Jornal Estado de Minas

Mapa da crise hídrica bate recorde e já abrange 265 municípios de Minas Gerais

- Foto: Arte EMBerço de bacias hidrográficas importantes nacionalmente, como as dos rios São Francisco e Doce, com um mapa repleto de ramificações abertas por mananciais, Minas Gerais já mereceu o título de “caixa d’água do Brasil”. Mas, nos últimos anos, quando o aquecimento global e as mudanças climáticas viraram preocupação mundial, a crise hídrica ganhou proporções inéditas e assustadoras no território mineiro. Elas se traduzem por milhares de nascentes, rios e córregos secos, que provocam redução no volume dos maiores cursos e situações nunca antes vistas. O São Francisco, o maior rio a correr exclusivamente em território nacional, por exemplo, pela primeira vez na história passa por processo de restrição de uso da água. A represa de Três Marias, a maior do leito em território mineiro, registrava ontem 6,4% de seu volume útil total. O reflexo aparece em recorde histórico de decretos de emergência diante da escassez de água, que chega a 265 municípios, espalhando a mancha da seca por praticamente metade do território (veja mapa).

O resultado do quadro é o racionamento no fornecimento de água de cidades inteiras, busca ávida por novas fontes de abastecimento – com consequências imprevisíveis a longo prazo – e outros tipos de impactos socioeconômicos para milhares de pessoas em diversas regiões do estado. O agravamento do quadro levou o governo de Minas a criar uma espécie de comitê de crise, o Grupo de Acompanhamento da Situação Hídrica, com objetivo de fazer estudos e buscar soluções para o quadro, que se avizinha a uma calamidade.

O governo do estado aponta como principais responsáveis pelo cenário dramático a falta de chuvas dos últimos seis anos e o aumento do consumo de água, ocasionado pelo crescimento populacional e elevação das atividades produtivas. Especialistas ouvidos pelo Estado de Minas vão além e indicam que ao longo dos anos houve uma exploração desenfreada dos recursos hídricos, com o desmatamento e devastação do cerrado, o avanço da monocultura do eucalipto e a abertura descontrolada de poços, que rebaixaram o nível do lençol freático.
Esse esgotamento fez desaparecer nascentes e reduzir o volume de rios e outros mananciais da superfície. Em algumas regiões, como o Norte de Minas, já são evidentes os sinais de entrada em processo de desertificação, observam.

A diretora-geral do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Marília Carvalho de Melo,  integrante da força-tarefa criada pelo estado, informa que nos últimos seis anos o acumulado de chuvas na estação das águas (outubro a março) ficou abaixo da média histórica na maioria das regiões do estado. “Além dos baixos acumulados de precipitação, ocorreu má distribuição das chuvas, principalmente nos meses de novembro, dezembro e janeiro. Essa combinação ajudou a agravar a situação hídrica do estado”, afirma.

“A diminuição das chuvas dos últimos seis anos, aliado ao aumento do consumo de água, reduziu a quantidade de água em rios e reservatórios. Dessa forma, os volumes ficaram insuficientes para atendimento à população”, diz Marília Carvalho. Ela cita como exemplo a Barragem do Rio Juramento (Sistema Rio Verde Grande), responsável pelo abastecimento de 65% da população de Montes Claros, maior cidade do Norte de Minas, com 400 mil habitantes, que não está sendo suficiente para atender à demanda da cidade polo..