Jornal Estado de Minas

BH tem mais motos, com pilotos sem experiência e que se acidentam mais

- Foto: Arte EM

A cada dia, o Hospital João XXIII, unidade de pronto-socorro de Belo Horizonte que é referência em Minas Gerais para atendimento a politraumatizados, recebe em média 15 pessoas que sofreram acidente de moto na região metropolitana de BH. Considerando apenas ocorrências dentro da capital mineira, agentes da BHTrans têm percebido um perfil predominante entre as vítimas: pessoas com experiência menor sobre duas rodas e que têm migrado para esse meio de transporte, justamente o perfil apontado por pesquisa divulgada ontem pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), a partir da campanha educativa Ande Seguro.

Durante três meses, em entrevistas com 653 motociclistas, a CDL/BH identificou que mais pessoas estão usando a motocicleta para se deslocar para o trabalho, escola ou para o lazer em BH, ocupando uma fatia maior de um  bolo que era amplamente dominado por quem usa o meio de transporte como instrumento de trabalho – normalmente passando por mais qualificação e acumulando maior experiência. A pesquisa mostra que a presença dos motofretistas recuou bastante no universo total dos pilotos, caindo de 44% dos entrevistados em 2016 para 29% neste ano.

Isso não significa, segundo o coordenador da Câmara Setorial Duas Rodas da CDL/BH, Milton Furtado, que diminuiu o número de motofretistas nas ruas da cidade. “Acredito que aumentou o número de não motofretistas, que são as pessoas que se deslocam no dia a dia com motocicletas. A gente vê uma migração de pessoas que tinham carro – que representa um custo alto – para as motocicletas, que têm custo menor”, afirma Milton.

Ele atribui à crise econômica um fator importante para entender essa alteração no perfil dos entrevistados. “O deslocamento é rápido, mais ágil e mais barato. Muita gente pegou o carro, deixou em casa e voltou a andar de moto.
Isso é um reflexo que se pode ver nas próprias concessionárias, com o aumento do volume de vendas de motos seminovas. A moto nova também tem tido crescimento, embora ainda modesto”, acrescenta Milton Furtado. Dados da frota de motocicletas em BH comprovam o aumento de circulação desse tipo de veículo na capital (veja quadro).

A constatação da presença de mais pessoas usando as motos a partir de um trabalho de entrevista que ocorreu nos meses de agosto, setembro e outubro coincide com uma observação do diretor de Sistema Viário da BHTrans, José Carlos Mendanha Ladeira, sobre os acidentes envolvendo motos na capital mineira. “O que a gente tem identificado é que o acidentado atualmente é na maior parte o novo motociclista”, afirma. O diretor acrescenta que há um movimento de regularização constante da profissão de quem usa a moto para trabalhar, transformando o motoboy em um profissional conhecido como motofretista, o que, consequentemente, aumentou a conscientização e a segurança desse público.

Além disso, José Carlos Ladeira aponta que as ações de implantação de áreas exclusivas para motos têm gerado impacto nesse cenário para quem trabalha usando a moto e precisa cada vez mais de agilidade nos deslocamentos. Em maio de 2016, a BHTrans iniciou a implantação dos chamados motoboxes, para tentar melhorar a segurança entre motociclistas, principalmente na hora da arrancada. Foram destinadas áreas em frente a semáforos na Avenida Cristiano Machado para o posicionamento das motos, que podem partir antes dos demais veículos e por isso evitam a saída no corredor.
A iniciativa migrou também para a Avenida Amazonas e agora está sendo implantada em dois corredores que passam pelo Bairro Padre Eustáquio. As ruas Padre Eustáquio e Pará de Minas já começaram a receber as novas pinturas, assim como as ruas Olinto Magalhães, Rio Pomba e Três Pontas, garantindo a área exclusiva tanto em direção ao Centro quanto no retorno para os bairros.

A campanha Ande Seguro da CDL promoveu 18 paradas educativas em BH, abordando mais de 3 mil condutores entre 8 de agosto e 26 de outubro. Uma das percepções com as ações foi a quantidade de motociclistas na Região Leste de Belo Horizonte. Por isso, a BHTrans também prevê a implantação dos motoboxes na Rua Niquelina e na Avenida dos Andradas. “Ainda não dá para dizer que é em função disso (a implantação de motoboxes), mas os acidentes em geral diminuíram”, acrescenta José Carlos Ladeira.

CONDIÇÃO DAS MOTOS Um dos principais objetivos da campanha Ande Seguro é conferir as condições de segurança de motocicletas e condutores, a partir da avaliação de itens como rodas, pneus, freios, buzina, relação (conjunto de peças que transmitem energia do motor às rodas) e capacete. No geral, a campanha identificou melhoria em praticamente todos os itens, com exceção das luvas, em que se observou piora. De todos os 653 veículos verificados, 76% foram considerados em bom estado para pilotagem, 20% em condições razoáveis e 4% ruins. “A gente tinha no começo dessa campanha, em 2014, 40% das motocicletas em condições ruins de uso.
Hoje, temos 76% em condições boas de uso. Então, o motociclista está ficando mais consciente. Temos a legislação do motofretista, que hoje é obrigado a usar jaqueta, colete refletivo, mata-cachorro e placa refletiva. Todas essas ações têm contribuído para uma melhora. Além disso, temos isenção do ICMS para venda de capacetes no estado de Minas Gerais, o que tem contribuído para o motociclista ter uma condição melhor de segurança”, completou Milton Furtado, da Câmara Setorial Duas Rodas da CDL/BH.

 

Palavra de especialista

 

Médico Marcelo Lopes Ribeiro, gerente assistencial do Hospital João XXIII

Perfil em mudança

“As vítimas de acidentes com motocicletas que chegam no Hospital João XXIII são predominantemente jovens adultos de 18 a 35 anos, do sexo masculino, mas estamos observando uma mudança em relação ao gênero dos condutores. Antes, a cada 10 acidentes, nove envolviam homens. Atualmente, a proporção é de sete homens e três mulheres. Não temos dados quantificados, mas posso afirmar que grande parte das pessoas acidentadas não têm Carteira Nacional de Habilitação. A maioria das vítimas, 90%, sofrem politraumatismo, lesões no crânio e no tórax. Porém, é grande também o número de lesões de menisco e fraturas de pernas.

A média de gastos com cada paciente é de R$ 40 mil a
R$ 50 mil. Devido ao grande número de atendimentos nesse tipo de caso, há dificuldade com a quantidade de próteses e órteses para tratar todos os pacientes.”

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