Jornal Estado de Minas

Prefeitura de BH assume Igrejinha da Pampulha para começar restauração

João Batista (de bengala) veio de Rio Casca com a família e não perdeu a oportunidade de conhecer a São Francisco de Assis, ainda que só por fora - Foto: Paulo Filgueiras/EM/DA PressUm mês depois de celebrada a última missa na Igreja São Francisco de Assis, na Pampulha, na capital, as chaves do templo, integrante do conjunto reconhecido como patrimônio da humanidade, estão finalmente em poder da prefeitura (PBH). A informação foi divulgada, ontem, pela Arquidiocese de Belo Horizonte, que as entregou na última quarta-feira, depois de tentativas de sua parte e sucessivas recusas de setores municipais, com relato da situação ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Fechada para visitação, a construção dos anos 1940 projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012) deverá ter obras de restauração iniciadas em março ou abril, com recursos federais assegurados. A chave está em poder da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap/PBH) e será repassada à Fundação Municipal de Cultura (FMC).

A entrega das chaves do templo, cartão-postal de BH visitado por milhares de brasileiros e estrangeiros, encerra um longo período de contratempos e negociações para restauro da joia do conjunto moderno da Pampulha. O pacote inclui adiamentos ao longo de 2015 e do passado, protesto de noivas com casamento marcado para 2017, e que corriam risco da não realização no local, e reuniões no MPMG, instituição na qual foi firmado termo de ajustamento de conduta (TAC) entre as partes envolvidas. No último dia 5, conforme noticiou o Estado de Minas, a Superintendência de Desenvolvimento da Capital informou que a igreja não havia sido formalmente entregue à PBH para execução de obras e que, só após a entrega formal, poderia se responsabilizar pelos cuidados e obras no bem reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Enquanto isso, assessores da Arquidiocese de Belo Horizonte, à qual pertence a Igreja São Francisco de Assis, esclareciam que acataram as determinações e prazos firmados no TAC, mas não conseguiam entregar a chave do templo ao poder público. O assunto foi registrado em nota de esclarecimento: “Seguindo os prazos estipulados pelo TAC, a Arquidiocese de BH retirou os móveis e todos os objetos litúrgicos da capela, além de transferir o sacerdote para o exercício pastoral em outra comunidade, até a conclusão das obras. Sem conseguir entregar as chaves ao poder público, a Arquidiocese de Belo Horizonte protocolou ofício no Ministério Público comunicando que todas as medidas que lhe eram cabíveis foram providenciadas, de modo a possibilitar o imediato início das obras”.



NARIZ NA PORTA A história com tantas reviravoltas confunde a cabeça dos turistas, que gostariam simplesmente de apreciar a igrejinha da Pampulha, como é mais conhecida, e dão literalmente com o nariz na porta.
Fazendo uma viseira com as mãos para impedir o reflexo e contemplar o interior do templo, o médico e professor universitário, o carioca Marcelo Land, ficou frustrado principalmente por conhecer a importância da construção moderna: “É a primeira vez que chego perto, pena que está fechada. Sei que é um patrimônio da humanidade, com obras de Portinari e Burle Marx”. Já a mulher dele, a mineira Juliana Garcia, e a filha Júlia Tavares, de 18, estudante de direito, sentiram um ar de abandono ao observar todos os detalhes na fachada.

A família de João Batista Lourenço, de Rio Casca, na Zona da Mata, também chegou bem perto da porta de vidro para ver o interior da capela vazio. “Fiz questão de vir, pois acompanhava as matérias na televisão e ficava com muita vontade de ver. É muito bonita”, afirmou a mulher, Ana Maria, ao lado do filho Antônio Carlos, residente em BH, e acompanhado da filha Stefany, de 10, e da namorada, a advogada Rafaela Cristina Gomes de Paula, moradora de Venda Nova. “Por incrível que pareça, é a primeira vez que venho, mesmo morando na capital”, disse Rafaela.

Mesmo de portas fechadas, a igreja não deixa de emocionar os belo-horizontinos. Se os visitantes apenas procuram ver o interior da edificação, moradores da Região da Pampulha e quem se exercita por ali fazem suas orações em silêncio, ajoelhados ou encostados na vidraça.
Fazendo o sinal da cruz e rezando, a professora Sandra Rigueira, do Bairro Alípio de Melo, na Região Noroeste, espera ansiosa o começo das obras. “Deixo o carro distante, venho correndo e não deixo de parar e rezar. Fico preocupada com a conservação, presto atenção no jardim, em tudo”, afirmou. A psicóloga Ana Luzia Manetta, moradora da Pampulha, também faz suas preces e anseia pela restauração do templo, que não deixa de visitar nunca.

SEM TAPUMES O diretor de Patrimônio Cultural da Fundação Municipal de Cultura (FMC), Yuri Mello Mesquita, informou ontem que por enquanto não serão colocados tapumes no entorno da Igreja São Francisco para não impedir a aproximação das pessoas. Ele adianta que será estudada uma forma de acesso durante a intervenção, para não impedir a visita externa. No momento, explicou Yuri, a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap/PBH) conclui o detalhamento técnico para fazer a licitação da obra.

Planejamento estratégico

A Prefeitura de Belo Horizonte está fazendo o planejamento estratégico da Pampulha, região que abriga obras da década de 1940 projetadas por Oscar Niemeyer (Museu de Arte da Pampulha, antigo Cassino, Igreja São Francisco de Assis, Casa do Baile e Iate Tênis Clube) ligadas pelo espelho d’água da Pampulha. Além de reconhecido pela Unesco, o conjunto arquitetônico é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) e Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município. No documento, fundamental para nortear as atividades nos próximos anos, estão os programas de educação patrimonial; usos da orla e intervenções nos bens, conforme as recomendações da Unesco, que declarou a Pampulha como patrimônio e paisagem cultural da humanidade em 17 de julho de 2016; e outras questões de preservação e utilização.
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