Entre as novidades para o aniversário de BH, informa Andréa de Magalhães Matos, superintendente de Museus e Artes Visuais (Sumav) da Secretaria de Estado da Cultura, está a mostra Primeiros registros – a data de abertura será divulgada durante a semana –, com mais de 100 obras do Museu Mineiro, Arquivo Público Mineiro e Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha). Na Galeria de Exposição Temporária, estará um panorama da trajetória da cidade por meio de quadros, fotografias, documentos, plantas cadastrais e objetos, com destaque para uma tela retratando o engenheiro construtor Aarão Reis (1853-1936) com o projeto original de BH nas mãos, e uma bonequinha de biscuit que pertenceu à menina Alice, uma das que participaram do primeiro sorteio de lotes da nova capital.
“Este é um museu mineiro, com obras de artistas mineiros ou daqueles que retrataram Minas Gerais”, ressalta Andréa, orgulhosa por dirigir uma instituição que guarda a memória do estado e muito da capital. No total, são 3,5 mil peças, das quais 700 em exposição e de várias épocas e estilos. “Nosso objetivo é manter o dinamismo do museu, formar novos públicos e valorizar movimentos artísticos e culturais”, afirma.
SURPRESAS Como dizia um poeta, trata-se, nesse momento, de um “museu de grandes novidades”. Quem entrar na construção em estilo eclético terá outras boas surpresas além da Sala das Sessões, agora com o forro e as pinturas parietais (feitas diretamente no reboco) reluzentes sob a iluminação expositiva e própria para destacar o acervo pictórico. No hall, pode ser admirado outro conjunto de pinturas parietais, que, conforme pesquisas, tem autoria do mesmo artista que trabalhou no Palácio da Liberdade, o alemão Frederico Steckel (1834-1921). A superintendente conta que foram removidas seis camadas de tinta até se chegar ao original.
Bem na entrada, estão em exposição obras de autoria do pintor natural de Ouro Preto Honório Esteves (1869-1933). Todos os quadros retratam personagens masculinos, destaca a superintendente, e, de cara, causa grande impacto a figura de um egípcio. Caminhando um pouco mais, fica-se frente a frente com a Sala dos Monarcas e vale o convite para contemplar as figuras, em óleo sobre tela, de dom João VI, Pedro II, dona Maria I e o brasão da família real.
No primeiro pavimento, mais perto da avenida, fica a Sala Jeanne Milde, homenagem à escultora belga (1900-1997) que chegou a BH em 1929, numa missão pedagógica europeia, para trabalhar no ensino de arte e educação. Os olhos não se cansam de admirar a escultura As adolescentes, verdadeira poesia feita com o cinzel. Sem pressa, tem-se a chance de conhecer o acervo moderno, com pinturas de Guignard (1896-1962) e trabalhos de Amílcar de Castro, Márcio Sampaio, Mário Silésio e Érico de Paula. “Este acervo é permanente, com obras datadas de 1929 em diante”, explica Andréa.
A conclusão das obras de restauro emociona a equipe do Museu Mineiro. “Estamos extasiados”, revela Andréa, revelando que foram empregados R$ 250 mil, via lei estadual de incentivo à cultura, com patrocínio da Cemig. “Não gastamos nada além disso, a curadoria foi daqui mesmo, enfim, fizemos milagre.”
TESOUROS O casarão da Avenida João Pinheiro, antes de abrigar o Museu Mineiro, teve múltiplas serventias – residência de secretários de governo no início de BH, Senado e na década de 1960 a 1981, Pagadoria do Estado. Hoje, leva os visitantes a fazer uma viagem sensorial ao caminhar por ambientes distintos e admirar imagens, oratórios e prataria, a maioria originária da Coleção Geraldo Parreiras, adquirida pelo estado em 1978. Na Sala das Colunas, causa impacto o pórtico de madeira trabalhada, com anjos, que pertenceu a uma igreja, já demolida, do interior. Nas vitrines, é de encher os olhos as imagens de Santana Mestra, São José de Botas, Nossa Senhora da Conceição e outros santos.
O olhar curioso do visitante vai encontrar muitas preciosidades: a colher de pedreiro que assentou a primeira pedra da construção da Cidade de Minas, nome anterior a Belo Horizonte – a ferramenta, com inscrição datada de 7 de setembro de 1895, tem lâmina de ouro e prata e cabo de madeira e estará na mostra Primeiros registros; o livro contando a festa do Triunfo Eucarístico, realizada em Ouro Preto em 21 de maio de 1733, e considerada pelos estudiosos uma das mais ricas e belas do Brasil colonial; um relógio pertencente a Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792), e outros objetos que contam parte da história de Minas. Na Sala das Sessões, vale a pena ficar longos minutos observando a o quadro A má notícia, datado de 1897 e de autoria do mineiro Belmiro de Almeida (1858-1935).
SERVIÇO
Museu Mineiro: Avenida João Pinheiro, 342 – Bairro Funcionários, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte
Aberto às terças, quartas e sextas, das 10h às 19h; às quintas, das 12h às 21h; e sábados e domingos, das 12h às 19h
Telefones: (31) 3269-1103 e 1106 (visitas de grupos devem ser marcadas com antecedência)
Entrada franca
Camadas do tempo
Em maio, conforme mostrou o Estado de Minas, foi descoberta no Museu Mineiro, sob seis camadas de tinta, a última delas na cor preta, um conjunto de pinturais parietais – feitas diretamente nas paredes, sobre o reboco. São figuras aladas, folhas de acanto e outras ornamentações. Um mês antes, especialistas do Grupo Oficina de Restauro, de BH, iniciaram os serviços de recuperação nessa área do museu. Tudo começou com a prospecção na parede pintada de preto, e, após a intervenção, a equipe descobriu várias camadas de marrom, de massa e outros materiais e cores diferentes. No ambiente ao lado, que era preto e agora exibe um tom pêssego, dando mais leveza ao ambiente, não houve registro desses trabalhos, tão em moda na BH do início do século 20
1895
O acervo do Museu Mineiro começa a ser constituído com a criação, em Ouro Preto, do Arquivo Público Mineiro
1910
Lei 528, de 20 de setembro, autoriza a formação de coleções de objetos para composição do futuro museu
1977
Decreto 18.606 determina a implantação do Museu Mineiro e o desvincula do Arquivo Público
1978
Museu recebe 187 peças de arte sacra (séculos 18 e 19) da coleção Geraldo Parreiras, adquirida nesse ano pelo governo do estado
1982
Museu é inaugurado em 10 de maio e funciona no prédio do antigo Senado Mineiro
1984
Em abril, museu passa a ser vinculado à recém-criada Secretaria de Estado da Cultura
2002
Término do processo de revitalização do Museu Mineiro, iniciado em 1999, que culminou na abertura da exposição Colecionismo mineiro
2012
Em 18 de janeiro, Museu Mineiro é reaberto, com espaço multiuso e novos sistema elétrico, projeto luminotécnico, pintura e museografia
2017
Em dezembro, são concluídas as obras de restauração do museu, com a reabertura da Sala das Sessões