A crise econômica embarcou no trenó do Papai Noel, e ameaça deixar um pouco mais triste o Natal de milhares de crianças que dependem da solidariedade para as festas de fim de ano. Em um 2017 marcado pelo arrocho, entidades e grupos que costumam promover festas e doações para comunidades carentes e pessoas em situação de vulnerabilidade social vêm enfrentando dificuldades para arrecadar produtos que serão distribuídos no período natalino, e clamam por ajuda para que o brilho da festa não diminua.
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Andrei Bicalho explica que a busca por ajuda começou ainda em agosto, mas não houve o retorno esperado. Normalmente, grupos de voluntários procuram a empresa com doações e a comissão organizadora também entra em contato com fornecedores. “Temos feito contato também com essa turma. Todos eles falam que neste ano não estão com muita atenção para as doações, porque estão procurando resolver questões financeiras. As doações ficaram em segundo plano”, explica.
‘Amor não pode ser parcelado’
Papai Noel do Restaurante Popular de Belo Horizonte há mais de 20 anos, Mário de Assis reclama que o coração das pessoas ainda não amoleceu neste ano. O pedido de donativos começou em novembro, mas, diante do que é preciso, pouca coisa foi arrecadada.
Mário de Assis, também é presidente da Federação das Associações de Pais e Alunos das Escolas Municipais de Minas Gerais (Fapaemg). “Não é só a crise econômica que evidencia isso. Meu público geralmente é da educação, e o 13º vai ser parcelado. A gente entende a dificuldade, o salário é parcelado, mas o amor e a caridade não podem ser parcelados”, analisa. O almoço de Natal ocorrerá no Restaurante Popular II, que fica na Rua Ceará, no Bairro Santa Efigênia, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Os donativos podem ser entregues até o dia 22.
Na outra ponta da cidade, mais um Papai Noel clama por contribuições. José Naide de Carvalho, o Jacaré, de 75 anos, é dono de um bar no Barreiro. Para tentar superar a dor da perda da filha, que morreu em um acidente de carro no Natal de 1986, ele passou a recolher presentes e a distribuí-los para famílias carentes no interior de Minas. Começou já na década de 1990, com uma Brasília. Hoje já aluga um caminhão, contando com o auxílio de outras 10 pessoas. Vestido como o bom velhinho, em sua missão ele percorre 120 quilômetros, de Ibirité a Crucilândia. “Acho que a crise mexeu muito com o povo”, avalia o comerciante, muito conhecido na região. “Tem pessoas para as quais normalmente nem preciso pedir, mas, mesmo assim, neste ano ficou complicado”, comentou.
José Naide disse que ainda tem esperança de receber mais brinquedos, bolas, cestas básicas e balas para distribuir. “Estou com 75 anos e vou continuar até quando Deus quiser. Até cogitei parar, mas aí pensei: O que vou fazer no dia 25? Não vou comemorar com ninguém, vou deixar as crianças na beirada da estrada me esperando? Então, vou continuar na luta”, contou, com otimismo.
CORTE NA LISTA Ainda na capital, Ângela Proença, presidente da ONG O Proação, também percebeu os efeitos da crise econômica sobre a solidariedade.
Ela ressalta que, mesmo assim, os colaboradores não deixaram de contribuir e eles alcançaram a meta. “As pessoas estão muito inseguras, não sabem o dia de amanhã. A pessoa doa um pouquinho porque gosta de ajudar, porque tem aquele sentimento de doação ao próximo, mas ela tem que guardar também para si, porque não sabe o dia de amanhã”, comenta.
Maria Nascimento da Silva, da Guarda de Congo Feminina de Nossa Senhora do Rosário, também conta com o esforço próprio e de outras pessoas para fazer a festa de Natal que oferece para crianças e outros moradores do Bairro Aparecida, na Região Noroeste de Belo Horizonte. Nascida em 25 de dezembro, ela promove a celebração há 30 anos, no domingo que antecede a festa, com almoço e presentes. “A gente tem pessoas que tiram do próprio bolso ou da própria despesa para não acabar com a tradição, com esse trabalho bonito do congado”, diz.
Na manhã de segunda-feira, Maria começava a ligar para algumas pessoas para tentar pedir doações, mas ninguém havia ainda atendido as ligações. Porém, ela não desanima: “Tem que ser otimista. Se neste ano não posso dar uma salada de bacalhau, vou dar uma farofa, ou outra coisa. Não posso é desistir”.
Quer ajudar?
Confira iniciativas que precisam de brinquedos, alimentos e produtos de higiene para serem distribuídos no Natal
» Natal do Restaurante Popular de BH
Precisa de brinquedos em bom estado, guloseimas, produtos de higiene pessoal, entre outros, até o dia 22
Restaurante Popular I
Avenida do Contorno, 11.484, Centro
Restaurante Popular II – Rua Ceará, 490, Santa Efigênia
Restaurante Popular III
Rua Padre Pedro Pinto, 2.277, Venda Nova
Restaurante Popular IV
Rua Afonso Vaz de Melo, 1.001, Barreiro
Ponto de coleta temporário – Rua Goitacazes,15, Centro
» Santa Luzia
Poliprene Artefatos de Borrachas
Precisam de brinquedos, refrigerantes, doces e lanches para a festa oferecida a crianças
Endereço: Avenida Brasília, 3.384, Bairro São Benedito, Santa Luzia, Grande BH
Telefone: (31) 3637-0865
» Belo Horizonte
ONG O Proação
Precisa de panetones e doces para crianças de três entidades
Endereço: Rua Cuiabá, 341, Bairro Prado
Telefone: (31) 3658-5798
» Guarda de Congo Feminina de Nossa Senhora do Rosário
Precisa de alimentos, refrigerantes, doces e brinquedos para o almoço de Natal em 17 de dezembro
Endereço: Capela Nossa Senhora do Rosário – Rua 1º de Julho, 194
Telefones: 3428-8549 ou 3374-1732
» José Naide de Carvalho (Barreiro)
Precisa de brinquedos, cestas básicas e doces
Endereço: Rua Barão de Coromandel, 475, Barreiro
Telefone: (31) 3336-4946