Assassinatos brutais, cometidos com uso de facas e por motivos fúteis, chocaram a população de Belo Horizonte no último mês. O mais recente, cuja acusada teve imagens divulgadas ontem pela Polícia Civil (leia abaixo), vitimou a doméstica Valdete Lopes Queiroz, de 49 anos, na segunda-feira. Vinte e sete dias antes, em 13 de novembro, a vítima havia sido o médico Antônio Leite Alves Radicchi, de 63, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Os dois casos, porém, são apenas a face mais visível de um tipo de crime que avança de forma silenciosa na capital. Os homicídios cometidos com o uso de arma branca – como são definidos objetos como facas, facões, canivetes e estiletes – vêm crescendo de forma significativa na cidade em 2017 em comparação com o ano anterior. Dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) mostram um salto de 24,3% nesse tipo de ocorrência entre janeiro e agosto, última estatística disponível.
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Entre janeiro e agosto, houve 46 assassinatos com uso de arma branca em Belo Horizonte, média de um a cada seis dias.
Embora agosto seja o último mês computado nas estatísticas, depois daquele mês, várias ocorrências com uso de armas brancas foram registradas em Belo Horizonte. Um deles foi exatamente a morte do professor Antônio Radicchi, esfaqueado dentro de um ônibus da linha 9805 (Renascença/Santa Efigênia) em 13 de novembro, depois que Alexandre Siqueira de Freitas, de 26, tentou roubar sua mochila.
No dia 20 do mesmo mês, três pessoas, entre elas dois turistas de São Paulo, foram feridos a golpes de facas em duas ocorrências distintas na Região Centro-Sul da capital. Já no último dia 12, um homem teve um surto psicótico e esfaqueou três mulheres no Bairro Tirol, na Região do Barreiro. Duas delas morreram.
MOTIVAÇÕES Para o major Flávio Santiago, chefe da Sala de Imprensa da Polícia Militar, dois fatores podem ajudar a explicar a alta nesse tipo de ocorrência. “Na verdade são duas vertentes: aumento da apreensão de armas de fogo, que inclusive são mais letais que as armas brancas, e a questão dos motivos que envolvem o criminoso, como ações motivadas por surtos psicóticos, crimes passionais ou brigas em bares, onde há consumo de bebidas alcoólicas”, afirmou.
Em Minas, lei sancionada em 28 de julho de 2016 pelo governador Fernando Pimentel (PT) proíbe a posse de lâminas que tenham mais de 10 centímetros de comprimento. Pessoas flagradas com esse tipo de objeto estão sujeitas a multas de R$ 2,7 mil. Contudo, a infração só fica configurada, pelos termos da legislação, se a pessoa estiver com a lâmina na mão, na cintura ou no carro, já que o próprio texto legal considera que “não configura porte de arma branca o transporte do artefato na embalagem original; em bolsas, malas, sacolas ou similares; em veículos, desde que acondicionados em mala ou caixa de ferramentas; em razão de atividade econômica desempenhada pelo transportador”.
“O que a PM tem feito é o aumento da verificação, principalmente em pontos quentes, como bares e locais com aglomeração de pessoas. Claro que a lei deixa algumas brechas, e nesses casos não dá para fazer a apreensão”, comentou o chefe da Sala de Imprensa da PM.
Gravação identifica assassina do Move
A mulher que matou a facadas a empregada doméstica Valdete Lopes Queiroz, de 49 anos, por supostamente ter entrado falando alto em um ônibus do Move, em Belo Horizonte, é procurada pela Polícia Civil, que ontem divulgou imagens da assassina captadas pelas câmeras de segurança do veículo e do Olho Vivo. Depoimentos de testemunhas também ajudaram a identificá-la visualmente, embora sua identidade ainda seja desconhecida. As apurações continuam para tentar encontrá-la. A investigação aponta que a passageira esfaqueou a vítima por ter sido acordada por ela, de quem levou um esbarrão.
As investigações estão sendo conduzidas pelo delegado César Duarte Mattoso, da Delegacia de Homicídios Centro-Sul. Imagens e depoimentos de testemunhas, entre elas o condutor do ônibus da linha 61 (Centro/Venda Nova), indicam que o crime foi cometido por motivo fútil. “A autora, quando entra, ocupa parte de duas cadeiras de modo reclinado, para descansar. Em seguida, inicia um cochilo. A vítima entra no ônibus de forma atabalhoada e falando.
Quando o veículo se aproximava da Avenida Paraná, no Centro de Belo Horizonte, segundo Mattoso, a autora pede que o motorista pare o veículo fora do ponto regular. “Ele abre as portas e neste momento a autora agride a vítima com uma facada no peito, de forma surpreendente, descarregando sua raiva. Em seguida, foge do ônibus”, conta a policial. Segundo o delegado, imagens do veículo flagram a vítima ainda com a lâmina cravada no peito e retirando o objeto. Valdete chegou a ser socorrida, mas morreu antes de chegar ao hospital.
A assassina, segundo os primeiros levantamentos, seria de Ribeirão das Neves. “Temos a identificação visual da autora, que compartilhamos para que a população possa identificá-la, ligar para o 181 e fazer uma denúncia anônima que nos permita chegar a essa pessoa”, pediu. A mulher será indiciada por homicídio duplamente qualificado. Se condenada, pode pegar de 12 a 30 anos de prisão.