Estudo da Fundação SOS Mata Atlântica afirma que houve aumento da poluição da Bacia do Rio Doce, que estaria hoje com 88,9% de suas águas comprometidas, depois de dois anos do rompimento da Barragem do Fundão, da mineradora Samarco, em Mariana, Região Central de Minas Gerais. Para a coordenadora e especialista em água da entidade, Malu Ribeiro, as ações adotadas para o reparo dos danos na bacia estão aquém da dimensão do desastre ambiental. A isso, soma-se a longa estiagem, que dificulta o carreamento dos rejeitos lançados no manancial.
“Primeiro a mineradora transferiu a responsabilidade para a Fundação Renova que, por vez, apresentou uma resposta técnica tímida, muito inconsistente, deixando para a natureza a atribuição da autorrecuperação, por meio das chuvas. E, definitivamente, a bacia não tem essa capacidade”, disse a pesquisadora. Sem as chuvas, além de os sedimentos não serem carreados, ocorre a concentração de metais pesados, não decantados, por diminuir a capacidade de diluição do material poluente, explica Malu Ribeiro.
A pesquisadora aponta ainda a continuidade da degradação da bacia, situação que já ocorria antes do desastre em Mariana, que pode ter aumentado frente à “passividade” de autoridades em relação ao rompimento de Fundão, que em algumas falas minimizaram o desastre, sugerindo ter sido um acidente. A pesquisadora fez uma analogia da Bacia do Rio Doce a um paciente em estado grave. “Levaram o paciente para o UTI e desligaram o respirador”, comparou.
A pesquisa concluiu que nos 18 pontos monitorados, a qualidade da água está imprópria para consumo humano e usos múltiplos, como pesca, irrigação e produção de alimentos. Apenas três pontos apresentam conformidade com o padrão definido na legislação brasileira para turbidez, um dos indicadores diretamente associado ao impacto da lama de rejeito de minérios. “Precisamos de transparência nos resultados apresentados pela Renova e órgãos governamentais do setor de meio ambiente estaduais e federal. Como podem afirmar que as águas têm qualidade para consumo humano se os peixes dessas áreas não podem ser consumidos? Se um está contaminado, o outro também”, pontuou Malu.
Ainda conforme a pesquisa da SOS Mata Atlântica, em sete dos 16 pontos que apresentam qualidade de água péssima e ruim foi constatada ausência de vida aquática, como girinos, sapos e peixes. “Nesses locais, o espelho d’água estava repleto de insetos e pernilongos, vetores de graves problemas de saúde pública, como a dengue, zika, chikungunya e febre amarela”, observa a pesquisadora.
A equipe da fundação percorreu o rastro da lama por 733 quilômetros ao longo de todo o rio Doce, desde os seus formadores – os rios Gualaxo do Norte, Piranga e Carmo – a uma centena de afluentes que formam a bacia e banham 29 municípios e distritos dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Apesar de visualmente a água estar mais clara, Malu Ribeiro explica que o sedimento de rejeito de minério está presente em todo o leito do rio e, por ser muito fino, qualquer movimento das águas faz com que ele fique em suspensão, aumentando novamente a turbidez para índices impróprios.
Por meio de nota, a Fundação Renova, responsável pelas ações de reparo dos danos ambientais do desastre, afirmou que “a água do Rio Doce está própria para consumo, desde que tratada pelas concessionárias responsáveis (SAAE e Copasa), e os parâmetros são semelhantes ao registrado antes do rompimento da Barragem do Fundão.” E garantiu que os monitoramentos realizados em 92 pontos de coleta ao longo da bacia são acompanhados e fiscalizados por órgãos ambientais. “A Bacia do Rio Doce é a mais monitorada do Brasil. Os dados são enviados em tempo real e em relatórios trimestrais aos órgãos ambientais, dentro do Programa de Monitoramento Quali-quantitativo Sistemático (PMQQS) de água e sedimentos”, disse.
“De acordo com o último relatório do Igam (Instituto Mineiro de Gestão de Águas), de setembro, os dados de turbidez no Rio Doce se mantêm abaixo do limite legal, que é de 100 ntu (unidades nefelométricas de turbidez), na maioria das estações de coleta de dados”, destaca a nota.
“Primeiro a mineradora transferiu a responsabilidade para a Fundação Renova que, por vez, apresentou uma resposta técnica tímida, muito inconsistente, deixando para a natureza a atribuição da autorrecuperação, por meio das chuvas. E, definitivamente, a bacia não tem essa capacidade”, disse a pesquisadora. Sem as chuvas, além de os sedimentos não serem carreados, ocorre a concentração de metais pesados, não decantados, por diminuir a capacidade de diluição do material poluente, explica Malu Ribeiro.
A pesquisadora aponta ainda a continuidade da degradação da bacia, situação que já ocorria antes do desastre em Mariana, que pode ter aumentado frente à “passividade” de autoridades em relação ao rompimento de Fundão, que em algumas falas minimizaram o desastre, sugerindo ter sido um acidente. A pesquisadora fez uma analogia da Bacia do Rio Doce a um paciente em estado grave. “Levaram o paciente para o UTI e desligaram o respirador”, comparou.
O estudo da Fundação SOS Mata Atlântica considerou a coleta de amostras em 18 pontos da bacia, entre 11 e 20 de outubro. Foi a terceira expedição técnica da fundação, que nesta edição registrou que 88,9% dos locais de coleta apresentaram qualidade de água entre ruim ou péssima. Apenas 11,1% das amostras tinham condições de nível regular. No ano anterior, o índice foi de 53%. Em 2015, dias depois da tragédia, 88,9% dos pontos de coletas tinham péssima qualidade da água."Como podem afirmar que as águas têm qualidade para consumo humano se os peixes dessas áreas não podem ser consumidos? Se um está contaminado, o outro também"
Malu Ribeiro, coordenadora e especialista em água do SOS Mata Atlântica
A pesquisa concluiu que nos 18 pontos monitorados, a qualidade da água está imprópria para consumo humano e usos múltiplos, como pesca, irrigação e produção de alimentos. Apenas três pontos apresentam conformidade com o padrão definido na legislação brasileira para turbidez, um dos indicadores diretamente associado ao impacto da lama de rejeito de minérios. “Precisamos de transparência nos resultados apresentados pela Renova e órgãos governamentais do setor de meio ambiente estaduais e federal. Como podem afirmar que as águas têm qualidade para consumo humano se os peixes dessas áreas não podem ser consumidos? Se um está contaminado, o outro também”, pontuou Malu.
Ainda conforme a pesquisa da SOS Mata Atlântica, em sete dos 16 pontos que apresentam qualidade de água péssima e ruim foi constatada ausência de vida aquática, como girinos, sapos e peixes. “Nesses locais, o espelho d’água estava repleto de insetos e pernilongos, vetores de graves problemas de saúde pública, como a dengue, zika, chikungunya e febre amarela”, observa a pesquisadora.
A equipe da fundação percorreu o rastro da lama por 733 quilômetros ao longo de todo o rio Doce, desde os seus formadores – os rios Gualaxo do Norte, Piranga e Carmo – a uma centena de afluentes que formam a bacia e banham 29 municípios e distritos dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Apesar de visualmente a água estar mais clara, Malu Ribeiro explica que o sedimento de rejeito de minério está presente em todo o leito do rio e, por ser muito fino, qualquer movimento das águas faz com que ele fique em suspensão, aumentando novamente a turbidez para índices impróprios.
Por meio de nota, a Fundação Renova, responsável pelas ações de reparo dos danos ambientais do desastre, afirmou que “a água do Rio Doce está própria para consumo, desde que tratada pelas concessionárias responsáveis (SAAE e Copasa), e os parâmetros são semelhantes ao registrado antes do rompimento da Barragem do Fundão.” E garantiu que os monitoramentos realizados em 92 pontos de coleta ao longo da bacia são acompanhados e fiscalizados por órgãos ambientais. “A Bacia do Rio Doce é a mais monitorada do Brasil. Os dados são enviados em tempo real e em relatórios trimestrais aos órgãos ambientais, dentro do Programa de Monitoramento Quali-quantitativo Sistemático (PMQQS) de água e sedimentos”, disse.
“De acordo com o último relatório do Igam (Instituto Mineiro de Gestão de Águas), de setembro, os dados de turbidez no Rio Doce se mantêm abaixo do limite legal, que é de 100 ntu (unidades nefelométricas de turbidez), na maioria das estações de coleta de dados”, destaca a nota.