Jornal Estado de Minas

UFMG cria banco de fezes e já pode realizar transplante fecal

Uma técnica desenvolvida pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) pode aumentar a eficácia no combate a uma superbactéria que ataca o intestino humano. O procedimento, chamado transplante fecal, consiste na transferência de microbiota (antes chamada flora intestinal) de pessoas saudáveis para pacientes com quadro grave de diarreia provocado pela bactéria Clostridium difficile, de tratamento complexo.

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Responsável pelo projeto e coordenador do Instituto de Gastroenterologia do hospital, o professor Luiz Gonzaga Vaz Coelho afirma que o procedimento já foi realizado no Brasil, mas precisou ser aprimorado para que o tratamento atinja um número maior de pessoas.

Uma das medidas foi a criação pelo Hospital das Clínicas da UFMG de um banco para armazenamento do material fornecido por doadores. Segundo o professor, o hospital adotou critérios internacionais para a escolha desses doadores.

"É feito um pente fino, com exames para detecção de vírus, vermes e doenças como hepatite", afirma Coelho. Conforme o professor, de um total de 30 candidatos a doador, quatro foram autorizados a fornecer o material. Ainda não há pacientes com tratamento indicado para o uso do procedimento em Minas. "Assim que esse paciente surgir estamos preparados para fazer o transplante", diz o professor.

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Procedimento


O procedimento é como uma colonoscopia convencional, mas com a infusão do material, que fica armazenado em freezers, em temperatura de 80 graus negativos, e tem que ser utilizado dentro de seis meses. Após o prazo, os doadores são chamados para renovação e são submetidos a novos testes. Segundo o professor, com os equipamentos utilizados no procedimento o transplante pode ser realizado pela equipe do Hospital das Clínicas da UFMG em qualquer parte do País.

A Clostridium difficile vem se tornando a principal causa de diarreia em ambiente hospitalar. "De 20% a 30% da doença de pacientes internados em hospitais é provocada por essa bactéria", afirma Coelho. A principal característica da Clostridium difficile, e que a faz ser considerada uma superbactéria, é que, quando um antibiótico é ministrado, se transforma em esporo, que não faz mal ao organismo. Com isso, a medicação não faz efeito.

Quando o antibiótico é suspenso, a Clostridium difficile volta a atuar, provocando novas diarreias. "Para esses casos, o melhor tratamento é o transplante de fezes", diz o professor.

(Leonardo Augusto, especial para o Estado)