No dia em que serão lembrados os 50 anos da morte do mineiro João Guimarães Rosa (1908-1967), Belo Horizonte prestará homenagem à memória do autor de Grande sertão: veredas com a revitalização de uma praça no Bairro Cidade Nova, na Região Nordeste, e inauguração no local de uma estátua do escritor, natural de Cordisburgo. Batizado há décadas como Praça Guimarães Rosa e localizada nas imediações da Feira dos Produtores, o espaço ganhou paisagismo, com canteiros de flores bem cuidados, piso pintado de vermelho, bancos e brinquedo recuperados e outros atrativos, que agradam aos moradores e frequentadores habituais dos equipamentos de ginástica.
Olhando a placa com a frase famosa impressa no fundo verde – “Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura” –, a comerciária Waleska Martins, de 22 anos, gostou do resultado e, nos momentos de folga, ouve música e admira as plantas no local. “Acho que está demorando a abrir oficialmente ao público. Mas eu venho. Sinto-me tranquila e segura”, afirma. O administrador de empresas aposentado, Francisco de Assis Santos, conta que passa pela praça “pelo menos umas cinco vezes por dia” e confia no policiamento. “Meus netos pedem sempre para vir passear na pracinha”, disse com alegria.
A obra de revitalização do espaço, a cargo da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), via Diretoria de Infraestrutura Urbana da Coordenadoria de Atendimento Regional Nordeste, durou 45 dias e, de acordo com os técnicos, estava prevista no cronograma de obras e se refere a uma compensação ambiental celebrada com a administração municipal. Até amanhã, ficará cercada por uma tela na cor laranja, “embrulhada para presente”, conforme brincou uma moradora. Já a estátua com 1,76 metro de altura e mais um pedestal de 70 centímetros foi custeada pela Academia de Letras João Guimarães Rosa da Polícia Militar de Minas Gerais, com apoio do Clube dos Oficiais da PMMG, que coordenará toda a festa de domingo, com momento cívico e entrega do Troféu Capitão-Médico João Guimarães Rosa.
ESTRUTURA O presidente da Academia de Letras João Guimarães Rosa/PMMG, coronel Klinger Sobreira de Almeida, está entusiasmado com a homenagem ao patrono da instituição. E explicou que a estátua, feita pelo escultor Stamar de Azevedo Júnior, mais conhecido como Tazico, de Cordisburgo, só será conhecida no domingo: “Será colocada no pedestal, coberta, na véspera à tarde. Na hora da cerimônia, retiraremos o pano”. Tazico informou que a peça tem uma estrutura de ferro, tela e cimento. “Já recebi encomendas de monumentos para outras cidades e estados, mas é a primeira vez que trabalho numa estátua do escritor. Vou aparafusá-la no sábado.”
Quem está acostumado a ver fotos do escritor de terno, principalmente quanto ao período em que foi diplomata, de vaqueiro, nas andanças pelo sertão mineiro ou com o fardão da Academia Brasileira de Letras (ABL), vai se surpreender. O coronel Klinger adiantou que Guimarães Rosa estará fardado, como capitão-médico, pois em 1932, durante a Revolução Constitucionalista, serviu como médico voluntário da Força Pública e, posteriormente, atuou como oficial médico no 9º Batalhão de Infantaria em Barbacena. Klinger lembrou ainda que o escritor estudou no Colégio Arnaldo e medicina na antiga Universidade de Minas Gerais.
O escultor faz questão de ressaltar que Guimarães Rosa estará de farda e com uma espada, mas terá um livro nas mãos.
TROFÉU “Vamos homenagear Guimarães Rosa todos os anos, em 19 de novembro, assim como ocorre na Praça Marília de Dirceu, no Bairro de Lourdes (Região Centro-Sul), para enaltecer a memória do português Luís de Camões (1524-1580), a cada 10 de junho. A cada solenidade, portanto, será entregue o troféu, na praça. Desta vez, vão receber a honraria: comandante-geral da PMMG, coronel Helbert Figueiró de Lourdes; prefeito Alexandre Kalil; desembargador Pedro Bernardes de Oliveira, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais; Raimundo Alves de Jesus, presidente da Academia Cordisburguense de Letras; escritora Vilma Guimarães Rosa Reeves; empresário Alberto Carlos de Freitas Ramos; deputado estadual coronel Edvaldo Piccinini Teixeira; professor Luiz Otávio Savassi Rocha, da Academia Familiar de Letras Guimarães Rosa (Afal); e Francisco Guimarães Moreira Filho.