Jornal Estado de Minas

Belo Horizonte e região metropolitana devem enfrentar mais temporais

Escola municipal no Bairro Santa Martinha foi destelhada - Foto: Jair Amaral/EM/DA Press

A Região Metropolitana de Belo Horizonte se aproxima do fim de semana em clima de alerta. Aviso da Coordenadoria de Defesa Civil da capital, válido até segunda-feira, adverte para forte instabilidade atmosférica atuando sobre boa parte do estado devido ao calor, à umidade e principalmente à queda da pressão atmosférica. Com isso, há previsão de temporais até segunda-feira em áreas que incluem a Grande BH, já castigada por tempestades nesta semana e onde muitas cidades amanheceram ontem contando prejuízos da véspera. Em menos de 20 minutos, a chuva seguida de vendaval e granizo que se abateu no fim da tarde de quarta-feira principalmente sobre Ribeirão das Neves, Caeté e Pedro Leopoldo causou inundações e estragos em imóveis e carros, deixando bairros inteiros sem luz e telefonia.

Ontem, as companhias de energia elétrica, de água, telefônicas, além de equipes da Defesa Civil das cidades e de um batalhão de limpeza das prefeituras começaram cedo a desobstruir ruas, passeios e auxiliar na reestruturação de serviços e infraestrutura de vários bairros. O fenômeno meteorológico caracterizado pela formação rápida de nuvens carregadas após intenso aquecimento (veja arte) levou as prefeituras desses três municípios a declarar situação de emergência, condição que permite conseguir recursos junto ao estado e à União.

Em Caeté, 200 famílias ficaram desabrigadas. Em Pedro Leopoldo, a mesma quantidade de pessoas ficou sem um teto devido à tempestade. De acordo com meteorologistas do Instituto PUC Minas/TempoClima, a zona de destruição das rajadas de vento, pedras de granizo e chuvas intensas chegou a distâncias entre cinco e 10 quilômetros de bairros das regiões Noroeste, Norte e Oeste, onde os prejuízos poderiam ser ainda maiores devido à densidade populacional e de tráfego.

Em Ribeirão das Neves, onde os ventos ultrapassaram 75km/h, a região central foi a mais afetada, chegando ao ponto de a energia e as comunicações da própria prefeitura terem sido afetadas, o que estava comprometendo, inclusive, os esforços de reparação e auxílio às comunidades. Por toda a região o cenário era de destruição, semelhante ao de grandes catástrofes, com muros derrubados sobre passeios e vias, destroços interditando ruas, árvores despencadas sobre casas e veículos, gente puxando água com rodos de dentro de suas casas e removendo o barro.
Por sorte, nenhuma pessoa se feriu com gravidade, mas o prejuízo ainda não pôde ser estimado.

A área do Hospital São Judas Tadeu, que é referência em atendimento de pronto-socorro na região, foi uma das mais afetadas. Parte do telhado do hospital foi arrancado pela força dos ventos, deixando médicos, enfermeiros e funcionários em alerta. A água invadiu a estrutura, obrigando ao esvaziamento de um andar inteiro. A UPA do Bairro Santa Marta também sofreu destelhamento e precisou ser evacuada, com três pacientes em estado mais grave sendo direcionados para a UPA Justinópolis e outros três recebendo alta, por terem condições mais favoráveis, de acordo com a Defesa Civil local.

Em volta do hospital, praticamente todas as construções foram destelhadas e pela manhã moradores se desviavam de árvores serradas e lâminas de telhas metálicas retorcidas, enquanto muitas estruturas eram reparadas pelos próprios proprietários. “Como tudo ocorreu no fim da tarde, no primeiro momento nosso trabalho foi desobstruir vias serrando árvores e limpando destroços nas ruas até as 3h. Hoje (ontem) partimos para a reparação de estruturas comprometidas e levantamento dos estragos”, disse a coordenadora da Defesa Civil de Neves, Orlandi Barbosa Rodrigues.

Nos bairros Santa Marta e Santa Martinha, os estragos afetaram residências e pontos de comércio. No imóvel da dona de casa Mônica Teixeira de Araújo, de 43 anos, árvores destruíram o telhado e com isso chuva, lama e granizo invadiram a moradia.
Ontem, ele removia os móveis atingidos e os reunia no quintal para secar. “Foi uma tempestade muito rápida, mas assustadora, parecia que a gente ia morrer. Imaginei que fosse um furacão, que fosse arrancar nossa casa inteira. No momento eu estava sozinha. Fiquei sem luz e telefone, esperando notícias dos meus filhos e do marido por horas”, conta. Dois supermercados tiveram suas estruturas de cobertura metálica completamente destroçadas. Ontem, ficaram fechados para reparos e resgate das mercadorias.
- Foto: Arte EM
O pânico tomou conta da Escola Municipal Clemência Alves Dias, no Bairro Santa Martinha. De acordo com a diretora da instituição de maternal, primeiro e segundo períodos, Flávia do Carmo Silva, 115 alunos estavam esperando seus pais quando a tempestade chegou.
“Foi tudo muito rápido, uma questão de segundos para as telhas serem arrancadas e a água descer com força por toda a parte. Nós, educadores, tivemos de ter muita atitude para que as crianças não entrassem em pânico, mas foram momentos críticos”, afirma.

No pátio filiado ao Detran/MG, uma dúzia de carros apreendidos foi danificada pela queda de um muro e pela derrubada de um estacionamento metálico pelos ventos. A Polícia Civil informou que uma perícia seria feita, mas que não haverá inquérito, por se tratar de fenômeno natural.

Perdas em outras cidades


Em Caeté, outro município castigado pela tempestade, famílias desabrigadas precisam de colchões, lençóis, cobertores, materiais de higiene e peças de roupa. As doações podem ser entregues no Ginásio Poliesportivo do município (Avenida Carlos Cruz, sem número, Bairro José Brandão). De acordo com a Defesa Civil da cidade, a estimativa é que 200 famílias tenham ficado desabrigadas. Mas o número de moradias de alguma forma danificadas por pedras de gelo é estimado em 2 mil. No ginásio poliesportivo da cidade estão abrigadas 22 famílias.

Outro local atingido pela chuva que precisa de ajuda é Pedro Leopoldo. Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura, até a manhã de ontem foram registradas 200 pessoas desabrigadas. Algumas preferiram ir para a casa de parentes, mas escolas estão disponíveis para quem precisar. A Secretaria Municipal de Segurança Pública recebe as doações que serão repassadas às famílias.

Meteorologia explica formação de granizo

 

O fenômeno causador da chuva que deixou rastros de destruição em Ribeirão das Neves, Caeté e Pedro Leopoldo é uma formação de nuvens (cumulonimbus) caracterizada pelo desenvolvimento vertical.

Esse tipo de chuva, conforme o meteorologista Heriberto dos Anjos, do Instituto PucMinas/TempoClima, “ocorre pelo aquecimento que está na superfície do solo, que sobe e se transforma nesse tipo de nuvem”. “O período de formação é de menos de uma hora e pode ocasionar tempestades acompanhadas de granizo e muitas rajadas de vento”, explicou.

Na tarde de quarta-feira, dois núcleos do tipo se formaram sobre Brumadinho, na Grande BH, e Itabirito, na Região Central, e resultaram nos temporais que atingiram Ribeirão das Neves, Caeté e Pedro Leopoldo. Segundo Heriberto dos Anjos, as Regiões Noroeste, Oeste e Norte de Belo Horizonte não foram afetadas pela formação por uma distância de no máximo 10 quilômetros.

Para os próximos dias, persiste a previsão de forte instabilidade atmosférica atuando sobre boa parte de Minas Gerais, devido ao calor, umidade e principalmente à queda da pressão atmosférica. Há previsão de tempestade e acumulado pluviométrico significativo no decorrer dos próximos dias. Essa condição permanecerá até segunda-feira em boa parte de Minas Gerais, inclusive na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Na capital, o acumulado pluviométrico no mesmo período poderá superar os 100 milímetros. A condição levou a Defesa Civil da capital mineira e o Corpo de Bombeiros a emitirem alerta no início de ontem para a possibilidade de chuva forte.

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