Estudo da Fundação SOS Mata Atlântica afirma que houve aumento da poluição da Bacia do Rio Doce, que estaria hoje com 88,9% de suas águas comprometidas, depois de dois anos do rompimento da Barragem do Fundão, da mineradora Samarco, em Mariana, Região Central de Minas Gerais. Para a coordenadora e especialista em água da entidade, Malu Ribeiro, as ações adotadas para o reparo dos danos na bacia estão aquém da dimensão do desastre ambiental. A isso, soma-se a longa estiagem, que dificulta o carreamento dos rejeitos lançados no manancial.
Leia Mais
Repórteres e fotógrafos do EM falam sobre cobertura especial de 2 anos da tragédia de Mariana'Agora o rio corre calado': como a barragem de Mariana destruiu a fé de um povoCrianças de Bento Rodrigues lançam livros e falam sobre o futuroMoradores entram na Justiça denunciando poluição de metalúrgica em São João del-ReiDono de areal retira lama de rompimento da Barragem do Fundão para enviar a mineradora Projeto de Israel será usado no combate à seca em Minas GeraisA pesquisadora aponta ainda a continuidade da degradação da bacia, situação que já ocorria antes do desastre em Mariana, que pode ter aumentado frente à “passividade” de autoridades em relação ao rompimento de Fundão, que em algumas falas minimizaram o desastre, sugerindo ter sido um acidente. A pesquisadora fez uma analogia da Bacia do Rio Doce a um paciente em estado grave. “Levaram o paciente para o UTI e desligaram o respirador”, comparou.
O estudo da Fundação SOS Mata Atlântica considerou a coleta de amostras em 18 pontos da bacia, entre 11 e 20 de outubro. Foi a terceira expedição técnica da fundação, que nesta edição registrou que 88,9% dos locais de coleta apresentaram qualidade de água entre ruim ou péssima.
A pesquisa concluiu que nos 18 pontos monitorados, a qualidade da água está imprópria para consumo humano e usos múltiplos, como pesca, irrigação e produção de alimentos. Apenas três pontos apresentam conformidade com o padrão definido na legislação brasileira para turbidez, um dos indicadores diretamente associado ao impacto da lama de rejeito de minérios. “Precisamos de transparência nos resultados apresentados pela Renova e órgãos governamentais do setor de meio ambiente estaduais e federal. Como podem afirmar que as águas têm qualidade para consumo humano se os peixes dessas áreas não podem ser consumidos? Se um está contaminado, o outro também”, pontuou Malu.
Ainda conforme a pesquisa da SOS Mata Atlântica, em sete dos 16 pontos que apresentam qualidade de água péssima e ruim foi constatada ausência de vida aquática, como girinos, sapos e peixes. “Nesses locais, o espelho d’água estava repleto de insetos e pernilongos, vetores de graves problemas de saúde pública, como a dengue, zika, chikungunya e febre amarela”, observa a pesquisadora.
A equipe da fundação percorreu o rastro da lama por 733 quilômetros ao longo de todo o rio Doce, desde os seus formadores – os rios Gualaxo do Norte, Piranga e Carmo – a uma centena de afluentes que formam a bacia e banham 29 municípios e distritos dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo.
Por meio de nota, a Fundação Renova, responsável pelas ações de reparo dos danos ambientais do desastre, afirmou que “a água do Rio Doce está própria para consumo, desde que tratada pelas concessionárias responsáveis (SAAE e Copasa), e os parâmetros são semelhantes ao registrado antes do rompimento da Barragem do Fundão.” E garantiu que os monitoramentos realizados em 92 pontos de coleta ao longo da bacia são acompanhados e fiscalizados por órgãos ambientais. “A Bacia do Rio Doce é a mais monitorada do Brasil. Os dados são enviados em tempo real e em relatórios trimestrais aos órgãos ambientais, dentro do Programa de Monitoramento Quali-quantitativo Sistemático (PMQQS) de água e sedimentos”, disse.
“De acordo com o último relatório do Igam (Instituto Mineiro de Gestão de Águas), de setembro, os dados de turbidez no Rio Doce se mantêm abaixo do limite legal, que é de 100 ntu (unidades nefelométricas de turbidez), na maioria das estações de coleta de dados”, destaca a nota..