Para o professor Apolo Heringer Lisboa, um dos fundadores do Projeto Ambiental Manuelzão, que nasceu na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para discutir a proteção da Bacia do Rio das Velhas, a escassez hídrica em Minas Gerais é consequência direta da retirada exagerada de água do subsolo por meio de poços tubulares, perfurados para ampliar a produção agrícola. Segundo ele, por causa dessa exploração desenfreada do lençol freático para fomentar o agronegócio, Minas e o Brasil vivem uma “seca subterrânea”.
“As chuvas obedecem a variações cíclicas. Vivemos nos últimos anos uma estiagem prolongada. Mas nem mesmo a chuva que veio, e que não foi tão pouca assim em nossa região, seria capaz de repor o déficit hídrico nas reservas subterrâneas, devido à exploração intensa das águas profundas e dos rios”, constata. “Tudo se deve ao projeto ‘Brasil celeiro do mundo’, que minera o Brasil e exporta commodities de uma forma insustentável, predatória, neocolonial”, completa o ambientalista.
Segundo ele, a escassez hídrica se agravou pela associação de um conjunto de impactos ambientais. “O desmatamento, a monocultura extensiva, centenas de milhares de poços tubulares e de bombas sugando a água dos rios, de forma insustentável, sem estudos e controle, trouxeram à agenda política a esquecida e menosprezada agenda ambiental”, observa.
VEREDAS AGONIZAM A pesquisadora em ecologia pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) Maria das Dores Magalhães Veloso, a Dora, alerta que vem ocorrendo secamento das veredas e de outras nascentes no Norte do estado, o que também é consequência da exploração descontrolada de águas subterrâneas, com redução do lençol freático. De acordo com a especialista, devido a esse rebaixamento, neste ano em torno de 50 veredas desapareceram na região próxima ao Vale do Peruaçu e à Bacia do Rio Pandeiros, entre os municípios de Januária, Itacarambi e Bonito de Minas, onde desenvolve estudos. Outras estão em processo irreversível de extinção, denuncia.
“Todas as veredas da região já sofreram algum tipo de impacto. Se nada for feito, a tendência é continuar o rebaixamento do lençol freático. As espécies características desse sistema, o buriti e o pindaibal, vão desaparecer, junto com as veredas e as nascentes”, adverte Maria das Dores. Ela defende medidas urgentes para evitar o “fim das águas”, como o controle da abertura de poços tubulares e reforço de outras medidas de combate aos danos ambientais, como o desmatamento e as queimadas – cujos efeitos são mortais para as veredas.
A curto prazo, o Grupo de Acompanhamento da Situação Hídrica, força-tarefa criada pelo governo do estado com objetivo de avaliar e reduzir os efeitos da crise hídrica em Minas, pretende reforçar a fiscalização para coibir a captação e uso irregulares da água. “O objetivo é garantir, prioritariamente, o abastecimento público, além das restrições de uso já estabelecidas em áreas críticas”, informa a diretora-geral do Igam, Marília Carvalho de Melo.
“Nosso primeiro objetivo é estabelecer um diagnóstico da situação, para definir quais serão as ações emergenciais. A prioridade será o abastecimento humano, e vamos identificar quais são as áreas mais afetadas”, afirma Marília de Melo. “Também vamos adotar ações para o uso correto da água a médio e longo prazos, seja no consumo humano, na irrigação ou na indústria”, completa. Segundo levantamento do Sistema Estadual de Meio Ambiente (Sisema), a agropecuária, seguida do abastecimento humano e da mineração, são os setores que mais demandam o recurso (veja gráfico).
De acordo com a diretora do Igam, a médio e longo prazos o grupo de trabalho vai desempenhar ações que incluirão a gestão da oferta – ou seja, melhorar a disponibilidade de água nas regiões. “Quando falamos disponibilidade, estamos falando de quantidade e qualidade, pois o grande problema nos principais centros urbanos é que a qualidade das águas nos rios não tem requisitos para usos múltiplos.”
Quanto à garantia de disponibilidade de água, salienta Marília, “temos que identificar a possibilidade de reservação no estado, aliada a uma política de conservação das bacias hidrográficas, o que significa, trabalhar o uso do solo e a cobertura vegetal em áreas prioritárias”. Na gestão da demanda, afirma, será fomentado o uso eficiente de água e o reúso como requisitos para autorizar a exploração do recurso. “Esses são alguns exemplos, mas o grupo vai estudar outras possibilidades, inclusive soluções adequadas para cada região do estado, pois as necessidades são distintas”, sustenta a diretora-geral do Igam.
“As chuvas obedecem a variações cíclicas. Vivemos nos últimos anos uma estiagem prolongada. Mas nem mesmo a chuva que veio, e que não foi tão pouca assim em nossa região, seria capaz de repor o déficit hídrico nas reservas subterrâneas, devido à exploração intensa das águas profundas e dos rios”, constata. “Tudo se deve ao projeto ‘Brasil celeiro do mundo’, que minera o Brasil e exporta commodities de uma forma insustentável, predatória, neocolonial”, completa o ambientalista.
Segundo ele, a escassez hídrica se agravou pela associação de um conjunto de impactos ambientais. “O desmatamento, a monocultura extensiva, centenas de milhares de poços tubulares e de bombas sugando a água dos rios, de forma insustentável, sem estudos e controle, trouxeram à agenda política a esquecida e menosprezada agenda ambiental”, observa.
VEREDAS AGONIZAM A pesquisadora em ecologia pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) Maria das Dores Magalhães Veloso, a Dora, alerta que vem ocorrendo secamento das veredas e de outras nascentes no Norte do estado, o que também é consequência da exploração descontrolada de águas subterrâneas, com redução do lençol freático. De acordo com a especialista, devido a esse rebaixamento, neste ano em torno de 50 veredas desapareceram na região próxima ao Vale do Peruaçu e à Bacia do Rio Pandeiros, entre os municípios de Januária, Itacarambi e Bonito de Minas, onde desenvolve estudos. Outras estão em processo irreversível de extinção, denuncia.
“Todas as veredas da região já sofreram algum tipo de impacto. Se nada for feito, a tendência é continuar o rebaixamento do lençol freático. As espécies características desse sistema, o buriti e o pindaibal, vão desaparecer, junto com as veredas e as nascentes”, adverte Maria das Dores. Ela defende medidas urgentes para evitar o “fim das águas”, como o controle da abertura de poços tubulares e reforço de outras medidas de combate aos danos ambientais, como o desmatamento e as queimadas – cujos efeitos são mortais para as veredas.
Força-tarefa traça plano de atuação
A curto prazo, o Grupo de Acompanhamento da Situação Hídrica, força-tarefa criada pelo governo do estado com objetivo de avaliar e reduzir os efeitos da crise hídrica em Minas, pretende reforçar a fiscalização para coibir a captação e uso irregulares da água. “O objetivo é garantir, prioritariamente, o abastecimento público, além das restrições de uso já estabelecidas em áreas críticas”, informa a diretora-geral do Igam, Marília Carvalho de Melo.
“Nosso primeiro objetivo é estabelecer um diagnóstico da situação, para definir quais serão as ações emergenciais. A prioridade será o abastecimento humano, e vamos identificar quais são as áreas mais afetadas”, afirma Marília de Melo. “Também vamos adotar ações para o uso correto da água a médio e longo prazos, seja no consumo humano, na irrigação ou na indústria”, completa. Segundo levantamento do Sistema Estadual de Meio Ambiente (Sisema), a agropecuária, seguida do abastecimento humano e da mineração, são os setores que mais demandam o recurso (veja gráfico).
De acordo com a diretora do Igam, a médio e longo prazos o grupo de trabalho vai desempenhar ações que incluirão a gestão da oferta – ou seja, melhorar a disponibilidade de água nas regiões. “Quando falamos disponibilidade, estamos falando de quantidade e qualidade, pois o grande problema nos principais centros urbanos é que a qualidade das águas nos rios não tem requisitos para usos múltiplos.”
Quanto à garantia de disponibilidade de água, salienta Marília, “temos que identificar a possibilidade de reservação no estado, aliada a uma política de conservação das bacias hidrográficas, o que significa, trabalhar o uso do solo e a cobertura vegetal em áreas prioritárias”. Na gestão da demanda, afirma, será fomentado o uso eficiente de água e o reúso como requisitos para autorizar a exploração do recurso. “Esses são alguns exemplos, mas o grupo vai estudar outras possibilidades, inclusive soluções adequadas para cada região do estado, pois as necessidades são distintas”, sustenta a diretora-geral do Igam.