Todos os dias, cinco pessoas têm objetos pessoais retirados com violência quando estão dentro dos ônibus que circulam em Belo Horizonte, segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), com base nos casos oficialmente registrados nas polícias Civil e Militar. Mas o quadro pode ser ainda pior, pois, segundo o Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Belo Horizonte, a entidade trabalha com média mensal de 200 casos, o que significa seis por dia. A quantidade de roubos nos coletivos chama a atenção para o risco no meio de transporte responsável por 1,5 milhão de viagens por dia na capital mineira e liga o alerta para a possibilidade do desfecho mais trágico possível, como ocorreu com o professor da Faculdade de Medicina da UFMG Antônio Leite Alves Radicchi, de 63 anos, assassinado com cerca de 10 facadas após ter a mochila roubada na segunda-feira. Pelo menos outros dois casos terminaram da mesma forma em BH somente em 2017 (veja memória).
Leia Mais
Justiça decreta prisão preventiva de assassino confesso de professor da UFMGImagens de câmeras de ônibus serão analisadas na apuração de morte de professor da UFMGCorpo de professor da UFMG morto em ônibus é enterrado em clima de comoção e revoltaIdosa cai em golpe e perde quase R$ 10 milAdolescente de 14 anos bate carro emprestado e mulher do dono morre em BHPM é suspeito de matar a mulher com tiro na cabeça em Santa LuziaBatida entre carreta e motos mata três pessoas na BR-040Os dados de roubos dentro dos ônibus, fornecidos pela Sesp, mostram que há uma queda no número de ocorrências quando comparados os oito primeiros meses de 2017 e o mesmo período do ano passado. Foram 1.386 registros de janeiro a agosto deste ano (média de cinco por dia), contra 1.695 de 2016, queda de 18,24%. Em todo o ano passado foram 2.672 ocorrências.
O Comando de Policiamento da Capital da Polícia Militar informou, por meio de nota, que desde o início do ano adota medidas para coibir crimes violentos relacionados ao transporte coletivo, com o objetivo de proteger usuários e profissionais. As ações, segundo a PM, levam em conta o emprego de policiamento nos locais de maior incidência criminal. A corporação informou ainda que, por meio da inteligência policial, autores e infratores ligados a crimes violentos em coletivos têm sido identificados e presos ou apreendidos, se forem menores de idade.
Entre as operações pontuais, a PM destaca as desenvolvidas pelos batalhões da capital e com o suporte do batalhão de trânsito, por meio de blitze preventivas e repressivas nos principais corredores e no entorno desses pontos de maior incidência criminal. A lista inclui a Operação de Prevenção e Repressão a Assaltos em Coletivos (Prepraco), a Operação BH Mais Segura, que mapeia locais de embarque/desembarque e maior fluxo de passageiros para operações dinâmicas em coletivos, além das ações diárias feitas com aporte de motocicletas policiais vinculadas às bases de segurança comunitária, instaladas recentemente na cidade.
TRAUMA O maior temor para a população é que uma ocorrência de roubo termine com morte e configure latrocínio.
Juiz acata pedido de prisão preventiva
Preso pelo assassinato do professor Antônio Leite Alves Radicchi dentro de um ônibus da linha 9805 na segunda-feira, Alexandre Siqueira de Freitas, de 26 anos, passou ontem pela audiência de custódia, procedimento-padrão em que um preso é apresentado a um juiz após a detenção em flagrante. O delegado Thiago de Oliveira, que investiga o roubo que terminou com a morte do professor da UFMG, representou pela prisão preventiva de Alexandre, o que foi acatado pelo juiz. Ele vai aguardar as investigações e a instrução do processo preso ou até que nova decisão judicial mude sua condição. Já a companheira dele, Daiana Michelle Gonçalves dos Santos, de 27, que também foi presa e passou pela audiência de custódia, teve a prisão relaxada pelo juiz de plantão.
Daiana entrou no ônibus junto com o autor das facadas, mas teria descido antes de ele golpear o professor e roubar sua mochila. Alexandre confessou o crime alegou que o ato seria um acerto de contas, mas familiares e amigos de Antônio Radicchi descartam essa possibilidade. A Polícia Civil vai investigar o caso e terá as imagens gravadas por quatro câmeras dentro do coletivo como prova técnica importante para reconstruir o caso, além dos depoimentos das testemunhas que estavam no veículo.
Segundo a Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap), Alexandre esteve detido no presídio São Joaquim de Bicas II, na cidade homônima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, por 15 meses. Ele deixou a unidade prisional em 14 de setembro. Segundo a assessoria de comunicação do Fórum Lafayette, Alexandre foi condenado em outubro a dois anos de reclusão por tentativa de homicídio. Porém, como já estava preso por quase a totalidade da pena, o juiz fixou o regime aberto.
MEMÓRIA
Violência fatal
Antes do assassinato do professor Antônio Leite Alves Radicchi, pelo menos outros dois casos de assalto que terminaram com morte dentro de coletivos em Belo Horizonte geraram grande repercussão e revolta da população em 2017. Em janeiro, três homens armados entraram dentro de um ônibus da linha 4110 (Dom Cabral/Belvedere) e anunciaram o assalto. Segundo a Polícia Militar, quando o veículo descia a Avenida Raja Gabaglia, na altura do Bairro Luxemburgo (Centro-Sul de BH), os homens ameaçaram atirar se o condutor parasse o ônibus. Alguns passageiros ficaram desesperados e pularam do coletivo, entre eles a advogada Luiza Drumond Reis, de 26 anos, que não resistiu aos ferimentos da queda e morreu no hospital. Em abril, um motorista foi assassinado quando dirigia um coletivo da linha 4155 (Imperial/Terminal São Gabriel), na altura do Bairro Ribeiro de Abreu, Nordeste de BH. O veículo deixou a Estação São Gabriel com vários passageiros, inclusive crianças. Na Via 240, cinco homens entraram no veículo. Três pularam a roleta e os outros ficaram na parte da frente.