A aproximação das festas de fim de ano, especialmente o Natal, reforça um drama para quem vive nas ruas. Com legiões de homens e mulheres dormindo em calçadas e debaixo de marquises em Belo Horizonte, a cidade se vê diante de um desafio em expansão, ainda muito longe de ser superado. Dados atualizados pela prefeitura da capital na terça-feira mostram que o número de pessoas nessas condições cadastradas junto ao poder público deu um salto de quase 40% desde o último levantamento, feito em julho, e hoje já chega a 6,3 mil. Para aumentar a assistência a esse contingente, ontem a administração municipal apresentou duas novas unidades de acolhimento, com capacidade para 119 pessoas, instaladas no Hipercentro, onde vive cerca de 70% da população em situação de rua de BH.
Os dois espaços, em dois andares de um antigo hotel na Avenida Paraná, serão destinados a partir de terça-feira apenas a homens, e terão caráter de moradia, com a possibilidade de permanência durante todos os dias e noites. Segundo a Prefeitura de BH, é uma iniciativa que aumenta a personalização do atendimento, e por isso tem um potencial maior de contribuir para a ressocialização, o que é uma tendência para tentar minimizar o problema. Porém, mesmo com a inauguração dessas unidades, a PBH chega a cerca de 1,1 mil vagas para acolhimento de moradores de rua em diferentes formatos – o equivalente a cerca de um sexto da população que se estima viver ao relento na capital.
Na visão da prefeitura, um dos diferenciais para a perspectiva de sucesso das novas vagas é a localização. “O fato de a nova estrutura ser no Hipercentro traz essa importância, pela localização e pela facilidade de acesso do usuário, porque como será um abrigo, teremos mais possibilidade de inserção dessas pessoas, às vezes no próprio mercado de trabalho próximo”, diz Maíra Colares, secretária de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania da prefeitura.
Os 20 primeiros moradores estarão na nova moradia um dia depois do Natal. O restante das 119 vagas será preenchido ao longo de janeiro. A gestão do espaço, que ontem foi visitado pelo prefeito Alexandre Kalil (PHS), é feita em parceria com o Instituto Darcy Ribeiro, que já atua também no abrigo Tia Branca. Os moradores terão alimentação integral, lavanderia, quartos menores com armários para guardar pertences e ficarão responsáveis pela manutenção da casa.
Algumas regras serão construídas em conjunto com a equipe de 12 funcionários de cada uma das duas unidades, como horários para receber visitas. O diretor do Instituto Darcy Ribeiro, José Geraldo Reis, disse que os novos moradores das unidades de acolhimento terão autonomia para reconstruir suas vidas. “Terão atividades para desenvolver a capacidade intelectual, para desenvolver o projeto de inserção, tudo isso vai ocorrer aqui mesmo”, afirma.
DE SALTO EM SALTO De acordo com a Secretaria de Assistência Social, o Cadastro Único dos Moradores de Rua, que é preenchido espontaneamente pela própria população nessas condições, é atualizado semestralmente. O número antigo de 4.553 foi atualizado e agora já são 6.340, conforme a pasta, salto de 39,2% em relação ao último levantamento, feito em julho. Naquela época, a prefeitura já havia detectado acréscimo de 31% nos inscritos no cadastro, em relação a janeiro deste ano.
Segundo os dados obtidos em julho, 95% da população era de homens, de acordo com a PBH. A segmentação não foi divulgada para o último levantamento, mas a predominância da população masculina nas ruas é facilmente observada pelas esquinas, onde legiões de sem-teto ocupam calçadas de forma precária. Na esquina da Avenida do Contorno com a Rua Mato Grosso, no Barro Preto, a equipe do Estado de Minas encontrou diversas pessoas nessa situação, que se dividiram diante da possibilidade de mais vagas para abrigo na cidade.
Vivendo há um mês nas ruas de BH depois de passar por uma clínica de reabilitação em Sete Lagoas, Região Central de Minas, Anselmo Antônio da Silva Francisco, de 36 anos, viveu por 10 sem casa em São Paulo e aprova a iniciativa de novos abrigo em caráter de moradia. “Eu saí de casa por causa de um conflito familiar. Já tem dois anos que não tenho notícias de ninguém da minha família. Na clínica não deu certo, porque não me senti no lugar e acabei voltando a beber. Mas acho que essa chance de uma moradia pode ser uma boa iniciativa. Eu teria interesse em testar”, afirma.
Já Lucimar Moreira da Silva, de 42, disse que vive na rua desde os 16 anos de idade. Ela tem dois filhos, que estão presos, e não tem vínculos familiares onde vive. A mulher reclamou que só é vista pelo poder público como criminosa. “A gente não precisa de abrigo, mas sim oportunidade de emprego. Todo mundo olha para quem vive aqui como se fosse bandido”, afirma.
Atual coordenadora do abrigo Tia Branca e servidora da prefeitura que vai assumir a coordenação de uma das duas novas unidades, batizadas de Anita Gomes dos Santos I e II, Vanessa Rezende Fernandes acredita que o formato que vai começar a operar no Hipercentro tem potencial maior de contribuir para que moradores de rua sejam ressocializados. “Dentro dos abrigos-moradia o trabalho técnico atinge uma qualidade melhor e podemos investir efetivamente na superação da situação de rua”, afirma.
Ela diz que o objetivo não é acabar com as casas de passagem, a exemplo do Tia Branca, que fica no Bairro Floresta e é considerado muito importante, especialmente para os migrantes, mas gradativamente mudar o perfil das vagas. A meta é diminuir a quantidade em grandes abrigos de pernoite e aumentar nas moradias menores.
A secretária Maíra Colares acrescenta que já há novas vagas encaminhadas nesse sentido. “No próximo ano, nossa prioridade é expandir para famílias, principalmente mulheres gestantes com seus bebês. Inicialmente, vamos seguir as normativas federais, entre 40 e 50 pessoas em cada unidade. Já temos casas em vista, uma praticamente fechada, mas como não está certo, preferimos não anunciar ainda.”
Os dois espaços, em dois andares de um antigo hotel na Avenida Paraná, serão destinados a partir de terça-feira apenas a homens, e terão caráter de moradia, com a possibilidade de permanência durante todos os dias e noites. Segundo a Prefeitura de BH, é uma iniciativa que aumenta a personalização do atendimento, e por isso tem um potencial maior de contribuir para a ressocialização, o que é uma tendência para tentar minimizar o problema. Porém, mesmo com a inauguração dessas unidades, a PBH chega a cerca de 1,1 mil vagas para acolhimento de moradores de rua em diferentes formatos – o equivalente a cerca de um sexto da população que se estima viver ao relento na capital.
Na visão da prefeitura, um dos diferenciais para a perspectiva de sucesso das novas vagas é a localização. “O fato de a nova estrutura ser no Hipercentro traz essa importância, pela localização e pela facilidade de acesso do usuário, porque como será um abrigo, teremos mais possibilidade de inserção dessas pessoas, às vezes no próprio mercado de trabalho próximo”, diz Maíra Colares, secretária de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania da prefeitura.
Os 20 primeiros moradores estarão na nova moradia um dia depois do Natal. O restante das 119 vagas será preenchido ao longo de janeiro. A gestão do espaço, que ontem foi visitado pelo prefeito Alexandre Kalil (PHS), é feita em parceria com o Instituto Darcy Ribeiro, que já atua também no abrigo Tia Branca. Os moradores terão alimentação integral, lavanderia, quartos menores com armários para guardar pertences e ficarão responsáveis pela manutenção da casa.
Algumas regras serão construídas em conjunto com a equipe de 12 funcionários de cada uma das duas unidades, como horários para receber visitas. O diretor do Instituto Darcy Ribeiro, José Geraldo Reis, disse que os novos moradores das unidades de acolhimento terão autonomia para reconstruir suas vidas. “Terão atividades para desenvolver a capacidade intelectual, para desenvolver o projeto de inserção, tudo isso vai ocorrer aqui mesmo”, afirma.
DE SALTO EM SALTO De acordo com a Secretaria de Assistência Social, o Cadastro Único dos Moradores de Rua, que é preenchido espontaneamente pela própria população nessas condições, é atualizado semestralmente. O número antigo de 4.553 foi atualizado e agora já são 6.340, conforme a pasta, salto de 39,2% em relação ao último levantamento, feito em julho. Naquela época, a prefeitura já havia detectado acréscimo de 31% nos inscritos no cadastro, em relação a janeiro deste ano.
Segundo os dados obtidos em julho, 95% da população era de homens, de acordo com a PBH. A segmentação não foi divulgada para o último levantamento, mas a predominância da população masculina nas ruas é facilmente observada pelas esquinas, onde legiões de sem-teto ocupam calçadas de forma precária. Na esquina da Avenida do Contorno com a Rua Mato Grosso, no Barro Preto, a equipe do Estado de Minas encontrou diversas pessoas nessa situação, que se dividiram diante da possibilidade de mais vagas para abrigo na cidade.
Vivendo há um mês nas ruas de BH depois de passar por uma clínica de reabilitação em Sete Lagoas, Região Central de Minas, Anselmo Antônio da Silva Francisco, de 36 anos, viveu por 10 sem casa em São Paulo e aprova a iniciativa de novos abrigo em caráter de moradia. “Eu saí de casa por causa de um conflito familiar. Já tem dois anos que não tenho notícias de ninguém da minha família. Na clínica não deu certo, porque não me senti no lugar e acabei voltando a beber. Mas acho que essa chance de uma moradia pode ser uma boa iniciativa. Eu teria interesse em testar”, afirma.
Já Lucimar Moreira da Silva, de 42, disse que vive na rua desde os 16 anos de idade. Ela tem dois filhos, que estão presos, e não tem vínculos familiares onde vive. A mulher reclamou que só é vista pelo poder público como criminosa. “A gente não precisa de abrigo, mas sim oportunidade de emprego. Todo mundo olha para quem vive aqui como se fosse bandido”, afirma.
Atual coordenadora do abrigo Tia Branca e servidora da prefeitura que vai assumir a coordenação de uma das duas novas unidades, batizadas de Anita Gomes dos Santos I e II, Vanessa Rezende Fernandes acredita que o formato que vai começar a operar no Hipercentro tem potencial maior de contribuir para que moradores de rua sejam ressocializados. “Dentro dos abrigos-moradia o trabalho técnico atinge uma qualidade melhor e podemos investir efetivamente na superação da situação de rua”, afirma.
Ela diz que o objetivo não é acabar com as casas de passagem, a exemplo do Tia Branca, que fica no Bairro Floresta e é considerado muito importante, especialmente para os migrantes, mas gradativamente mudar o perfil das vagas. A meta é diminuir a quantidade em grandes abrigos de pernoite e aumentar nas moradias menores.
A secretária Maíra Colares acrescenta que já há novas vagas encaminhadas nesse sentido. “No próximo ano, nossa prioridade é expandir para famílias, principalmente mulheres gestantes com seus bebês. Inicialmente, vamos seguir as normativas federais, entre 40 e 50 pessoas em cada unidade. Já temos casas em vista, uma praticamente fechada, mas como não está certo, preferimos não anunciar ainda.”