Pressão, responsabilidade e o medo do fracasso, uma mistura que, há anos, leva estudantes e médicos recém-formados a tirarem a própria vida. A questão é discutida há décadas no círculo médico, mas extrapolou os muros das faculdades de medicina depois do autoextermínio de dois alunos de uma instituição de Minas Gerais num período de apenas 10 dias, sendo o último deles na manhã de terça-feira. Estudos científicos mostram um número assustador: a média de suicídios entre quem ainda está cursando medicina e quem acabou de concluir o curso é quatro a cinco vezes maior que a da população em geral em todo o mundo. Outro dado é que um em cada quatro tem sintomas depressivos.
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Morte de aluno de medicina causa comoção em faculdade de Belo HorizonteMortes de estudantes em BH alertam para excesso de cobrança e medo do fracassoSuicídio será tema de simpósio em Minas GeraisEm 1991, levantamento apontou as características dos alunos que tiraram a própria vida: o estudante que quer o melhor desempenho escolar; pessoas mais exigentes; mais propensas a sofrer pressões; pouca tolerância a falhas; quem sente maior culpa pelo que não sabe; aqueles que paralisam diante do medo de errar; quem pensa em abandonar o curso, mas não tem coragem de fazê-lo. Todos esses fatores levam à depressão e ao suicídio.
Nos artigos científicos, estudantes falam em esgotamento, ansiedade, depressão, internações psiquiátricas, uso de álcool e drogas.
O médico relata que numa das instituições mais importantes do país, a Universidade de São Paulo (USP), houve este ano um número grande de tentativas de autoextermínio, principalmente entre alunos do 4º ano de medicina, o que levou o assunto ao centro dos debates no Cobem. Entre os motivos, estão as pressões que se multiplicam nessa etapa, quando se aproxima a prova de residência. “O aluno vai escolher a especialização e são poucas vagas.
Para o professor do 6º período de medicina, o salto de casos em 2017 é explicado pelo momento pelo qual o país está passando, de insegurança e instabilidade. “O momento coincide com o em que ele deve decidir o que quer para vida dele. E já estudou por tanto tempo que é muito difícil sair de uma especialidade e ir para outra.”
Sérgio Oliveira relata ainda que é grande o número de alunos que fazem uso de antidepressivos e, diante de tantas evidências, as instituições têm atuado cada vez mais na tentativa de ajudar os estudantes. Por isso, em toda elas há um núcleo de apoio ao estudante de medicina. Segundo o médico, a chave está no controle emocional.
“Sempre pergunto aos meus alunos quem foi ao cinema, quem está lendo um livro interessante. Mostro que ele tem que sair, se divertir, ter outros envolvimentos e uma vida pessoal.