O verão se aproxima e junto das festas de fim de ano, dos roteiros de férias e do indispensável protetor solar, a estação traz um sério alerta para a saúde: os riscos que chegam nas asas do Aedes aegypti. Transmissor de doenças como dengue, zika e chikungunya, ele se mostra um mosquito de características complexas, que ainda suscita questões que nem a medicina consegue responder. O período de imunidade para cada virose e explicações para a condição clínica de pacientes crônicos da chikungunya, por exemplo, são alguns dos mistérios. Diante da combinação de chuva e calor, que cria um cenário propício à proliferação do inseto e das viroses, médicos destacam o risco de novos surtos e, mais do que nunca nesta época do ano, a necessidade de reforçar o controle e o combate ao vetor, principalmente depois que foi confirmada a circulação do vírus da febre amarela entre macacos em Belo Horizonte.
Apenas o vírus da dengue tem quatro sorotipos distintos: DEN1, DEN2, DEN3 e DEN4. O infectologista Ricardo Fontes, professor de medicina no Centro Universitário UNI-BH, explica que a infecção prévia pelo vírus da doença confere proteção de longa duração para o sorotipo específico com o qual o indivíduo foi infectado, mas não para os demais. Trocando em miúdos: uma mesma pessoa pode ter dengue diversas vezes. “Mesmo que já tenha apresentado sintomas de dengue, ela pode ter a doença novamente, por outro sorotipo. Em relação à zika e à febre chikungunya, parece que a infecção prévia confere imunidade, mas ainda não se sabe ao certo se é duradoura ou se os indivíduos podem apresentar a doença mais de uma vez”, afirma.
Quanto à febre amarela, ele lembra que a vacinação está disponível na rede pública para todos as pessoas acima de 9 meses de idade, que não tenham contraindicação ao uso da vacina (pacientes com alergia grave a ovo), imunossuprimidos e pessoas que tiveram reação alérgica grave à dose anterior da vacina. “A vacina é segura e eficaz e apenas uma dose induz a produção de anticorpos a partir de 7 a 10 dias da aplicação. Aproximadamente 99% dos vacinados apresentam anticorpos contra a doença depois de um mês”, ressalta o médico.
Atualmente, a cobertura vacinal acumulada de febre amarela no estado de Minas Gerais está em torno de 81%, e a meta é alcançar a cobertura de 95%. Mas no ano em que Minas Gerais foi assombrada pela virose, tendo enfrentado o pior quadro de infecção da história, a cobertura vacinal ainda não atingiu a meta de 95%. Hoje, o patamar é de 81%, o que significa uma estimativa de 3.788.631 de mineiros sujeitos ao vírus, principalmente na faixa etária de 15 a 59 anos (a mais acometida pelo surto), de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde.
A forma da doença que atingiu o estado no início do ano foi a silvestre (transmitida pelos mosquitos Hemagogos e Sabethes). Porém, está no ar o medo da forma urbana, disseminada pelo Aedes.
Isso significaria um descontrole da situação, na opinião de especialistas, o que reforça a importância de campanhas de prevenção e combate ao mosquito que ainda infesta cidades de todo o país. “Parte da população está vacinada e tem proteção. É preciso agora tentar evitar a proliferação no ambiente urbano”, reforça a médica Tânia Marcial, diretora na Sociedade Mineira de Infectologia.
O infectologista Ricardo Fontes ressalta que as manifestações clínicas na febre amarela silvestre e na urbana são as mesmas. Ele destaca que certas condições das cidades, especialmente o acúmulo de água em lixo e em superfícies impermeáveis do solo e do ambiente modificado pelo homem, fazem do Aedes um mosquito extremamente adaptado às características urbanas.
A transmissão da febre amarela diretamente no ambiente urbano não tem sido notificada no Brasil, mas é grande a preocupação para evitar que isso ocorra justamente pela adaptação do mosquito. “Isso tornaria muito difícil o controle da transmissão da doença. O surto de febre amarela do início de 2017 acometeu especialmente pessoas não vacinadas da região rural dos municípios acometidos”, diz. “A atual cobertura vacinal de 81% é razoável, porém, estima-se que para a vacina ser capaz de prevenir surtos, o ideal seria uma cobertura de 95% da população. Segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde, Minas Gerais ainda apresenta 639 municípios com cobertura abaixo da meta, distribuídos nas diversas regiões do estado”, diz médico.
ESTRATÉGIAS O médico relata que diversas estratégias têm sido adotadas e estudadas para o controle da população do Aedes aegypti. Segundo ele, classicamente, no Brasil são usados o controle mecânico, com a identificação e destruição dos reservatórios de água que funcionam como locais de reprodução do mosquito, e o controle químico, com uso de inseticidas de aspersão e de larvicidas. Outro foco de ação são as medidas de educação continuada da população para manutenção dessas estratégias.
A campanha de Combate ao Mosquito 2017, lançada pelo Ministério da Saúde, por exemplo, tem o objetivo de conscientizar a população sobre os riscos das doenças transmitidas pelo inseto e o sofrimento que elas podem trazer. Outras armas vêm sendo também adotadas na guerra contra o mosquito. Medidas biológicas têm sido testadas, como o uso de peixes que comem as larvas do Aedes, o uso do Bacillus thuringiensis israelensis, que produz toxinas com ação larvicida, e a infestação de Aedes pela Wolbachia, uma bactéria que reduz o tempo de vida do mosquito e pode produzir mosquitos estéreis. “Também tem sido avaliado o uso de novos óleos naturais e produtos com ação larvicida, o uso de dispositivos com inseticidas de liberação lenta intradomiciliar e o uso de roupas e telas de proteção impregnadas com inseticidas”, completa.
Para 2018, na opinião de especialista, o cenário, seja da febre amarela ou de outras doenças transmitidas pelo mosquito, depende da intensificação das campanhas promovidas pelo governo, mas também pelo engajamento da população em geral. Mas impedir que o transmissor se reproduza continua sendo a forma mais eficaz de ter um verão em que as férias sejam o principal assunto em família.
Não deixe o mosquito transformar sua vida. Visitas domiciliares, mutirões de limpeza, distribuição de material educativo, entre outras ações, são o mote da campanha Combate ao Mosquito 2017. A mobilização usa depoimentos de três personagens reais que tiveram suas vidas transformadas pelo Aedes: um homem que contraiu chikungunya, uma mulher que perdeu a filha vítima de dengue e outra que tem uma criança com microcefalia em decorrência da infecção pelo zika vírus durante a gestação. As ações promovidas pela campanha estão sendo repetidas em todas as sextas-feiras do mês de dezembro como parte do Dia Sem Mosquito. O objetivo é reforçar a conscientização sobre a importância de eliminar os focos, especialmente antes da chegada do verão, período mais favorável à proliferação do inseto.
» O principal cuidado com relação ao combate ao mosquito ainda é o controle dos reservatórios de água nos quais o inseto pode se reproduzir.
» Por isso, não junte lixo e outros materiais que possam acumular água, como vasilhas, pratinhos, garrafas, pneus; uma vez identificados, elimine os focos; use repelentes e roupas de manga comprida e cores claras que protejam fisicamente e facilitem a identificação dos mosquitos.
Fonte: Ricardo Fontes/Infectologista e professor do UNI-BH
Apenas o vírus da dengue tem quatro sorotipos distintos: DEN1, DEN2, DEN3 e DEN4. O infectologista Ricardo Fontes, professor de medicina no Centro Universitário UNI-BH, explica que a infecção prévia pelo vírus da doença confere proteção de longa duração para o sorotipo específico com o qual o indivíduo foi infectado, mas não para os demais. Trocando em miúdos: uma mesma pessoa pode ter dengue diversas vezes. “Mesmo que já tenha apresentado sintomas de dengue, ela pode ter a doença novamente, por outro sorotipo. Em relação à zika e à febre chikungunya, parece que a infecção prévia confere imunidade, mas ainda não se sabe ao certo se é duradoura ou se os indivíduos podem apresentar a doença mais de uma vez”, afirma.
Quanto à febre amarela, ele lembra que a vacinação está disponível na rede pública para todos as pessoas acima de 9 meses de idade, que não tenham contraindicação ao uso da vacina (pacientes com alergia grave a ovo), imunossuprimidos e pessoas que tiveram reação alérgica grave à dose anterior da vacina. “A vacina é segura e eficaz e apenas uma dose induz a produção de anticorpos a partir de 7 a 10 dias da aplicação. Aproximadamente 99% dos vacinados apresentam anticorpos contra a doença depois de um mês”, ressalta o médico.
Atualmente, a cobertura vacinal acumulada de febre amarela no estado de Minas Gerais está em torno de 81%, e a meta é alcançar a cobertura de 95%. Mas no ano em que Minas Gerais foi assombrada pela virose, tendo enfrentado o pior quadro de infecção da história, a cobertura vacinal ainda não atingiu a meta de 95%. Hoje, o patamar é de 81%, o que significa uma estimativa de 3.788.631 de mineiros sujeitos ao vírus, principalmente na faixa etária de 15 a 59 anos (a mais acometida pelo surto), de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde.
A forma da doença que atingiu o estado no início do ano foi a silvestre (transmitida pelos mosquitos Hemagogos e Sabethes). Porém, está no ar o medo da forma urbana, disseminada pelo Aedes.
Isso significaria um descontrole da situação, na opinião de especialistas, o que reforça a importância de campanhas de prevenção e combate ao mosquito que ainda infesta cidades de todo o país. “Parte da população está vacinada e tem proteção. É preciso agora tentar evitar a proliferação no ambiente urbano”, reforça a médica Tânia Marcial, diretora na Sociedade Mineira de Infectologia.
O infectologista Ricardo Fontes ressalta que as manifestações clínicas na febre amarela silvestre e na urbana são as mesmas. Ele destaca que certas condições das cidades, especialmente o acúmulo de água em lixo e em superfícies impermeáveis do solo e do ambiente modificado pelo homem, fazem do Aedes um mosquito extremamente adaptado às características urbanas.
A transmissão da febre amarela diretamente no ambiente urbano não tem sido notificada no Brasil, mas é grande a preocupação para evitar que isso ocorra justamente pela adaptação do mosquito. “Isso tornaria muito difícil o controle da transmissão da doença. O surto de febre amarela do início de 2017 acometeu especialmente pessoas não vacinadas da região rural dos municípios acometidos”, diz. “A atual cobertura vacinal de 81% é razoável, porém, estima-se que para a vacina ser capaz de prevenir surtos, o ideal seria uma cobertura de 95% da população. Segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde, Minas Gerais ainda apresenta 639 municípios com cobertura abaixo da meta, distribuídos nas diversas regiões do estado”, diz médico.
ESTRATÉGIAS O médico relata que diversas estratégias têm sido adotadas e estudadas para o controle da população do Aedes aegypti. Segundo ele, classicamente, no Brasil são usados o controle mecânico, com a identificação e destruição dos reservatórios de água que funcionam como locais de reprodução do mosquito, e o controle químico, com uso de inseticidas de aspersão e de larvicidas. Outro foco de ação são as medidas de educação continuada da população para manutenção dessas estratégias.
A campanha de Combate ao Mosquito 2017, lançada pelo Ministério da Saúde, por exemplo, tem o objetivo de conscientizar a população sobre os riscos das doenças transmitidas pelo inseto e o sofrimento que elas podem trazer. Outras armas vêm sendo também adotadas na guerra contra o mosquito. Medidas biológicas têm sido testadas, como o uso de peixes que comem as larvas do Aedes, o uso do Bacillus thuringiensis israelensis, que produz toxinas com ação larvicida, e a infestação de Aedes pela Wolbachia, uma bactéria que reduz o tempo de vida do mosquito e pode produzir mosquitos estéreis. “Também tem sido avaliado o uso de novos óleos naturais e produtos com ação larvicida, o uso de dispositivos com inseticidas de liberação lenta intradomiciliar e o uso de roupas e telas de proteção impregnadas com inseticidas”, completa.
Para 2018, na opinião de especialista, o cenário, seja da febre amarela ou de outras doenças transmitidas pelo mosquito, depende da intensificação das campanhas promovidas pelo governo, mas também pelo engajamento da população em geral. Mas impedir que o transmissor se reproduza continua sendo a forma mais eficaz de ter um verão em que as férias sejam o principal assunto em família.
Mobilização de todos
Não deixe o mosquito transformar sua vida. Visitas domiciliares, mutirões de limpeza, distribuição de material educativo, entre outras ações, são o mote da campanha Combate ao Mosquito 2017. A mobilização usa depoimentos de três personagens reais que tiveram suas vidas transformadas pelo Aedes: um homem que contraiu chikungunya, uma mulher que perdeu a filha vítima de dengue e outra que tem uma criança com microcefalia em decorrência da infecção pelo zika vírus durante a gestação. As ações promovidas pela campanha estão sendo repetidas em todas as sextas-feiras do mês de dezembro como parte do Dia Sem Mosquito. O objetivo é reforçar a conscientização sobre a importância de eliminar os focos, especialmente antes da chegada do verão, período mais favorável à proliferação do inseto.
Estado de alerta
» O principal cuidado com relação ao combate ao mosquito ainda é o controle dos reservatórios de água nos quais o inseto pode se reproduzir.
» Por isso, não junte lixo e outros materiais que possam acumular água, como vasilhas, pratinhos, garrafas, pneus; uma vez identificados, elimine os focos; use repelentes e roupas de manga comprida e cores claras que protejam fisicamente e facilitem a identificação dos mosquitos.
Fonte: Ricardo Fontes/Infectologista e professor do UNI-BH