Um dos passos que a Polícia Civil pretende cumprir na investigação para apurar todos os detalhes da morte bárbara da jovem Kelly Cristina Cadamuro, de 22 anos, assassinada no Triângulo Mineiro após dar carona para um homem desconhecido, é a reconstituição do crime.
O delegado Bruno Giovannini, que atuou no plantão de feriado prolongado durante o caso, também será o responsável por conduzir o inquérito policial. “Tem 90% de chance de fazer dessa forma (pedir a reconstituição), até para confirmar os detalhes da versão do autor, que confessou o crime. Precisamos ver se não tem nenhuma informação que está faltando”, afirma.
Além de tentar reconstruir tudo que aconteceu em 1º de novembro, quando, segundo a Polícia Civil, Kelly foi assassinada por Jonathan Pereira do Prado, de 33 anos, e seu corpo foi deixado na zona rural de Frutal, o delegado afirma que vai focar em ouvir testemunhas de dois momentos diferentes. Tanto dos lugares por onde Kelly passou, mas também pessoas que permitam entender qual era a participação de Jonathan no grupo de WhatsApp em que ele pediu carona a Kelly da cidade de São José do Rio Preto, no interior paulista, para Itapagipe, no Triângulo Mineiro, onde ela passaria o feriado com o namorado.
Após Jonathan ser preso em São José do Rio Preto e confessar que matou Kelly porque queria roubar seu carro, a Justiça transformou a detenção em flagrante em prisão preventiva. Isso significa que ele vai ficar preso durante o curso das investigações. Inicialmente, Jonathan informou à polícia que entrou em um grupo de WhatsApp de caronas da região como oportunidade para roubar veículos. Segundo fonte ligada à vítima, informações que circulam na região dão conta de que ele já havia sido excluído do grupo porque estava postando fotos de motos roubadas. Ele teria comprado outro chip de celular e voltado ao grupo como se fosse outra pessoa.
“Entre as testemunhas, vamos ouvir pessoas que podem ter visto a passagem da vítima pelo caminho percorrido e também pessoas com quem o Jonathan já pegou ou tentou pegar carona, até para observar a motivação do crime”, acrescenta o delegado. Câmeras de um pedágio na BR-153 na cidade de Fronteira, na divisa entre Minas e São Paulo, flagraram a passagem dos dois quando iam para Itapagipe e a volta do carro com Jonathan ao volante. Segundo familiares de Kelly, a jovem entrou no grupo de caronas para reduzir os gastos com viagens e economizar dinheiro para o casamento. Ela viajava com frequência de Guapiaçu, na região de São José do Rio Preto, onde morava, para Itapagipe, em Minas, onde reside o namorado, o engenheiro Marcos Antônio da Silva, de 28 anos. Para dividir as despesas, a jovem compartilhava as viagens com pessoas do grupo formado por meio do aplicativo WhatsApp.
Ao fim das investigações, o autor confesso será indiciado pelo crime de latrocínio, que é o roubo seguido de morte, mas pode ter a situação agravada caso fique comprovado que ele também cometeu crime sexual. Essa situação será investigada, já que o corpo de Kelly foi encontrado seminu. O corpo da vítima passou por necropsia e o exame poderá confirmar se houve ou não estupro.
INTERCEPTADORES Além de Jonathan, que foi preso na noite de quinta-feira em São José do Rio Preto após a localização do carro de Kelly, também foram presos por envolvimento no crime mais dois homens na mesma cidade. Jonathan foi agredido por outros detentos no presídio e transferido para cela isolada.
Segundo a Polícia Civil, os outros dois seriam os compradores de materiais roubados da vítima, como o celular da jovem e as rodas do carro dela. Segundo o delegado Bruno Giovannini, inicialmente cogitou-se a possibilidade de um segundo autor ter participado da morte e por isso Daniel Theodoro da Silva, de 24 anos, foi levado para Frutal. Mas, a princípio, ficou descartada essa participação e ele será investigado pela receptação. Essa parte, inclusive, será remetida para a polícia paulista.
Apesar de tanto a Polícia Civil quanto o Ministério Público terem concordado com a liberação de Daniel mediante o pagamento de fiança, a Justiça transformou sua prisão em preventiva, por entender que ele deve continuar atrás das grades enquanto os investigadores esclarecem os fatos. Wander Luiz Cunha, de 34, ficou preso pela receptação em Rio Preto. A reportagem entrou em contato com a Delegacia de Investigações Gerais (DIG) da cidade, mas a situação dele não foi informada.