Jornal Estado de Minas

De janeiro a agosto, BH registrou 185 casos de violência em postos de saúde

Se os principais problemas dos usuários de unidades de saúde de Belo Horizonte eram a demora no atendimento ou a falta de médicos, agora a insegurança e a violência entraram na receita. O registro de dois roubos à mão armada em 24 horas em dois centros de saúde da capital, nas regiões Oeste e Nordeste, agrava a onda de violência nesses estabelecimentos. Números do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed-MG) apontam que desde o início deste semestre são mais de 260 ocorrências de violência, entre roubos, agressões e ameaças em estabelecimentos de saúde da capital. Sessenta delas foram registradas apenas no último mês.

Especificamente de roubos a funcionários e pacientes das unidades de saúde, balanço da Guarda Municipal aponta que entre janeiro e agosto foram 185 ocorrências do tipo, ou seja, um ataque a cada três dias. A corporação não apresentou dados recentes, assim como a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) de BH, que foi procurada no começo da noite de ontem, mas não se posicionou sobre o clima de insegurança nas unidades.

O assalto de ontem ocorreu no Centro de Saúde Cícero Idelfonso, na Rua Aguanil, no Bairro Vista Alegre, Região Oeste da capital, onde pelo menos 10 pessoas foram vítimas de um arrastão. O ataque ocorreu um dia depois que dois ladrões roubaram usuários da casa de apoio do Centro de Saúde Glória, no Bairro São Salvador, Noroeste de Belo Horizonte. O assalto ocorreu na manhã da segunda-feira.

De acordo com a Polícia Militar, na manhã de ontem pessoas que aguardavam atendimento no Centro de Saúde Cícero Idelfonso tiveram seus pertences levados por um criminoso armado. Vítimas relataram aos militares que o ladrão, armado, anunciou o assalto e começou a recolher aparelhos de telefone celular.
Quando os PMs chegaram, pacientes informaram aos policiais que o homem, que usava mochila rosa, ainda se encontrava nas imediações da unidade, tendo cometido outros assaltos.

Rapidamente os militares montaram um cerco e conseguiram prender Josemar Rodrigues da Silva, de 30 anos, que fugia em uma motocicleta no Anel Rodoviário, na altura da Vila Oeste. O suspeito teria confessado aos policiais que era o autor do roubo, tendo sugerido que a ação ocorreu a mando de um traficante da Vila Casinha da Amanda, identificado como “Bruninho”. A motivação do ataque ao centro de saúde, segundo o suspeito, foi uma retaliação do traficante, que estaria revoltado com uma falha no atendimento por parte dos funcionários do posto e com agentes da Guarda Municipal que fazem patrulhamento na unidade.

Os PMs seguiram com Josemar até o endereço apontado por ele como sendo da casa do traficante Bruno de Paula, de 22 anos, o Bruninho. Ele estava no imóvel e também foi detido. Segundo os militares, o homem que é um dos suspeitos de chefiar o tráfico de drogas na região, disse que a versão de Josemar era mentirosa.

Já na delegacia, ouvido na Central de Flagrantes III, no Barreiro, Josemar disse que praticou o crime por estar desempregado e precisando de dinheiro para cuidar da família. Bruno, por sua vez, manteve a versão de que não ordenou o ataque. Mesmo com as contradições, os dois foram presos e autuados em flagrante pelo assalto, entre outros crimes.
A moto e uma réplica de arma de fogo usada na ação criminosa foram apreendidas. Os celulares roubados foram recuperado e devolvidos aos seus donos.

Por meio de nota, na manhã de ontem, momentos depois do ataque, a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte informou que o atendimento na unidade foi suspenso por causa da ocorrência. A previsão, segundo a SMS, era de que o atendimento fosse normalizado hoje. Os pacientes que aguardavam atendimento foram encaminhados a unidades próximas, e os casos urgentes, para a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Oeste.

 

Trabalhando com o perigo

 

De acordo com a direção do Sindicato dos Médicos, denúncias de casos de violência se tornaram rotina na entidade. “Além de oficializar a prefeitura em cada caso registrado, durante as reuniões com gestores a diretoria do sindicato deixa clara a importância de mais segurança nas unidades de saúde, que estão à mercê de bandidos. Mas parece que a prefeitura não está preocupada com esta situação, pois vê os fatos sem tomar atitude”, disse o médico e diretor sindical André Christiano dos Santos. “Não queremos segurança em dias alternados, mas diariamente, para garantir mais tranquilidade para os médicos, demais servidores e pacientes”, completou.

No caso do roubo no Bairro São Salvador, na segunda-feira os dois homens que abordaram os pacientes que esperavam pela consulta chegaram ao posto de saúde gritando “perdeu, perdeu, perdeu”. Eles levaram celulares, documentos e cerca de R$ 100 de pelo menos seis vítimas.

Um dos bandidos estava com uma submetralhadora caseira. Eles fugiram em um Fiat Palio e não foram localizados pelos policiais. O caso agora é investigado pela Polícia Civil.

Por meio de nota, a Guarda Municipal de Belo Horizonte afirmou que adota estratégia de atuação nas unidades de saúde definida com base na incidência de criminalidade da área onde cada unidade está instalada, e também por indicação de prioridades por parte da Secretaria Municipal de Saúde. “Dessa forma, são mantidos guardas municipais fixos em 90 postos, durante todo o período de funcionamento, em dias alternados. Toda a rede tem sua segurança garantida ainda com o patrulhamento preventivo motorizado, com rondas periódicas e específicas, em viaturas que percorrem as unidades e estendem sua área de cobertura a todo o entorno, beneficiando assim mais pessoas e aumentando a sensação de segurança das comunidades vizinhas”, destacou o comunicado.

Ainda de acordo com a entidade, as nove unidades de pronto atendimento (UPAs) da capital contam, desde a segunda quinzena julho, com uma viatura fixa e dois guardas durante o período noturno. As rondas motorizadas nas imediações de cada uma das UPAs também foram intensificadas. No mês passado, dados divulgados pela Guarda Municipal entre janeiro e agosto de 2017 apontavam um aumento de 14,9% dos ataques aos postos de saúde, em comparação com o mesmo período do ano passado. Foram 185 casos neste ano contra 161 em 2016.

 

 

Insegurança em Betim

 


A violência no setor de saúde não se restringe à capital, com mostrou reportagem do Estado De Minas de 16 de outubro. O quadro também é crítico para usuários e funcionários de centros de saúde de cidades como Betim, na região metropolitana. Uma sequência de 16 roubos foi registrada de abril a setembro em unidades da cidade, o que dá média de um caso a cada quinzena.

A soma de assaltos, porém, seria de 20 ocorrências até começo de outubro, segundo funcionários das unidades de básicas do município, conhecido por ser um dos grandes polos industriais mineiros. A luz de emergência se acendeu depois que, em abril deste ano, ocorreram oito assaltos, ou dois por semana. A situação levou o Conselho Regional de Medicina (CRM-MG) a enviar ofício no dia 25 daquele mesmo mês à Secretaria Municipal de Saúde, pedindo providências no sentido de adotar medidas de segurança para garantir a integridade dos médicos. Em 10 de maio, o secretário municipal de Saúde, Guilherme Carvalho da Paixão, respondeu, por meio de ofício ao CRM-MG, que a questão estava sendo discutida.

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