Festa de alegria, fé e muita emoção. No aniversário de 120 anos de Belo Horizonte, que será celebrado na terça-feira, uma irmandade religiosa mostra que faz parte dessa história e preenche grande espaço na linha do tempo. Com o som característico de arrepiar, músicas ritmadas e carregando a bandeira, a Guarda de Nossa Senhora do Rosário Os Carolinos, nascida há um século no Bairro Aparecida, na Região Noroeste da capital, foi recebida no início da tarde de ontem na Igreja São José, na Avenida Afonso Pena, e depois seguiu em cortejo até o Museu Inimá de Paula, na Rua da Bahia, onde foi aberta a exposição Reinado de Chico Calu – Repertórios sagrados da Irmandade Os Carolinos.
“Estamos felizes, pois mantemos as raízes da cultura africana e o louvor a Nossa Senhora do Rosário”, disse o capitão-mor Nilson Pereira da Silva, à frente dos 35 integrantes, alguns deles tocando com vigor instrumentos como a caixa. “O congado ganhou muita visibilidade nos últimos anos. Agora, aguardamos o reconhecimento como patrimônio imaterial de Belo Horizonte”, disse Nilson. A celebração teve ainda a participação da Guarda do Divino Espírito Santo do Reino de São Benedito e da Guarda de Congo Feminina de Nossa Senhora do Rosário, também do Bairro Aparecida, e a Guarda do Divino Espírito Santo de Vespasiano, na Grande BH.
O capitão-mor Bené, do Reino de São Benedito, com 22 anos de fundação, ficou com os olhos brilhando ao falar da aniversariante centenária: “Muito, muito, muito emocionado”, disse. Já a Guarda de Congo Feminina, com 44 anos, também fez questão de participar do cortejo. “Espero chegar aos 100 anos de idade, e quero ver nossa guarda chegar ao mesmo tempo”, ressaltou a capitã Maria Nascimento da Silva, de 68.
ENCONTRO Passava das 13h quando o padre Flávio Campos, da Igreja São José, recebeu as guardas no interior do templo também centenário. “É com alegria que recebemos as irmandades, sendo Os Carolinos centenária, na semana de comemoração dos 120 anos de Belo Horizonte. Temos que destacar a importância de se preservarem a cultura e a tradição”, disse o padre Flávio. No altar, depois de beijar a bandeira e abençoar os participantes, o vigário presentou os grupos, na figura do músico Maurício Tizumba, com uma imagem de São José.
A história de Os Carolinos começou em 1917, quando Francisco Carolino, o Chico Calu, fundou guardas de moçambique e de congo para louvar Nossa Senhora do Rosário. Nessa importante tradição da cultura mineira, religiosidade e respeito à ancestralidade são transmitidos de geração a geração pela irmandade. A guarda se formou em um pequeno lugarejo do município de Esmeraldas, mas, em 1937, migrou para o Bairro Aparecida. Chegou à capital graças ao filho de Chico Calu, Luiz Carolino.
EXPOSIÇÃO A mostra no Inimá de Paula reúne cerca de 30 imagens das guardas de moçambique e de congo de Os Carolinos, além de objetos usados nas celebrações. Os registros são assinados por Patrick Arley e pelo fotógrafo Netun Lima. As fotografias estão expostas em estandartes. Depois de acompanhar não só as festividades, mas o dia a dia das comunidades, a curadoria trabalhou sobre milhares de fotografias. Objetos sagrados – coroas, bastão, bandeiras e faixas – também integram a exposição.
Os Carolinos mantêm duas guardas: uma de congo e a outra de moçambique. A principal diferença é o ritmo. “Tanto o congo quanto o moçambique dizem respeito a histórias da diáspora negra. O moçambique é mais lento, enquanto a guarda de congo é mais animada, um ritmo mais pesado”, explica Arley.
TRADIÇÃO
A tradição reinventa o reinado da região onde hoje fica a República do Congo, na África.