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Corte de água em cidades atingidas por enchentes traz ameaça da sede'Em 10 minutos perdi tudo', diz mulher que teve a casa danificada pela chuva em São Pedro dos FerrosVeja imagens aéreas de como ficou Rio Casca após a chuva Defesa Civil emite alerta de pancadas de chuva, raios e rajadas de vento em BHCorpo de adolescente levada pela enchente é enterrado em UrucâniaMoradores de Santa Cruz do Escalvado se unem para retirar a lama da cidadeCabo da PM morto por bandidos é enterrado em Martinho CamposEm meio aos olhares tristes e cansados de quem vê o tamanho do prejuízo, destacam-se histórias de quem ignorou o risco à própria vida para salvar as de outros. Um desses heróis é Helvécio Sebastião dos Santos, de 47, que com um bote e apoio de um amigo ajudou a retirar mais de 50 pessoas ilhadas entre Rio Casca e São Pedro dos Ferros, em um trabalho que varou a madrugada e terminou quase às duas horas da manhã.
Ontem, ao caminhar pelas ruas cheias de lama e entulho, Helvécio não demonstrava cansaço e continuava a ajudar. Enquanto ouvia expressões de reconhecimento, auxiliava na limpeza de algumas casas e carregou pertences de moradores. A todo momento era cumprimentado por aqueles que presenciaram o resgate. “É um herói. Primeiro foi Deus, depois, ele.
O esforço para limpar a sujeira e começar a reconstruir a vida se repete em várias comunidades dos municípios atingidos, onde agora faltam água potável e mantimentos. Casos de luta pela vida se multiplicam em meio aos moradores que, com ajuda de vizinhos e disposição, tentam limpar o que a água não carregou. Uma das histórias marcantes é de Gerlaine Soares Domingues, moradora de águas férreas, distrito do município de São Pedro dos Ferros.
As histórias de Gerlaine e Helvécio, morador de Vista Alegre, distrito do município de Rio Casca, se uniram de forma catastrófica pela enxurrada do Rio Casca, que saiu de sua calha e cuja correnteza arrasou o que encontrou pela frente. Mesmo um dia depois da tempestade o curso d’água continuava com cinco metros acima do leito normal, segundo os moradores.
A força da correnteza destruiu completamente dezenas de residências. Em outras, provocou danos irreparáveis em móveis, eletrodomésticos, roupas e documentos. “Podemos estimar que 90% dos distritos foram afetados. A energia elétrica foi cortada e não tem abastecimento de água potável para os moradores tomarem banho ou fazer comida.
Os militares continuam nas comunidades para contabilizar os estragos e verificar denúncias de pessoas desaparecidas. No fim da tarde de ontem, uma garota foi resgatada junto com a mãe também no distrito de Vista Alegre. A menina estava havia três dias sem comer e tinha febre. Ela foi levada de helicóptero até Rio Casca e de lá, levada para um hospital da região. “Devido ao local estar sem medicamentos e alimentação, tivemos que fazer o resgate. A menina está com suspeita de infecção. Foi deixada na unidade de saúde para tomar soro e a medicação adequada”, explicou Giovana Ferreria Zanin Gonçalves, medica do Samu que ajuda nas buscas com a aeronave dos Bombeiros.
Acostumados a pequenas enchentes, moradores de Vista Alegre e Águas de Ferros ignoraram avisos de agentes do posto de saúde sobre uma possível tromba d’água. Por isso, muitos continuaram nas casas, mesmo próximas ao Rio Casca. “Estamos acostumados com enchentes. Tanto que avisaram cedo que havia chovido forte em uma cidade acima, mas ninguém deu muita importância”, disse Deila Cunha Rocha Couto, de 35.
DEPOIMENTO
"Impossível não relembrar Mariana"
“Antes de chegar a Vista Alegre e Águas Férreas, distritos de Rio Casca e São Pedro dos Ferros, fomos alertados por uma funcionária de um posto de combustíveis sobre a situação crítica que as comunidades enfrentavam depois do temporal. Mas foi quando comecei a enfrentar a lama na estrada junto com o fotógrafo Ramon Lisboa e o motorista Paulo que deu para perceber o tamanho da devastação. ‘Bento Rodrigues voltando à tona.’ Essa foi a frase que ouvi na primeira entrevista, ainda na estrada. Realmente, ao chegar às duas comunidades, foi impossível não lembrar da tragédia de Mariana. Ruas tomadas por lama, casas destruídas, plantações arrasadas, animais mortos... Triste viver isso de novo. Também ouvi histórias de pessoas que se salvaram se refugiando em telhados, outras salvas por heróis. Que a solidariedade dos moradores, que se ajudavam mesmo depois de perder tudo, sirva de inspiração aos mineiros e ao país. Eles precisam mais do que nunca de roupas, mantimentos, medicamentos e, principalmente, água potável.