Regência Augusta – A água verde do Rio Doce só ficava escura quando encontrava o mar em Regência Augusta, distrito de Linhares, no Espírito Santo, onde se encerra a jornada desse manancial que nasce em Minas Gerais. E sempre foi assim, segundo os pescadores dessa antiga colônia capixaba. Mas, após a passagem da lama de rejeitos minerários que foi despejada no Rio Doce depois do rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, essa situação mudou. Desde 21 de novembro de 2015, quando os rejeitos produzidos em Minas Gerais chegaram a Regência Augusta, tanto o rio quanto o mar mudam seu aspecto para uma coloração marrom, por vezes mais escura. Basta uma mudança de vento, de maré ou chuva para que o rejeito, que chega a dois palmos nos leitos fluvial e marinho, se eleve.
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Em Vitória, a areia das praias próximas ao porto de Tubarão ganham um aspecto similar sempre que ocorre algum derramamento ou carreamento de minério de ferro das esteiras entre os navios e os depósitos do mineral.
ROTINAS ALTERADAS O pescador Joel Marques Ferreira, de 64 anos, afirma que tanto no rio quanto no mar basta uma mudança de vento para observar o ressurgimento do minério trazido pelo Rio Doce. “É só dar um vento que joga para fora (da água) o resíduo que sobrou. Está tudo contaminado. Desanimou tudo para a gente que tinha aqui só a pesca e a praia. Agora, nem a praia mais a gente tem.
Dois anos depois da passagem da lama, Regência ainda sofre os impactos. “Ainda há quatro pescadores que não foram cadastrados e não receberam nada ainda. Não temos a análise do peixe para ver se está contaminado e por isso não podemos pescar. Por falta de uso, os equipamentos da colônia de pesca estão se acabando. Acabou o gás dos congeladores, as geladeiras trancaram os motores. Os barcos estão encostados, apodrecendo”, afirma o presidente da Associação dos Pescadores de Regência, Leônidas Carlos. “Pouca ou nenhuma medida corretiva foi feita. A situação do turismo tem se agravado a quase zero, com muitas pousadas fechando.
ANÁLISE QUÍMICA O Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema) do Espírito Santo informou não ter feito uma análise nos minerais encontrados na praia de Regência Augusta, mas destacou que há algumas praias com grãos mais pesados que podem ter sido expostos pela intensa agitação marítima. A Fundação Renova, que foi criada para organizar e executar as reparações ambientais necessárias depois do rompimento da Barragem do Fundão informou por meio de nota que “irá fazer uma caracterização em um trecho piloto no Espírito Santo para caracterizar detalhadamente a presença e o comportamento do rejeito no local. Mas, sem uma análise química, não se pode afirmar que é rejeito ou minério”..