Em uma corrida internacional para combater um vírus que tira o sono de famílias por todo o mundo, especialmente as que planejam ter um bebê, Belo Horizonte entra para um seleto grupo mundial que busca conter a infecção causada pelo zika vírus. A partir de janeiro, começa a ser testada em seres humanos, no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC/UFMG), vacina experimental contra a doença, uma das várias transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti e apontada como responsável pela microcefalia em recém-nascidos. Uma das 21 instituições no mundo a participar da pesquisa patrocinada pelo National Institutes of Health (NIH), ligado ao governo norte-americano, o HC/UFMG começa a recrutar voluntários para participar dos testes nos próximos dois anos. O trabalho é fruto de parceria entre o Centro de Pesquisas Clínicas do HC, Instituto René Rachou/Fiocruz e Universidade George Washington, dos EUA. No Brasil, além da UFMG, apenas mais uma instituição participa do estudo.
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Minas tem 80 cidades em alerta e risco para dengue, zika e chikungunyaMinas Gerais tem 222 gestantes com zika confirmada Pesquisa da Fiocruz confirma que Aedes aegypti é vetor da zikaInício do verão será com calor intenso e pancadas de chuva em MinasQuadrilha explode agências bancárias e atira em viatura da PM em Serra do SalitreEspecialistas temem que chikungunya se espalhe no ano que vemA infectologista do HC Flávia Ribeiro, pesquisadora-chefe do estudo clínico, explica que, como a vacina não contém o vírus, não há risco de contaminação dos voluntários.
Nessa próxima fase, será preciso um maior número de pessoas para determinar se a vacina efetivamente funciona. A segurança continuará sendo monitorada por meio de exames laboratoriais e clínicos. “Há várias normas a serem seguidas, e a substância deve ser aprovada em todas as instâncias locais, nacionais e mundiais. A pesquisa é feita para maximizar benefícios e minimizar riscos”, explica Flávia Ribeiro.
Vacina contra o zika terá 180 voluntários
Para a nova fase de testes em humanos da vacina contra o zika vírus, conduzidos no Brasil por duas instituições, uma delas o Hospital das Clínicas da UFMG, um grupo mínimo de 180 pessoas ficará durante 96 semanas à disposição de uma equipe multidisciplinar com cerca de 40 integrantes, composta por médicos e profissionais da área de saúde. Para o estudo, as despesas com transporte e alimentação dos voluntários serão reembolsadas. Em todo o mundo, haverá pelo menos 2,4 mil pessoas recebendo as doses.
Metade dos participantes receberá a vacina e a outra metade tomará um placebo (solução salina), em doses aplicadas por dispositivo sem agulha.
A infectologista ressalta que, embora o vírus não possa ser transmitido pelo medicamento, os testes não contemplarão neste momento mulheres grávidas nem pacientes com baixa defesa. Caso o imunizante se comprove eficaz, ao fim dos estudos o grupo que tomar placebo durante os testes será vacinado. “O desafio agora é a população entender que, se não houver pessoas que façam testes, nunca teremos novas tecnologias”, destaca.
Este ano foram registrados em Minas 746 casos prováveis de zika, sendo 134 em gestantes, segundo a Secretaria de Estado da Saúde. O número é bastante inferior ao do ano passado, quando 14.086 pessoas foram infectadas. Em maio, o Ministério da Saúde declarou o fim da Emergência Nacional em Saúde Pública deflagrada diante do vírus e sua associação com a microcefalia e outras alterações neurológicas em bebês. O número de registros da infecção caiu cerca de 95% nos primeiros meses deste ano em comparação com o mesmo período de 2016.
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