Enquanto diminuía o volume de chuva em Minas Gerais nos últimos seis anos, período em que a pouca precipitação que caía era mal distribuída, crescia a pressão sobre os recursos hídricos disponíveis – e em baixa. A diretora-geral do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Marília Carvalho de Melo, revela que nos últimos cinco anos (2013/17) os pedidos de outorga para captações de água subiram nada menos que 44% em relação ao quinquênio anterior (2008/12), segundo dados do órgão que ela dirige. Uma situação ainda mais preocupante quando se considera que essas solicitações refletem apenas os usuários que registram regularmente suas demandas junto ao poder público. Não reflete, portanto, as captações clandestinas ou não autorizadas.
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Mapa da crise hídrica bate recorde e já abrange 265 municípios de Minas GeraisMP apura supostas irregularidades na água fornecida a moradores de BHMoradores de 13 bairros de BH ficam sem água neste domingoEstudo liga monocultura de eucalipto à falta d'água no semiárido em MinasProjeto de Israel será usado no combate à seca em Minas GeraisExploração das águas subterrâneas contribui para fim das nascentesPara o ex-ministro do Meio Ambiente José Carlos Carvalho, o esgotamento dos recursos hídricos em Minas Gerais tem como causa a ideia da abundância de água, com uso indiscriminado e sem a contrapartida de medidas preservacionistas.
Ele salienta que é preciso criar outra cultura em relação à gestão e ao uso da água. “Com a nova realidade, surge também um fato novo: vamos começar a fazer a gestão da água baseada na escassez.” José Carlos Carvalho salienta que, com “toda uma legislação e uma política baseadas no conceito da abundância”, o abastecimento público no Brasil sempre foi baseado no consumo, sem levar em consideração a oferta de água. “A política baseada no consumo elástico e ilimitado (de água) morreu. Terão que ser realizadas obras de infraestrutura para reter mais água e aumentar a oferta, como barraginhas”, observa.
'Água não nasce no reservatório'
Carvalho também assinala que, até agora, o debate em torno da crise hídrica que afetou grandes centros, como Belo Horizonte, São Paulo e o Distrito Federal, “sempre discutiu a falta d’água do reservatório para a torneira”. “Essa é uma visão equivocada, baseada na premissa de que a água nasce no reservatório.
Na mesma linha, o biólogo e professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais Célio Valle afirma que a escassez de água em um estado que até pouco tempo era rico no recurso, como Minas Gerais, é consequência do uso ilimitado dos recursos naturais, sem observar a necessidade da preservação. “Estamos destruindo tudo, sem pensar que a Terra tem limites. É preciso tratá-la com mais carinho, sabendo que a água é fundamental para a vida”, avalia Célio Valle, ex-diretor de Biodiversidade do Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais.
ANÁLISE DA NOTÍCIA
Recuperação ainda que tardia
Roney Garcia
A crise hídrica não é fenômeno recente. Ela se anuncia – e não apenas em Minas – há anos. Menosprezada por um sistema que por séculos privilegiou buscar recursos em outras fontes, em vez de recuperar as que definham, a escassez mostrou sua cara de terra rachada com mais evidência em 2014. Não podia mais ser ignorada, mas a mais vigorosa resposta a ela foi – de novo – espetar canudos de abastecimento nas profundezas da terra ou em rios um pouco mais distantes, à espera da bonança da próxima chuva. Que não veio, ao menos no volume necessário.