quem se está lidando. Ela teve uma atitude de boa-fé e até informou ao namorado, que a avisa para ter cuidado. Mas isso nunca deve ocorrer”, destaca o delegado.
Antes de ser assassinada, Kelly fez contato com familiares e com o namorado, enquanto abastecia em um posto de combustíveis na BR-153, em Rio Preto. Nas mensagens trocadas com o jovem, ela avisa que estava deixando a cidade paulista e que viajaria sozinha com o homem que havia se oferecido para a carona, já que a mulher não tinha ido. Ele diz para ela ter cuidado e em outras mensagens monitora o andamento da viagem, mas já sem resposta.
Segundo uma pessoa ligada à vítima, Kelly era uma moça calma, brincalhona, humilde e muito ligada à família. A jovem morava em Guapiaçu, São Paulo, cidade vizinha a Rio Preto, onde era vendedora em uma ótica, durante o dia, e estudante de radiologia à noite.
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