Ação truculenta dos seguranças que terminou em um 'mata leão' fatal. Essa é a conclusão do inquérito da Polícia Civil, que investigou o assassinato do fisiculturista e estudante de educação física Allan Guimarães Pontelo, de 25 anos, encontrado sem vida pela Polícia Militar na boate Hangar 677, em Belo Horizonte, em setembro deste ano. Quatro pessoas foram indiciadas por homicídio qualificado. Entre eles um homem que se passava por policial civil e um cabo da PM. Segundo a corporação, o segurança que se passava por policial iria pedir propina para a vítima, sob ameaça de prisão, já que foram encontradas drogas com ele.
Anteriormente, foi publicada a informação de forma equivocada que um dos indiciados seria um policial civil. A informação foi corrigida às 14h30.
As investigações apontaram que no dia do crime, Allan foi abordado por volta das 2h30 por dois seguranças quando saía do banheiro da boate. Eles suspeitavam que o jovem estava com drogas. Ecstasy e cocaína foram encontrados com ele. “A droga foi periciada e, nas investigações, conseguimos apontar que Pontello estaria com os entorpecentes. Não há indícios que as substâncias foram plantadas. Não podemos afirmar que a vítima era traficante de drogas. O que já sabemos é que ele teve envolvimento com drogas, isso foi constatado”, explicou o delegado Magno Machado, responsável pelo caso. A versão de que os entorpecentes foram plantados foi dada por amigos e familiares do fisiculturista.
Depois de ser abordado, segundo o inquérito, os dois seguranças levaram Allan para um local onde não tinha câmeras de segurança. Lá, um dos funcionários da boate, que se passava por policial civil, afirmou que o jovem seria preso. “Neste momento, a vítima começou a se desesperar e se contorcer. Eles entraram em luta corporal e o jovem foi agredido. Diversas lesões e escoriações foram constatadas no corpo dele. Houve uma espécie de gravata que resultou na morte de Allan. O laudo de necrópsia apontou que houve fratura na traqueia que contribuiu para a asfixia e morte”, concluiu o delegado.
O homem que se passava por policial civil, segundo as investigações, tinha a intenção de pedir dinheiro ao fisiculturista no momento em que ele foi encontrado com drogas. “Podemos falar que procede em parte a situação de propina. Paulo Henrique tem histórico de extorsão dentro do Hangar. Há provas dentro do inquérito que ele já recebeu propina anteriormente. A pessoa que estava traficando e/ou usando drogas, era abordada, ele se identificava como policial civil e exigia dinheiro para não conduzir para a delegacia”, comentou Magno Machado. No inquérito, não há elementos que comprovem que os proprietários da casa de shows sabiam da extorsão, de acordo com a polícia.
Segundo o delegado, um cabo da Polícia Militar também participou indiretamente do crime. As investigações apontaram que o PM, que também trabalhava na casa, manteve à distância as pessoas que queriam se aproximar do local onde o fisiculturista foi levado. Ele, inclusive, foi apontado por um amigo de Allan como a pessoa que apontou uma arma para este amigo e o ameaçou.
Em 11 de outubro, a Justiça expediu mandados de prisão temporária contra quatro investigados no inquérito. Carlos Felipe Soares, William da Cruz Leal, Paulo Henrique e um quarto homem que ficou constatado não ter participação no crime. Porém, a prisão venceu e Paulo foi posto em liberdade. “Foi pedida a renovação da prisão, mas ele está foragido. William, que não foi encontrado, continua foragido. Ele ficou de se apresentar, mas não cumpriu a promessa”, disse o delegado.
Drogas
A Polícia Civil comprovou que as drogas entregues pelos seguranças da boate no dia do crime à polícia eram mesmo do fisiculturista. Segundo o delegado, uma investigação do Departamento Estadual de Combate ao Narcotráfico (Denarc) apurou a participação dele no tráfico de drogas. “Houve essa apuração, mas ele não era o alvo principal. Era como um participante que talvez vendesse anabolizantes. Não foi constatado no final que ele traficava drogas”, comentou.