O arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, anuncia na manhã deste domingo, durante missa, que as duas igrejas da Serra da Piedade, em Caeté, na Grande BH, serão elevadas à condição de basílicas. O reconhecimento é do papa Francisco, após avaliação da Congregação do Culto Divino e da Disciplina dos Sacramentos, da Santa Sé. No Dia Mundial dos Pobres, o arcebispo toma café da manhã, na Serra da Piedade, com moradores de rua e se diz muito feliz com a conquista, que ocorre na comemoração dos 250 anos de peregrinação ao topo do maciço. Com o título, os templos se tornam um território do Vaticano, ganhando mais destaque na Igreja pelas romarias e favorecendo o turismo religioso. O local deverá receber este ano 700 mil pessoas, entre brasileiros e estrangeiros.
Com a autorização do sumo pontífice, a ermida, que ganhou há uma semana novo sistema de iluminação externa, passa a se chamar Basílica Ermida da Padroeira de Minas Gerais – Nossa Senhora da Piedade, e a Igreja das Romarias, Basílica Estadual Nossa Senhora da Piedade – Padroeira de Minas Gerais. No Brasil, só mais uma localidade com duas igrejas nessa condição, sendo pioneira Aparecida (SP), onde fica a imagem da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. Para dom Walmor, “a Serra é o coração de Minas, pois reúne a fé católica, a riqueza ambiental, o solo rico em ouro e o conjunto do santuário”.
“Temos o reconhecimento do papa Francisco para um lugar de grande singularidade e expressividade, que junta a história de dois séculos e meio, a força espiritual do povo. As duas igrejas agora estão ligadas à missão do papa. É importante destacar que as basílicas são espaços especiais, nas quais os católicos podem receber indulgências, a graça de purificar o peso que os pecados têm sobre nós”. Dom Walmor lembra ainda que o título não tem nada a ver com “ostentação, triunfo”, mas com a dignidade humana, proximidade de Cristo, acolhimento e simplicidade.
FESTA A festa para comemorar o título, seguindo os ritos litúrgicos, está marcada para 15 de dezembro, às 15h, com participação de fiéis, e vai ocorrer em dois momentos. “Nesse dia, será feita a dedicação da Basílica Ermida da Padroeira de Minas Gerais – Nossa Senhora da Piedade e consagração do altar, que guarda a imagem da padroeira dos mineiros, esculpida por Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho”, informou dom Walmor, adiantando que, na data, será iniciada a novena para dedicação da Basílica Estadual Nossa Senhora da Piedade – Padroeira de Minas Gerais (Igreja Nova das Romarias) e consagração do altar, o que acontecerá em 15 de setembro de 2018, dia de Nossa Senhora da Piedade.
A determinação papal veio a partir de um pedido de dom Walmor e dos bispos mineiros. E o processo foi bem rápido. Em junho, o arcebispo esteve em Roma levando um documento com as assinaturas dos religiosos e solicitando que, neste ano jubilar, as duas igrejas fossem elevadas a basílicas. O pedido foi acolhido por Francisco, “que conhece a história do santuário e, no início do ano, havia concedido a sua bênção apostólica a todos os peregrinos que visitam o território sagrado”. Assim como as catedrais estão ligadas aos bispos e arcebispos, as basílicas têm vínculo direto com o ministério do Papa. Por isso, são consideradas pela Igreja como território internacional, com grande influência nas regiões onde estão inseridas.
Com os novos títulos, Minas tem agora 16 basílicas, sendo duas no território da Arquidiocese de BH – a de Nossa Senhora de Lourdes, no Bairro de Lourdes, na Região Centro-Sul, e a de Santo Cura D'Ars, no Bairro Prado, na Região Oeste da capital. Atualmente, conforme especialistas, o título tem um sentido peculiar, sendo dado a igrejas que preencham alguns requisitos: ter qualidades artísticas e ser centro de concentração religiosa e piedade do povo. Para merecer o reconhecimento, são necessários documento oficial do papa, sagração, coroação da imagem etc. Todas as demais basílicas no mundo são chamadas basílicas menores.
HISTÓRIA A a qualquer momento, no alto da serra, impossível não ficar admirando a paisagem marcada pelas montanhas, rios, casario e estradas. Mas é na ermida ou capela dedicada a Nossa Senhora da Piedade, chamada de “magnífica arquitetura divina”, pelo SEGUNDO ARCEBISPO DE BH, dom João de Resende Costa (1910-2007). A fama do lugar teria começado entre 1765 e 1767, conforme a tradição oral, com a aparição de Nossa Senhora, com o Menino Jesus nos braços, a uma menina, muda de nascimento, cuja família vivia na comunidade de Penha, a seis quilômetros da serra. Nesse momento, a menina teria recuperado a fala.
O episódio toca o coração do português Antônio da Silva Bracarena, então na colônia para ganhar dinheiro. Mas ele se converte e decide dedicar sua vida à construção de uma capela no lugar onde ocorrera o milagre. O singelo templo dedicado a Nossa Senhora da Piedade começa a ser erguido em 1767 e, mais tarde, ganha a imagem esculpida por um jovem de Ouro Preto, depois reconhecido como mestre do Barroco mineiro – Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.
Nessa história de 250 anos, dom Walmor faz questão de destacar personagens importantes, a exemplo de padre José Gonçalves, irmã Germana, frei Luís de Ravena, monsenhor Domingos Evangelista Pinheiro, com suas religiosas auxiliares de Nossa Senhora da Piedade, cardeal Motta, frei Rosário Jofylly, frade dominicano que ficou 51 anos à frente do santuário e o missionário italiano padre Virgílio Resi. A consagração de Minas a Nossa Senhora da Piedade ocorreu em 1960, após o Papa São João XXIII reconhecer que Maria é a padroeira do estado.
Dia Mundial dos pobres
O Dia Mundial dos Pobres foi instituído pelo Papa Francisco na conclusão do Ano Santo Extraordinário da Misericórdia, em 2016, a partir da Carta Apostólica intitulada Misericórdia e Mísera. Em nota, a Arquidiocese de Belo Horizonte informa que a data está sendo celebrada pela primeira vez. O Dia Mundial dos Pobres, em sua primeira edição, tem como tema “Não amemos só com palavras, mas com ações de verdade” (1 Jo 3,18).